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Antes de ser criado, novo partido de Bolsonaro já tem racha no ES

Antes de ser criado, novo partido de Bolsonaro já tem racha no ES

Há uma briga interna declarada entre um dos movimentos que coletam assinaturas para o Aliança pelo Brasil e integrantes do PSL. Cenário também é visto em outros Estados e executiva nacional age para apaziguar ânimos

Publicado em 3 de fevereiro de 2020 às 14:54

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Políticos do PSL realizam evento para coleta de assinaturas para o Aliança pelo Brasil em Vitória. (Reprodução)

Ainda coletando assinaturas para tentar se viabilizar para as eleições deste ano, o Aliança pelo Brasil, partido idealizado pelo presidente Jair Bolsonaro, não saiu do papel, mas já enfrenta disputas internas nos Estados. No Espírito Santo, há um conflito declarado entre o Movimento Conservador, que tem como um de seus membros o policial federal Gilvan Costa, e políticos aliados do presidente e integrantes da cúpula do PSL, como o ex-deputado federal Carlos Manato e o deputado estadual Capitão Assumção, além do subtenente Assis, que concorreu ao Senado pelo PSL em 2018. 

Entre os mutirões para a coleta de assinaturas, existe um entendimento entre os desafetos para que um não compareça em eventos realizados por outro grupo. Gilvan, que faz parte de um grupo mais ligado ideologicamente ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), diz que começou a se distanciar da cúpula do PSL no Estado quando viu membros do partido se autointitulando representantes do Aliança.

"Somos rachados mesmo com a cúpula do PSL, porque a gente entende que eles não representam o movimento conservador. Eles fizeram um evento em Jardim Camburi, nós não fomos, assim como nos nove que fizemos, eles também não são bem-vindos. Para nós, Manato toma atitudes da velha política. Fui do PSL e posso comprovar. Ele não selecionou os candidatos a prefeito e colocou pessoas com viés ideológico da esquerda no partido. Isso me levou a romper com o PSL", alegou Gilvan, sem citar nomes.

Manato era presidente do partido e, nesta segunda-feira (3), afirmou que deixou o cargo. Permanece, no entanto, filiado ao PSL até que o Aliança saia do papel. Segundo ele, o desentendimento com Gilvan é antigo, desde outubro de 2019. Na ocasião, quando Gilvan ainda era filiado ao PSL, o partido fez uma reunião para aprovar as possíveis filiações dos vereadores de Vitória Dalton Neves (PTB) e Sandro Parrini (PDT) à legenda. Por 9 votos a 1, foi aprovada a entrada dos dois no partido. Os parlamentares, no entanto, não fizeram a troca de sigla até o momento. 

Reunião do PSL em 2019, que aprovou a entrada de Dalton Neves e Sandro Parrini no partido. (Reprodução)

"O Gilvan queria ser candidato a prefeito de Vitória e nós não concordamos, achamos que o Capitão Assumção teve mais votos e deveria ser nosso candidato. A partir daí, eles [Gilvan e aliados] começaram a nos criticar. Quando fomos conversar sobre a aproximação do Dalton e do Parrini, ele foi contra, disse que o Parrini era de esquerda, por ter se filiado ao PDT. Só que Gilvan não participou da reunião e foi vencido. Eles são, sim, meus desafetos, o que eu posso fazer? Mas com os outros grupos de rua eu não tenho problema nenhum", explicou Manato.

APAZIGUAMENTO

Entre outros voluntários que fazem parte da organização do Aliança pelo Brasil no Espírito Santo, a tentativa é de isolar a briga entre os dois grupos. Segundo o ativista de direita Dárcio Bracarense, que tem ajudado a organizar a coleta de assinaturas para o novo partido, a disputa interna em agremiações é comum na política e não acha que isso possa prejudicar o Aliança.

"A disputa por espaços existe em qualquer que seja a matiz ideológica. No oposto, no PT, eles têm as correntes que estão lá em permanente conflito. Na minha análise, não acho que isso seja prejudicial e nem que seja uma novidade. Não é novidade você ter pessoas conflitando para disputar espaço dentro de um grupo partidário. É normal isso. Para o Aliança, o que importa é que eles estejam alinhados com o estatuto", disse.

Membros do Movimento Conservador do Espírito Santo fazem mutirão para coleta de assinaturas para novo partido de Bolsonaro. (Reprodução)

Ao conversar com pessoas que têm participado dos mutirões do Aliança pelo Brasil, várias delas disseram à reportagem de A Gazeta que ninguém está autorizado a se colocar como liderança do partido no Estado. "Tem surgido muitos políticos tentando se beneficiar politicamente do movimento", disse uma delas sob anonimato.

O organizador do evento para coleta de assinaturas do Aliança pelo Brasil no Espírito Santo, Idalécio Carone, ameniza conflitos dentro do grupo. O encontro foi convocado pela executiva nacional em uma agenda em que fundadores do novo partido vão passar em 25 capitais do país. No Estado, o evento estava previsto para o dia 14, mas foi adiado para o dia 29.

Idalécio foi procurado pela própria executiva nacional para ser a ponte entre as lideranças nacionais e os voluntários do Estado. "O partido está aberto para todo mundo. Agora, o que é PSL é PSL, o Aliança é o Aliança. São duas coisas diferentes. Quem quiser passar para o Aliança será muito bem-vindo. Não tem atrito”, afirmou.

LIDERANÇAS SÓ DEPOIS DE REGISTRADO

A fim de amenizar as disputas locais, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem orientado sua advogada, Karina Kufa, já indicada como a futura tesoureira do Aliança, a não apontar lideranças nos Estados. Pelo Twitter, ela tem tentado apaziguar os ânimos dos futuros correligionários.

Políticos do PSL realizam evento para coleta de assinaturas para o Aliança pelo Brasil em Vitória. (Reprodução)

"Esqueçam disputas de poder. É hora de trabalho! Não existem coordenadores regionais, presidentes de diretórios ou comissões provisórias estaduais ou municipais", publicou em seus perfis nas redes sociais.

Responsável pela comunicação na executiva nacional do partido, Sérgio Lima destaca que o foco agora deve ser a criação do Aliança. "Não teremos definição de candidatura, de lideranças ou de diretórios locais enquanto o partido não for criado. Não tem racha. Como é um novo partido, todo mundo quer aproveitar a oportunidade. Nossa orientação é que todos deixem interesses e relações de lado e foquem no novo partido. Não adianta brigar por algo que não existe."

RACHAS EM OUTROS ESTADOS

Em São Paulo, dissidentes do PSL como os deputados federais Luiz Phillipe de Orleans e Bragança, Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e Guiga Peixoto chegaram a se articular pelo comando do Aliança, mas a tendência é de que o presidente escolha o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (MDB), para controlar o diretório estadual, quando o novo partido for criado.

Parlamentares do PSL na Câmara tem acertado entre si a coordenação do Aliança em seus Estados, como a deputada Bia Kicis e o deputado Bibo Nunes, no Distrito Federal e no Rio Grande do Sul, respectivamente. Já em Juiz de Fora, há 13 lideranças que estão apoiando o presidente, mas elas disseram não aceitar serem subordinadas, segundo o jornal O Globo, à coordenadora da coleta de assinaturas na região, Roberta Lopes Alves. 

Há disputa também em Sergipe, entre o ex-secretário do PSL Peter Costa e a voluntária Lícia Mello, que está credenciada para levar as assinaturas à Justiça Eleitoral.

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