População não pode continuar no alvo da guerra do tráfico na Serra

Mortes ocorridas em duas distribuidoras de bebidas são mais um capítulo da escalada de violência que precisa urgentemente ser contida na cidade

Publicado em 27/10/2025 às 01h15
Ataque a tiros em distribuidora de bebidas no bairro Maringá, na Serra
Ataques a tiros em distribuidoras de bebidas provocaram três mortes na Serra. Crédito: Câmera de segurança/Reprodução

Na noite da última quarta-feira (22), Mislene Ferreira dos Santos, de 40 anos, saiu de casa para ir a uma distribuidora de bebidas no Bairro das Laranjeiras, na Serra. No estabelecimento, havia 15 clientes, que assistiam pela TV ao jogo entre Flamengo e Racing pela Copa Libertadores. Às 22h23, um veículo se aproximou do local. O ocupante do banco de trás abriu a porta do carro e começou a atirar a esmo contra o grupo. Atingida, Mislene não resistiu e morreu, deixando sete filhos órfãos. Outras quatro pessoas ficaram feridas. Uma delas, Wagner da Costa Jardim, de 36 anos, morreu dois dias depois

Essas três mortes são mais um capítulo da escalada de violência registrada na Serra recentemente. No ano, até setembro, de acordo com dados do painel de crimes do Observatório da Segurança Pública, o município acumula 74 homicídios, sendo que 39 deles ocorreram nos últimos três meses contabilizados (ainda não há dados consolidados de outubro). Números que assustam e demandam ações capazes de conter urgentemente essa onda de crimes.

O epicentro dessa violência no município tem sido Balneário de Carapebus. Desde o final de agosto, foram cinco mortos e oito pessoas feridas no bairro. Entre as vítimas está Alice Rodrigues, de 6 anos, que foi baleada depois que criminosos confundiram o carro da família dela com o veículo de rivais. Por trás desses crimes está uma disputa entre facções pelo domínio do tráfico de drogas na região, como apontou a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp). Uma guerra marcada por ataques e contra-ataques, com milhares de moradores apavorados em meio à troca de tiros.

Tanto no caso das distribuidoras quanto no assassinato de Alice, a Polícia agiu rápido, com a prisão de suspeitos de envolvimento nos ataques. Assim como a realização da Operação Carapebus, que teve dois presos e a apreensão de armas e drogas em Balneário de Carapebus, Praia de Carapebus e Lagoa de Carapebus. Houve a eficiência desejada, para tirar dos criminosos a sensação de que poderiam continuar agindo impunemente.

Como represália às ações policiais, que também se estenderam a outros bairros, bandidos provocaram incêndios a ônibus. Tática muito conhecida para afrontar o Estado e tentar promover o caos, mantendo a população refém do medo e destituída do seu direito de ir e vir. Tem-se, assim, uma legião de moradores sobressaltados. Pessoas que se veem obrigadas a sair às ruas correndo o risco de serem vítimas de um novo ataque, sem ter tempo sequer de se proteger.

Como aconteceu com uma dona de casa, de 28 anos, que havia acabado de buscar o filho mais velho, de 4 anos, na escola e carregava no colo o caçula, de 2 anos, quando foi surpreendida por tiros no meio da rua, disparados por criminosos que estavam em uma moto, em Belvedere, no último dia 3. Ela e o caçula foram atingidos, além de uma menina de 7 anos. Todos sobreviveram, mas o trauma dificilmente será superado. No domingo (26), outro episódio de violência acabou com a morte de um suspeito, em Residencial Centro da Serra. Um homem foi encontrado pela polícia apontando a arma contra um veículo Corsa, com três ocupantes dentro. Mesmo com ordem para que parasse a ação, ele teria começado a atirar e um dos PMs revidou com 13 tiros. Filipe Souza do Nascimento morreu quando era socorrido, dentro da ambulância.

Como foi dito aqui neste espaço, logo após a trágica morte da pequena Alice, no fim de agosto, nesse cenário de emboscadas e tiroteios, cabe às forças de segurança aumentarem a atuação na prevenção, usando recursos de inteligência para se antecipar aos ataques, de forma a evitar que aconteçam. A população não pode continuar no alvo de uma guerra da qual não consegue se defender. Somente com ações operacionais eficientes poderá ser possível interromper essa disputa territorial violenta envolvendo traficantes. Nesse fogo cruzado entre facções, cada vida inocente perdida é uma dor infindável para as famílias e também uma derrota para o Estado.

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