Publicado em 19 de setembro de 2020 às 10:39
Mesmo com o cenário da pandemia de Covid-19, que agrava a arrecadação dos municípios e deixa a realidade dos próximos gestores mais difícil de enfrentar, o número de candidatos para disputar o posto de chefe do Executivo municipal nas sete cidades que integram a Região Metropolitana da Grande Vitória é 120% maior que em 2016. >
Nas últimas eleições, 29 candidatos disputaram cadeiras de prefeito na região. Este ano, de acordo com levantamento feito pela reportagem com base nas atas das convenções partidárias, o número subiu para 64, somando Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra, Guarapari, Viana e Fundão.>
A quantidade de nomes ainda pode cair, já que o prazo para o pedido de registro das candidaturas na Justiça Eleitoral vai até o dia 26 de setembro, mas a explosão de candidaturas confirma o que especialistas previam: o fim das coligações para eleição de vereadores força os partidos a manter candidaturas a prefeito para "puxar voto" para vereadores.>
Cariacica é a que mais confirmou nomes e, também, a que teve maior crescimento percentual de candidaturas. Em 2016, apenas quatro candidatos chegaram às urnas enquanto neste ano as convenções partidárias já lançaram 14 nomes na disputa. É um salto de 250%. Fundão é o único município que não registrou o fenômeno, confirmando, até o momento, apenas três candidatos.>
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Vitória também teve um crescimento considerável, passando de cinco para 12 candidaturas, e a Serra, de quatro para 9. Vila Velha e Guarapari registram, até agora, o mesmo número de candidatos nos dois momentos, seis em 2016 e 10 após as convenções deste ano. Viana, que teve apenas dois candidatos em 2016, já tem seis nomes confirmados. Não foram consideradas, para o levantamento, candidaturas que foram indeferidas pela Justiça Eleitoral na eleição passada.>
Para o cientista político João Gualberto Vasconcellos, Cariacica é o exemplo perfeito de um dos fatores que levaram ao salto de candidaturas: a ausência de lideranças fortes. "Temos um presidente da República que não faz parte de nenhum partido, um governador que não está atuando nas eleições e a ausência de candidatura de lideranças fortes", aponta. Se os nomes mais tradicionais estivessem na disputa, opina João Gualberto, fariam uma articulação para colocar lideranças menos influentes como vice ou candidatos a vereador, o que poderia reduzir o número de candidaturas.>
Mesmo com esse fator, contudo, a questão principal, aos olhos do especialista, é o fim das coligações. "Tenho a impressão que o aumento deve-se em primeiro lugar ao fim das coligações. Tem uma engenharia do processo eleitoral que força candidatos a vereador a precisarem de um candidato a prefeito. Os vereadores não estão preocupados em eleger o prefeito, estão preocupados com ter um domínio sobre o fundo partidário, sobre o tempo de propaganda", assinala.>
Antes da regra, criada pela mirreforma eleitoral de 2017, os partidos podiam buscar alianças para criar chapas de vereador. Ou seja, uma chapa poderia conter candidatos a vereador de diferentes partidos e um candidato a prefeito de peso, com tempo de propaganda extenso e possibilidade de dividir o palanque para tentar eleger o máximo de vereadores possível. Agora, pela regra, todos os candidatos a vereador precisam ser da mesma sigla, o que faz com que os partidos queiram manter seus candidatos a prefeito para trazer essa visibilidade.>
Outro fator que contribui, mas de forma mais lateral, são as regras de divisão do fundo partidário. O advogado eleitoral Ludgero Liberato explica que dois dos fatores que são levados em consideração para a distribuição da verba entre os partidos são o número de votos e a quantidade de cadeiras que as siglas ocupam no Congresso. Com as eleições de 2022 já no horizonte, candidatos interessados em concorrer a vagas em Brasília começam a se movimentar.>
"Não é tão relevante quanto o fim das coligações, mas é um momento de aparecer e começar a ter o nome ventilado. PT e PSL, por exemplo, são os dois partidos com mais dinheiro de fundo partidário, porque formaram as maiores bancadas em 2016", pontua. >
A verba pública é distribuída de acordo com critérios internos das siglas, ou seja, nem todos os Estados recebem o mesmo valor. "Acaba que o Espírito Santo recebe uma fatia muito pequena do dinheiro", assinala Liberato. >
Além das verbas, o tempo de propaganda eleitoral gratuita em TV e no rádio também é distribuído pelos mesmos critérios. Muitas siglas ficam de fora dos dois benefícios por não conseguirem eleger deputados federais, por isso, aponta o especialista, "nunca foi tão importante" para os partidos fortalecerem suas siglas visando eleger candidatos em 2022, mesmo que não consigam eleger um prefeito agora.>
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