Publicado em 31 de agosto de 2020 às 19:35
A novela protagonizada por Jair Bolsonaro (sem partido) e o PSL, partido pelo qual o presidente da República se elegeu, pode estar prestes a ganhar um novo capítulo. Bolsonaro deixou a sigla em novembro do ano passado, afirmando que criaria uma legenda. O divórcio aconteceu após desavenças com o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar. Onze meses se passaram e agora, sem força para tirar o Aliança pelo Brasil do papel, o presidente voltou a dialogar com membros do antigo partido para reatar o namoro. >
Essa possível reconciliação foi recebida com alegria por bolsonaristas que permanecem no PSL, mas pode causar desconforto e enfraquecer pontes construídas pelo partido no Espírito Santo. O diretório estadual da legenda também passou por um racha após a saída do presidente e, desde então, tem buscado diálogo com partidos de centro-esquerda. >
Em âmbito nacional, duas grandes alas se formaram no PSL entre bolsonaristas e apoiadores de Bivar, que romperam com a família Bolsonaro. Em reunião com deputados do PSL, Bolsonaro afirmou que discutirá o eventual retorno ao partido somente após a eleição à presidência da Câmara dos Deputados, no início do ano que vem. Bivar, por meio de interlocutores, já mandou avisar: Bolsonaro até pode voltar, mas só se desistir de vez do Aliança pelo Brasil, como registrou o jornal "O Globo".>
Enquanto isso, em terras capixabas, Amarildo Lovato, liderava a sigla no momento do desembarque de Bolsonaro. Aliado do presidente, ele deixou clara sua fidelidade ao mandatário, mas foi substituído na presidência pelo deputado estadual Alexandre Quintino.>
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Atual vice-presidente estadual e presidente da Executiva municipal em Vila Velha, Lovato afirma que a decisão já está tomada por parte do presidente e do partido. Vai somar muito o retorno dele para o PSL. Ele é PSL de coração, a gente percebe que ele tem a ideologia que casa com o nosso partido, afirma.>
Apenas quatro meses se passaram entre a briga de Bolsonaro e Bivar e a saída de Lovato da presidência da sigla no Estado, determinada pelo presidente nacional. Ele garante, no entanto, que o diálogo entre Bivar e Bolsonaro já foi recuperado. >
Na ocasião, o próprio Amarildo informou aos correligionários da saída, por meio de uma mensagem. "Comunico a todos que não estou mais presidente do PSL17", iniciou o texto. Após acrescentar que Quintino seria o responsável pela cadeira, ele orienta os presidentes municipais da sigla a procurar Quintino para as definições eleitorais deste ano e se despede:"Peço desculpa a todos, mas infelizmente a vida é assim. Boa sorte a todos e contem sempre comigo." >
A troca teria sido motivada pelo interesse de Bivar em não dar legenda para pré-candidatos bolsonaristas, que poderiam trocar o partido pelo Aliança pelo Brasil após a criação da nova sigla. Ao que tudo indica, a preocupação continua. De acordo com a coluna Lauro Jardim, do O Globo, publicada neste domingo (30), Bivar teria enviado um recado para o presidente: a porta estaria aberta, desde que o mandatário desista, formalmente, da criação do novo partido.>
Diferentemente de seu antecessor, Quintino tem se aliado ao governador Renato Casagrande (PSB) e mantido diálogo e parceria com siglas de centro-esquerda como PSB e Cidadania.>
Lovato sustenta que, apesar das diferenças e da clara divisão, ambos convivem bem. Eu e Quintino vivemos em paz, só deixo claro para ele que sou Bolsonaro, defendo o projeto do Bolsonaro, aponta. Em ano eleitoral, em que o PSL está, inclusive, integrando chapas de partidos de centro-esquerda, foi preciso fazer acordos para desenhar as campanhas.>
Dentro do estadual o partido tem alas mais bolsonaristas e alguns municípios que o Quintino pediu pra colocar junto com o partido do governador. Alguns municípios vão caminhar com o PSB, em outros não vamos caminhar com Renato [Casagrande].>
A própria direita capixaba é marcada por rachas e desentendimentos. Antes mesmo de ser criado, o partido de Bolsonaro já sofria com desavenças entre os militantes. >
Devido à proximidade da campanha, membros do PSL e do PSB acreditam que as alianças não serão afetadas pelo suposto retorno de Bolsonaro. Para Lovato e outros pré-candidatos pelo PSL, a própria possibilidade já pode influenciar na hora de angariar votos. >
Quintino, responsável pelas candidaturas que vão caminhar com Renato, não quis comentar o assunto. Não dá pra trabalhar em cima de suposição, do que pode acontecer, vamos esperar acontecer primeiro. Não dá pra trabalhar em cima de hipótese, não, disse.>
Torino Marques (PSL), um dos dois deputados estaduais que continuam na sigla mas que não poupa críticas à gestão de Quintino e chegou a dizer que só estava no partido porque é impedido pela legislação de se desfiliar se diz feliz com a possibilidade por acreditar que ele nunca deveria ter saído e sua volta pode fortalecer a sigla. >
No início da legislatura, o partido tinha uma das maiores bancadas na Assembleia Legislativa. Ao longo dos desentendimentos, no entanto, Capitão Assumção (Patriota), bolsonarista de carteirinha, foi expulso da sigla em uma espécie de acordo e Danilo Bahiense (sem partido) se desfiliou com desavenças tanto com Lovato quanto com Quintino.>
As possíveis consequências desse retorno para os rumos do partido no Estado, para Torino, vão depender das conversas em Brasília. Não sei o que Bolsonaro está pedindo em troca para voltar. Com certeza ele vai pedir algo. Questionado se o presidente poderia exigir que o partido se afastasse de siglas de centro-esquerda, o deputado não hesitou em responder poderia ser, não só isso mas outras questões que ele poderia pedir. Realmente não sei como estão as conversas.>
As coligações criadas por Quintino podem surpreender, uma vez que, mesmo sem Bolsonaro, o PSL se considera uma sigla de direita. Grupos conservadores no Estado já fizeram, inclusive, campanhas para que candidatos aliados a Casagrande e partidos de esquerda não recebam votos. Do outro lado da moeda, o PSB tem se posicionado abertamente contra a gestão de Bolsonaro e, inclusive, se manifestou a favor impeachment do mandatário. >
Para Alberto Gavini, presidente estadual do PSB, a volta de Bolsonaro não é algo tão certo. Ele ressalta que a parceria no Estado foi construída por causa de Quintino, que conseguiu inclusive o apoio do partido socialista para candidatos do PSL no interior, e, por mais que o partido não tenha nada contra o PSL, é contra a política adotada pelo presidente. A maior parte das coisas que ele faz contrapõe o que o PSB acredita, pontua.>
Talvez por isso ele prefira sustentar que isso não vai acontecer, ele não vai voltar para o PSL. Mas, se ele voltar, vai ser muito ruim para o PSB, diz Gavini, após um longo suspiro. >
Por enquanto, as pontes construídas permanecem fortes e, provavelmente, vão sobreviver ao período eleitoral deste ano. Para essa eleição não tem como mudar muita coisa, mas temos até o dia 26 de setembro para fazer as alterações necessárias, finaliza.>
Outro partido que tem se aproximado do PSL de Quintino é o Cidadania. Antigo PPS Partido Popular Socialista a sigla teve origem na esquerda clássica, derivando do Partido Comunista Brasileiro (PCB). >
Na Capital, o pré-candidato à prefeitura e presidente estadual do Cidadania, Fabrício Gandini, anunciou como vice na chapa o vereador Nathan Medeiros, que era do PSB e mudou para o PSL. A coligação entre Cidadania e PSL foi arquitetada entre os deputados estaduais Gandini e Quintino, o que mostra que o diálogo entre as siglas, aparentemente, divergentes tem dado resultado.>
A reportagem procurou Gandini e Nathan Medeiros para comentar a provável volta de Bolsonaro, mas até a publicação desta reportagem não teve respostas.>
Bolsonaro já passou por oito partidos ao longo de sua vida pública entre eles o PP e o PTB, bases do Centrão. Ele costuma ficar, em média, 4 anos em cada sigla. Além de Bolsonaro, dois de seus filhos também deixaram o PSL além de nomes conhecidos da política capixaba, como Carlos Manato (sem partido). >
Manato chegou a trabalhar no recolhimento de assinaturas para a criação do Aliança pelo Brasil. Sua esposa, Soraya Manato, é deputada federal pela sigla. Assim como Eduardo Bolsonaro, Soraya não poderia deixar o PSL devido a uma vedação presente na legislação, que não autoriza a troca de partidos durante o mandato sem justa causa.>
O vereador do Rio Carlos Bolsonaro, que estava no PSC, aproveitou a janela partidária para vereadores este ano e migrou para o Republicanos. O senador Flávio Bolsonaro que, como ocupante de cargo majoritário, pode mudar de partido a qualquer momento, deixou o PSL e também foi para o Republicanos.>
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