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Itapemirim coleciona suspeitas de fraudes, calotes e falências; entenda

Itapemirim coleciona suspeitas de fraudes, calotes e falências; entenda

Grupo, cujo principal negócio era no ramo de transportes rodoviários, teve a falência decretada, em setembro de 2022; agora é a vez do braço aéreo da companhia

Publicado em 18 de julho de 2023 às 16:06

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
Empresário desiste de comprar aérea do grupo Itapemirim
ITA deixou mais de 100 clientes no prejuízo, em dezembro de 2021, ao parar de operar. (Grupo Itapemirim/Divulgação)

Um ano e meio após a paralisação das atividades da Itapemirim Transportes Aéreos (ITA), a companhia aérea do Grupo Itapemirim teve a falência decretada pela Justiça de São Paulo. A empresa, que deixou mais de 100 mil clientes no prejuízo em dezembro de 2021, mal chegou a operar por seis meses antes da suspensão dos voos.

Durante o curto período de atuação, acumulou críticas por causa de cancelamentos de voos — antes mesmo da primeira decolagem —, atrasos de salários e do não pagamento das dívidas com os credores do processo de recuperação judicial da Viação Itapemirim.

Em meio à confusão, o próprio Grupo Itapemirim, cujo principal negócio era no ramo de transportes rodoviários, teve a falência decretada, em setembro de 2022. As dívidas tributárias da empresa somavam, à época, R$ 2,8 bilhões. Os responsáveis pelo negócio tentaram recorrer da decisão, sem sucesso.

Itapemirim coleciona suspeitas de fraudes, calotes e falências; entenda

As controvérsias envolvendo as atividades da Itapemirim nos últimos anos são diversas, e até o dono do negócio, Sidnei Piva de Jesus, é investigado pelo Ministério Público por suspeita de desvio de recursos da Itapemirim para lançar a empresa aérea.

O Grupo Itapemirim foi procurado, via e-mail, mas não houve retorno até a conclusão desta reportagem. Há vários meses, não há qualquer site oficial da companhia.

Confira a seguir as principais polêmicas:

EMPRESA QUEBRADA

Considerada, então, uma das maiores empresas de transporte rodoviário do país, a Viação Itapemirim entrou em recuperação judicial em março de 2016, junto com outras empresas que pertenciam à família de Camilo Cola.

Pouco depois, o grupo foi vendido para Camila Valdívia e Sidnei Piva de Jesus, empresários de São Paulo. Cerca de nove meses após o negócio, a família Cola afirmou ter sofrido um “golpe”, alegando que os empresários que compraram a empresa não honraram com o acordo. A família tenta, desde então, anular o negócio.

COMPANHIA AÉREA

No início de 2020, a gestão do Grupo Itapemirim falou pela primeira vez sobre criar uma companhia aérea, que, segundo declarações do dono, Sidnei Piva, teria conseguido um aporte de R$ 2 bilhões de um fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos para financiar o projeto, com foco na aviação regional.

Não havia informações sobre o fundo, e a criação da aérea em meio ao processo de recuperação judicial foi alvo de questionamentos diversos. Além de dívidas milionárias com credores, o grupo acumulava mais de R$ 2 bilhões em dívidas tributárias. Para quitar parte dos débitos, bens da empresa foram leiloados.

Mesmo com a pandemia, que reduziu a demanda por voos e elevou o preço dos combustíveis, a criação da ITA foi mantida.

20/10/2020 - Sidnei Piva, presidente do grupo Itapemirim, que está no processo de recuperação judicial, segurando miniatura de avião da ITA
Sidnei Piva, dono do grupo Itapemirim, segurando miniatura de avião da ITA. (Werther Santana/Agência Estado)

ROTAS ALTERADAS E VOOS CANCELADOS

A ideia era que houvesse um voo inaugural para Vitória, mas a ITA nunca chegou ao Espírito Santo, direcionando seu foco a terminais com maior fluxo de passageiros.

Ainda assim, na semana anterior a sua estreia, no final de junho de 2021, a ITA já era alvo de diversas reclamações dos consumidores. Passagens para voos, que já haviam sido vendidas, foram canceladas sem explicações ou remarcadas sem aviso.

Em comunicado, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) explicou que havia um histórico da empresa de tentar vender mais passagens do que o número de assentos disponíveis nos aviões.

SALÁRIOS E BENEFÍCIOS ATRASADOS

Além dos passageiros, a ITA também enfrentou descontentamento por parte de seus funcionários durante o breve período em que esteve em atividade. Eles tinham seus salários e benefícios, como vale-refeição e transporte, em atraso com frequência.

O plano de saúde foi subitamente suspenso, e até mecânicos estariam trabalhando sem equipamentos de proteção adequados, segundo o sindicato da categoria. Havia ainda queixas a respeito das verbas rescisórias que não estavam sendo pagas a quem era demitido.

EMPRESA NA EUROPA

Em meio à crise, o dono da empresa, Sidnei Piva de Jesus, expandiu a área de seus negócios e abriu uma empresa offshore no Reino Unido, a SS Space Capital Group UK LTDA. A informação foi divulgada pelo site Congresso em Foco e confirmada por A Gazeta.

O relatório do site aponta que a companhia, com sede em Londres, na Inglaterra, tinha como proposta atuar como uma holding de serviços financeiros e fundos de investimentos. A firma de Piva tinha um capital de 785 milhões de libras, aproximadamente R$ 6 bilhões.

SUSPENSÃO DAS ATIVIDADES

Em 17 de dezembro de 2021, o Grupo Itapemirim anunciou a suspendeu das operações da companhia aérea ITA, seis meses após o primeiro voo. Segundo comunicado da empresa à imprensa, a medida era temporária e foi tomada devido à necessidade de "ajustes operacionais".

Entretanto, a empresa passava por crise antes mesmo de sua criação, e os voos nunca foram retomados.

DONO RETIROU R$ 1 MILHÃO DO CAIXA ANTES DE SUSPENDER VOOS

De acordo com informações divulgadas na coluna Capital, do jornal O Globo, no mesmo dia em que a suspensão das operações da ITA foi anunciada, deixando no prejuízo milhares de passageiros que tinham passagens compradas para voar na alta temporada, Piva retirou quase R$ 1 milhão do caixa do grupo Itapemirim para a companhia aérea. A Polícia Federal passou a investigar o caso.

Área em que empresa que adquiriu a ITA fica localizada em Brasília
Empresa que tentou adquirir a ITA tinha sede em espaço coworking em Brasília. (Google Maps/Reprodução)

TENTATIVA DE VENDA DA AÉREA

Em abril de 2022, quatro meses depois da suspensão dos voos, a venda da ITA para a Baufaker Consulting, de Brasília foi anunciada. A compradora tinha sede em um espaço coworking, serviço de compartilhamento de escritórios, conforme revelou A Gazeta. O negócio foi questionado pela Justiça, que exigiu a comprovação do pagamento. Menos de um mês após o anúncio, o comprador desistiu do negócio avaliado em R$ 180 milhões.

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