Repórter de Política / amorais@redegazeta.com.br
Publicado em 26 de fevereiro de 2021 às 20:36
- Atualizado há 4 anos
No dia em que o número de mortos pelo coronavírus no Brasil chegou a 250 mil, recorde batido um ano após a confirmação do primeiro caso da doença no país, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) utilizou sua live semanal para abordar, sem provas ou evidências científicas, "efeitos colaterais" do uso da máscara de proteção contra o vírus, entre eles, "irritabilidade, dificuldade de concentração e desânimo".
Esta não foi a primeira vez que o presidente criticou medidas sanitárias, como o uso da máscara. Durante todo o período da pandemia instalada, inevitavelmente marcado por um cenário de crise na saúde e na economia, Bolsonaro manteve a defesa de medicamentos como tratamento precoce que não têm eficácia comprovada, e criticou o distanciamento social como forma de evitar o contágio. As frases foram ditas em suas lives pelas redes sociais, em eventos e entrevistas.
A quantidade de mortos equivale a queda de 500 aviões ou três estádios do Maracanã lotados e, um ano depois, o pesadelo da pandemia parece distante de chegar ao fim: novas variantes da doença aceleram o contágio e em 12 estados a ocupação de leitos passa dos 80%, pior índice desde o início da pandemia segundo a Fiocruz.
Durante os primeiros meses da pandemia, Bolsonaro minimizou a doença, chamou de "gripezinha", indicou que seria uma "pequena crise" e, mesmo quando testou positivo para a doença, em julho, tirou a máscara para dar entrevista, desrespeitando as orientações das autoridades sanitárias. O mandatário também não poupou críticas à Coronavac, vacina produzida com insumos chineses e, indo na contramão de muitos líderes mundiais, cravou que não tomará a vacina.
Agora, um ano depois, o presidente mantém suas críticas e defende uma "volta à normalidade", sustentando que medidas restritivas vão contra "o que o povo quer". Relembre algumas frases que Bolsonaro falou ao longo do ano marcado pela guerra de narrativas que travou com autoridades sanitárias e governadores.
No mês de março, início da pandemia no Brasil, Bolsonaro foi a manifestações e criticou medidas de isolamento defendidas por governadores, sendo contra o fechamento de escolas. No dia 2 de abril, ironizou a ação dos governadores em uma conversa com pastores em frente ao Palácio Alvorada.
Jair Bolsonaro em 02 de abril de 2020
Presidente da RepúblicaAinda no mesmo mês, durante uma celebração da Páscoa com líderes religiosos, o presidente afirmou que o vírus "parecia estar indo embora" e que o desemprego seria a outra preocupação.
Jair Bolsoraro em 12 de abril de 2020
Presidente da RepúblicaNo final de abril, o país bateu o recorde de 5 mil mortos e ultrapassou a estatística da China. O recorte batido nessa semana é 50 vezes maior. Na ocasião, o presidente se excedeu ao ser questionado sobre o número alto e retrucou com a frase "e daí?". O mandatário ainda disse que não poderia fazer "milagres".
Jair Bolsonaro em 28 de abril de 2020
Presidente da RepúblicaQuando o país alcançou a triste marca de 24 mil mortos, em maio, o presidente se mostrou preocupado com os reflexos da pandemia na economia. Mesmo após três meses de pedidos incessantes por parte das autoridades sanitárias para que o distanciamento social fosse praticado como forma de evitar o contágio, Bolsonaro criticou a medida.
Jair Bolsonaro em 27 de maio de 2020
Presidente da RepúblicaTrês meses depois, as críticas continuavam. Após causar aglomeração em visita a Foz do Iguaçu, Bolsonaro disse, em transmissão ao vivo, que gosta de estar em meio ao povo e que ninguém poderia "dar palpite."
Jair Bolsonaro em 27 de agosto de 2020
Presidente da RepúblicaEm setembro, sete meses após o início da pandemia, algumas empresas já haviam noticiado avanços na produção da vacina contra o coronavírus. A novidade levantou um debate no país, depois que o próprio presidente afirmou que não tomaria vacina e que a aplicação não deveria ser obrigatória.
Jair Bolsonaro em 01 de setembro de 2020
Presidente da RepúblicaBolsonaro criticou diversas vezes a Coronavac, vacina produzida pelo Instituto Butatã com insumos chineses. O presidente chamou a vacina de "vacina do Doria", em referência ao governador de São Paulo, e chegou a sugerir que o imunizante poderia causar "morte, invalidez e anomalia", o que não é verdade. Bolsonaro ainda desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que havia anunciado a compra da vacina. Em rede social, respondeu para apoiadores que não iria comprar. "O presidente sou eu", disse.
Jair Bolsonaro em 21 de outubro de 2020
Presidente da RepúblicaNo dia 15 de dezembro, em meio a negociações de compra de vacinas, tanto a Coronavac quanto imunizantes de outras empresas, o presidente voltou a dizer que não iria se imunizar e que o risco seria "problema dele". Autoridades sanitárias alertam, no entanto, que o risco de não se vacinar, no entanto, não se restringe à vida de uma pessoa. Se uma porcentagem grande da sociedade não se imunizar, o vírus continuará circulando e se desenvolvendo em novas variantes.
Jair Bolsonaro em 15 de dezembro 2020
Presidente da RepúblicaEspecialistas também apontam que as falas do presidente podem desestimular a população. Quatro dias depois, no dia 19, enquanto outros países começavam a vacinar, o presidente disse que a pressa para a aprovação dos imunizantes pela Anvisa "não se justifica". O mandatário também voltou a dizer que a pandemia estaria "chegando ao fim".
Jair Bolsonaro em 19 de dezembro de 2020
Presidente da RepúblicaNo último dia de 2020, Bolsonaro voltou a atacar o uso da máscara como forma de evitar o contágio por coronavírus. Em live em suas redes sociais, o chefe do Executivo disse que o uso do equipamento era "ficção" e que a eficácia das máscaras de pano teriam eficácia "praticamente zero". O que vai contra o resultado de pesquisas que apontam que a máscara caseira pode repelir até 84% das gotículas de saliva.
Jair Bolsonaro em 31 de dezembro de 2020
Presidente da RepúblicaA crítica ao equipamento de proteção continuou na semana em que o país registrou 250 mil mortos e um ano desde o primeiro caso de Covid-19. Também em uma live, a única menção que o mandatário fez à pandemia foi para questionar a eficácia do uso de máscaras e distanciamento. Citando um suposto estudo alemão que teria apontado para "efeitos colaterais" do uso de máscara em crianças, o presidente evitou entrar em detalhes mas disse que tem "sua opinião" sobre o tema.
Jair Bolsonaro em 25 de fevereiro de 2021
Presidente da RepúblicaAinda nesta sexta-feira, em um evento sobre obras rodoviárias em Tianguá (CE), Bolsonaro criticou a medida mais restritiva por parte de governadores. Ibaneis Rocha (MDB), governador do Distrito Federal, anunciou nesta sexta o fechamento de atividades não essenciais.
Alfinetando os chefes de Executivos estaduais, o presidente afirmou que "o povo quer trabalhar" e que "ninguém aguenta mais ficar em casa". As falas vem no momento em que 12 estados e o Distrito Federal trabalham com a taxa de ocupação de leitos acima dos 80%, muitos a beira de um colapso.
Jair Bolsonaro em 26 de fevereiro de 2021
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