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Novo recorde de mortes por Covid: o que Bolsonaro disse sobre a pandemia em um ano

Novo recorde de mortes por Covid: o que Bolsonaro disse sobre a pandemia em um ano

Presidente da República manteve discurso de preocupação com a economia enquanto criticou o uso de máscara, o distanciamento social e a vacina "do Doria"

Publicado em 26 de fevereiro de 2021 às 20:36- Atualizado há 3 anos

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Jair Bolsonaro retira máscara de proteção contra a Covid-19
Jair Bolsonaro retira máscara de proteção contra a Covid-19. (Andressa Anholete/Getty Images)

No dia em que o número de mortos pelo coronavírus no Brasil chegou a 250 mil, recorde batido um ano após a confirmação do primeiro caso da doença no país, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) utilizou sua live semanal para abordar, sem provas ou evidências científicas, "efeitos colaterais" do uso da máscara de proteção contra o vírus, entre eles, "irritabilidade, dificuldade de concentração e desânimo".

Esta não foi a primeira vez que o presidente criticou medidas sanitárias, como o uso da máscara. Durante todo o período da pandemia instalada, inevitavelmente marcado por um cenário de crise na saúde e na economia, Bolsonaro manteve a defesa de medicamentos como tratamento precoce que não têm eficácia comprovada, e criticou o distanciamento social como forma de evitar o contágio. As frases foram ditas em suas lives pelas redes sociais, em eventos e entrevistas.

A quantidade de mortos equivale a queda de 500 aviões ou três estádios do Maracanã lotados e, um ano depois, o pesadelo da pandemia parece distante de chegar ao fim: novas variantes da doença aceleram o contágio e em 12 estados a ocupação de leitos passa dos 80%, pior índice desde o início da pandemia segundo a Fiocruz.

Durante os primeiros meses da pandemia, Bolsonaro minimizou a doença, chamou de "gripezinha", indicou que seria uma "pequena crise" e, mesmo quando testou positivo para a doença, em julho, tirou a máscara para dar entrevista, desrespeitando as orientações das autoridades sanitárias. O mandatário também não poupou críticas à Coronavac, vacina produzida com insumos chineses e, indo na contramão de muitos líderes mundiais, cravou que não tomará a vacina.

Agora, um ano depois, o presidente mantém suas críticas e defende uma "volta à normalidade", sustentando que medidas restritivas vão contra "o que o povo quer". Relembre algumas frases que Bolsonaro falou ao longo do ano marcado pela guerra de narrativas que travou com autoridades sanitárias e governadores.

O QUE DISSE BOLSONARO

No mês de março, início da pandemia no Brasil, Bolsonaro foi a manifestações e criticou medidas de isolamento defendidas por governadores, sendo contra o fechamento de escolas. No dia 2 de abril, ironizou  a ação dos governadores em uma conversa com pastores em frente ao Palácio Alvorada.

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Duvido que um governador desses, Doria (João Doria, de São Paulo), Moisés (Carlos Moisés, de Santa Catarina) vá no meio do povo. Tá com medinho de pegar o vírus?

Jair Bolsonaro em 02 de abril de 2020
Presidente da República
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Ainda no mesmo mês, durante uma celebração da Páscoa com líderes religiosos, o presidente afirmou que o vírus "parecia estar indo embora" e que o desemprego seria a outra preocupação.

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Temos dois problemas pela frente, o vírus e o desemprego. Quarenta dias depois parece que está começando a ir embora a questão do vírus, mas está chegando e batendo forte o desemprego

Jair Bolsoraro em 12 de abril de 2020
Presidente da República
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APÓS COBRANÇAS

No final de abril, o país bateu o recorde de 5 mil mortos e ultrapassou a estatística da China. O recorte batido nessa semana é 50 vezes maior. Na ocasião, o presidente se excedeu ao ser questionado sobre o número alto e retrucou com a frase "e daí?". O mandatário ainda disse que não poderia fazer "milagres".

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E daí? Quer que eu faça o que? Sou Messias, mas não faço milagres

Jair Bolsonaro em 28 de abril de 2020
Presidente da República
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O presidente Bolsonaro, sem a máscara de proteção contra a Covid-19
O presidente Bolsonaro, sem a máscara de proteção contra a Covid-19. (Júlio Nascimento/PR)

CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS

Quando o país alcançou a triste marca de 24 mil mortos, em maio, o presidente se mostrou preocupado com os reflexos da pandemia na economia. Mesmo após três meses de pedidos incessantes por parte das autoridades sanitárias para que o distanciamento social fosse praticado como forma de evitar o contágio, Bolsonaro criticou a medida.

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Sabemos que devemos nos preocupar com o vírus, em especial os mais idosos, quem tem doenças, quem é fraco, mas (sem) essa de fechar a economia. Setenta dias a economia fechada. Até quando isso vai durar?

Jair Bolsonaro em 27 de maio de 2020
Presidente da República
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AGLOMERAÇÕES

Três meses depois, as críticas continuavam. Após causar aglomeração em visita a Foz do Iguaçu, Bolsonaro disse, em transmissão ao vivo, que  gosta de estar em meio ao povo e que ninguém poderia "dar palpite."

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O problema é meu, gosto de estar no meio do povo, tive no meio do povo no meio da pandemia, quem decide a minha vida sou eu. Não tem que dar palpite

Jair Bolsonaro em 27 de agosto de 2020
Presidente da República
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Presidente Jair Bolsonaro, sem máscara e em meio a aglomeração, em Catolândia (BA), em meio à pandemia de Covid-19
Presidente Jair Bolsonaro, sem máscara e em meio a aglomeração, em Catolândia (BA), em meio à pandemia de Covid-19. (Alan Santos/PR)

VACINA

Em setembro, sete meses após o início da pandemia, algumas empresas já haviam noticiado avanços na produção da vacina contra o coronavírus. A novidade levantou um debate no país, depois que o próprio presidente afirmou que não tomaria vacina e que a aplicação não deveria ser obrigatória. 

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Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina

Jair Bolsonaro em 01 de setembro de 2020
Presidente da República
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Bolsonaro criticou diversas vezes a Coronavac, vacina produzida pelo Instituto Butatã com insumos chineses. O presidente chamou a vacina de "vacina do Doria", em referência ao governador de São Paulo, e chegou a sugerir que o imunizante poderia causar "morte, invalidez e anomalia", o que não é verdade. Bolsonaro ainda desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que havia anunciado a compra da vacina. Em rede social, respondeu para apoiadores que não iria comprar. "O presidente sou eu", disse.

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Já mandei cancelar (a compra da Coronavac). O presidente sou eu

Jair Bolsonaro em 21 de outubro de 2020
Presidente da República
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No dia 15 de dezembro, em meio a negociações de compra de vacinas, tanto a Coronavac quanto imunizantes de outras empresas, o presidente voltou a dizer que não iria se imunizar e que o risco seria "problema dele". Autoridades sanitárias alertam, no entanto, que o risco de não se vacinar, no entanto, não se restringe à vida de uma pessoa. Se uma porcentagem grande da sociedade não se imunizar, o vírus continuará circulando e se desenvolvendo em novas variantes. 

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Eu não vou tomar a vacina e ponto final. Se alguém achar que minha vida está em risco é problema meu

Jair Bolsonaro em 15 de dezembro 2020
Presidente da República
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Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e presidente Jair Bolsonaro no lançamento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19
Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e presidente Jair Bolsonaro no lançamento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19. (Isac Nobrega/PR)

PRIORIDADE PARA VACINA

Especialistas também apontam que as falas do presidente podem desestimular a população. Quatro dias depois, no dia 19, enquanto outros países começavam a vacinar, o presidente disse que a pressa para a aprovação dos imunizantes pela Anvisa "não se justifica". O mandatário também voltou a dizer que a pandemia estaria "chegando ao fim".

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A pandemia realmente está chegando ao fim (...) mas a pressa para a vacina não se justifica porque mexe com pessoas

Jair Bolsonaro em 19 de dezembro de 2020
Presidente da República
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USO DE MÁSCARA

No último dia de 2020, Bolsonaro voltou a atacar o uso da máscara como forma de evitar o contágio por coronavírus. Em live em suas redes sociais, o chefe do Executivo disse que o uso do equipamento era "ficção" e que a eficácia das máscaras de pano teriam eficácia "praticamente zero". O que vai contra o resultado de pesquisas que apontam que a máscara caseira pode repelir até 84% das gotículas de saliva.

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O tempo todo essa mídia pobre falando: 'o presidente sem máscara'. Não encheu o saco ainda, não? Isso é uma ficção. Quando é que nós vamos ter gente com coragem, que eu não sou especialista no assunto, para falar que a proteção da máscara é um percentual pequeno? A máscara funciona para o médico, que está operando uma máscara específica. A nossa aqui, praticamente zero

Jair Bolsonaro em 31 de dezembro de 2020
Presidente da República
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NA SEMANA DE "ANIVERSÁRIO" DA PANDEMIA

A crítica ao equipamento de proteção continuou na semana em que o país registrou 250 mil mortos e um ano desde o primeiro caso de Covid-19. Também em uma live, a única menção que o mandatário fez à pandemia foi para questionar a eficácia do uso de máscaras e distanciamento. Citando um suposto estudo alemão que teria apontado para "efeitos colaterais" do uso de máscara em crianças, o presidente evitou entrar em detalhes mas disse que tem "sua opinião" sobre o tema.

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Cada um tem sua opinião sobre as máscaras. Eu tenho a minha

Jair Bolsonaro em 25 de fevereiro de 2021
Presidente da República
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Ainda nesta sexta-feira, em um evento sobre obras rodoviárias em Tianguá (CE), Bolsonaro criticou a medida mais restritiva por parte de governadores. Ibaneis Rocha (MDB), governador do Distrito Federal, anunciou nesta sexta o fechamento de atividades não essenciais. 

Alfinetando os chefes de Executivos estaduais, o presidente afirmou que "o povo quer trabalhar" e que "ninguém aguenta mais ficar em casa". As falas vem no momento em que 12 estados e o Distrito Federal trabalham com a taxa de ocupação de leitos acima dos 80%, muitos a beira de um colapso.

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O povo quer trabalhar. Esses que fecham tudo e destroem empregos estão na contramão daquilo que seu povo quer. Não me critiquem. Vá para o meio do povo mesmo depois da eleição

Jair Bolsonaro em 26 de fevereiro de 2021
Presidente da República
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