Publicado em 12 de novembro de 2020 às 10:47
A urna eletrônica tem uma tecla com a palavra "branco" e ainda permite ao eleitor, que quer anular o voto, a digitação e a confirmação de um número aleatório que não corresponde ao de nenhum candidato. >
Correntes de desinformação, no entanto, ressuscitam boatos bem antigos e espalham pelas redes sociais e aplicativos de mensagens que os votos em branco vão para o mais votado e que os nulos, se em quantidade significativa, invalidam a eleição. Mas não é nada disso. >
Os votos brancos e nulos simplesmente não são contabilizados. Não fazem diferença na hora de definir quem ganha ou perde uma eleição. >
Além das mentiras, que hoje chegam mais longe e, muitas vezes, são acompanhadas de teorias da conspiração, resquícios de quando o voto era impresso reforçam os "mitos" em torno da história.>
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De acordo com especialistas em Ciência Política e Direito eleitoral consultados pela reportagem, há ainda um caráter simbólico para quem acredita que, ao descartar o voto, está fazendo algum tipo de protesto. >
Para os analistas, esse instrumento não é eficiente. Ainda assim, nos últimos pleitos municipais, a taxa de eleitores que escolheram essas modalidades de voto subiu, em âmbito nacional, de 9,1%, em 2012, para 14,3%, em 2016. >
A assessora técnica da Corregedoria Regional Eleitoral, Jaqueline Magalhães, explica que as modalidades de voto têm características diferentes, mas a mesma finalidade: a omissão de escolha. >
Jaqueline Magalhães conta que o voto em branco é escolhido quando o cidadão está de acordo com o resultado das eleições, seja ele qual for, mas não quer se posicionar. No período em que a votação era realizada com uso de cédula de papel, o eleitor a depositava sem qualquer manifestação, ou seja, sem marcar qualquer candidato.>
Já quando o eleitor digita números que não correspondem a nenhum candidato que participa da disputa, o voto é anulado. Esse ato é visto como forma de contestar o pleito, como se o votante não estivesse de acordo com nenhuma das opções. Em épocas de voto de papel, os eleitores insatisfeitos escreviam palavras de ordem, nomes de animais e até desenhavam figuras, demonstrando repúdio aos competidores. >
Na visão do advogado e ex-juiz eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES) Danilo de Araújo Carneiro, o voto nulo é como se você estivesse gritando sozinho no banheiro, uma vez que esses votos são descartados. >
Para o advogado, essa forma de protestar tira o indivíduo da condição de agente político e o coloca na posição de mero passageiro. Carneiro relata que as redes sociais são locais propícios para se fazer um protesto político e demonstrar sua indignação desde que dentro dos parâmetros legais, e que isso pode surtir mais efeito que o descarte do voto.>
Danilo Araújo Carneiro
Advogado EleitoralNão. No momento da apuração, são considerados apenas os votos válidos, ou seja, excluindo os brancos e os nulos. Os analistas comentam que muitas pessoas que votam em branco estão desinformadas e acham que o voto vai para o candidato que lidera a corrida. Entretanto, isso não acontece.>
Esses votos servem para análises de dados em estudos sobre eleições, mas não fazem diferença dentro do cenário eleitoral inserido. Não vão para nenhum candidato.>
Essa história começou porque na época do voto de papel, quando a cédula não era preenchida, alguém poderia, no momento da contagem, preencher com o número de outro candidato. Um tipo de fraude eleitoral.>
Nos últimos pleitos, campanhas em redes sociais espalharam informações falsas que deturparam o artigo 224 do Código Eleitoral. As postagens afirmavam que se em uma eleição mais de 50% dos votos fossem nulos, o pleito seria cancelado. >
O advogado eleitoral Danilo Araújo Carneiro explica que as eleições podem ser anuladas em alguns casos: Só se anula eleição por abuso do poder econômico, abuso de poder político e compra de votos. Esses crimes são fiscalizados pelo Ministério Público Federal, pelo Tribunal Regional Eleitoral e pelo Tribunal Superior Eleitoral, com apoio da Polícia Federal. Se o montante desses crimes chegar a mais da metade dos votos válidos, teremos uma eleição cancelada, explicita.>
A mestra em ciências políticas Raysa Dantas afirma que o voto é a ferramenta que garante à população o exercício de sua cidadania. A pesquisadora explica que ele é fundamental para manutenção da democracia e que para muitos significa a expressão máxima de liberdade dentro do regime democrático. >
Além disso, Raysa considera o ato um poder emanado do povo e que precisa ser pensado com atenção. Ao votar, o cidadão autoriza que os candidatos (representantes) tomem decisões políticas em seu lugar, aponta. >
O medo do coronavírus pode ser um dificultador para presença dos cidadãos nas zonas eleitorais. No entanto, a expectativa do Tribunal Regional Eleitoral (TRT-ES), depois de ser surpreendido pelo alto número de mesários voluntários inscritos, é de que a população marque presença nas eleições. >
*Israel Zuqui é aluno do 23º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta e foi supervisionado pela editora Samanta Nogueira.>
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