Publicado em 26 de outubro de 2020 às 21:01
Desde o início da pandemia, o desenvolvimento de uma vacina para imunizar a população contra a Covid-19 é prioridade para os cientistas. A doença já matou mais de 1 milhão de pessoas no mundo e cerca de 157 mil no Brasil. Até esta segunda-feira (26) 3.787 mortes haviam sido registradas no Espírito Santo, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa).>
Mas a busca pela única medida capaz de interromper a transmissão do novo coronavírus tornou-se uma guerra política no Brasil, dividindo quem é a favor e quem é contra a vacinação obrigatória, ou até quanto à aquisição de determinadas vacinas, independentemente de critérios científicos. >
Atualmente, há cinco vacinas na última fase de testes no país, entre elas a Coronavac, da farmacêutica chinesa Sinovac, que será produzida no Brasil pelo Instituto Butantan. >
A Gazeta procurou os 14 candidatos a prefeito de Vitória para saber o que eles pensam sobre o assunto e se acham que a população deve ser obrigada a tomar a vacina após aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).>
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Doze concorrentes no pleito responderam e todos eles disseram ser a favor da vacinação, apesar de divergirem sobre a obrigatoriedade. Sete candidatos acreditam que a imunização deve ser compulsória, três não se posicionaram claramente sobre o assunto e dois disseram que a decisão deveria ser individual. Confira mais abaixo o que diz cada um:>
As vacinas contra a Covid-19 se tornaram protagonistas em uma batalha ideológica travada principalmente entre o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), possíveis adversários no pleito de 2022. O tucano defende a imunização compulsória e já anunciou que, assim que a dose for concluída e aprovada pela Anvisa, a vacinação contra a Covid-19 será imposta no Estado.>
Já Bolsonaro afirma que a decisão sobre tomar ou não a vacina é individual e que nem mesmo um juiz pode querer decidir sobre a obrigatoriedade da imunização. Há controvérsias.>
Na semana passada, essa briga envolveu o Ministério da Saúde, órgão responsável por promover campanhas de imunização. O ministro Eduardo Pazuello anunciou, em um encontro com governadores, que pretendia comprar 46 milhões de doses da Coronavac, mas foi desautorizado por Bolsonaro, no dia seguinte, e teve que recuar.>
O presidente afirmou que a vacina fabricada pelo Butantan não seria comprada, mesmo se aprovada pela Anvisa, e que não caberia a Estados e municípios decidir sobre a vacinação. >
No entanto, uma lei encaminhada pelo próprio governo federal ao Congresso em fevereiro e sancionada por Bolsonaro diz o contrário. A Lei 13.979 dá "aos gestores locais", ou seja, a governadores e prefeitos, poderes para adotar medidas no combate à pandemia. E isso inclui "determinação de realização compulsória da aplicação compulsória de vacinação", desde que "com base em evidências científicas".>
A imunização, ao que tudo indica, deverá ser judicializada em muitos lugares. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, já disse que a judicialização será necessária e, de preferência, na Corte Suprema. >
Já há vacinas obrigatórias no Brasil. A obrigação é para que pais vacinem as crianças para protegê-las de determinadas doenças. Do contrário, podem sofrer punições, como multa de três a 20 salários mínimos. Se uma criança adoecer ou mesmo morrer por causa de uma doença que poderia ser evitada com a vacinação, o responsável pode ser indiciado por homicídio culposo (sem intenção de matar). Vacinas contra sarampo e rubéola, por exemplo, são obrigatórias.>
Confira o que os candidatos a prefeito de Vitória disseram sobre a vacinação contra Covid-19:>
Bolsonarista, o deputado estadual Capitão Assumção (Patriota) é alinhado às pautas do governo federal. Ele defende o uso de medicamentos como a hidroxicloroquina, sem eficácia comprovada cientificamente para o tratamento da Covid-19. Em caso de uma vacina certificada pela Anvisa, Assumção disse que não iria se opor, mas também não estabeleceria medidas para tornar a vacinação compulsória. >
"Se for certificado pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa, obviamente o prefeito e o governo não vão se opor, mas não vai ter uma patrulha para determinar e impor ao cidadão de Vitória que ele tome a vacina. Eu, como prefeito, colocarei à disposição toda a estrutura, mas não forçarei o povo de Vitória a se vacinar", afirmou. >
Ex-secretário de segurança no governo Paulo Hartung (sem partido), Nyton Rodrigues (Novo) é a favor da vacina contra a Covid-19 e defende a obrigatoriedade dela, assim que tiver eficácia comprovada.>
"Se os cientistas atestarem que é segura e eficaz, deverá sim ser obrigatória. Aliás, como já são obrigatórias vacinas contra o Sarampo, BCG, Meningite entre outras. Só assim poderemos voltar à vida normal", afirmou.>
Apoiado pelo atual prefeito Luciano Rezende (Cidadania) e empatado em 22% com João Coser (PT) na liderança das intenções de voto na Capital, Fabrício Gandini (Cidadania) é a favor da vacinação. "Eu, particularmente, vou tomar a vacina assim que forem concluídos os testes científicos e ela estiver disponível", afirma.>
Caso seja eleito, Gandini diz que vai disponibilizar a vacina e dar estrutura necessária para a população. Ele não respondeu se é contra ou a favor da obrigatoriedade da imunização, mas afirmou que "as pessoas querem a vacina".>
"Não importa se ela virá da China ou dos Estados Unidos, as pessoas querem a vacina. Como prefeito, o que eu vou fazer é colocar toda a estrutura de saúde da prefeitura à disposição do Ministério da Saúde para a distribuição e vacinação da população." >
O candidato do PSOL disse que, se for eleito, assim que tiver a vacina vai fazer campanha para vacinar toda a população, começando pelas pessoas do grupo de risco. No governo dele, "a vacina será obrigatória".>
"Nenhuma cidadã ou cidadão deixará de tomar a vacina. Para aqueles que resistirem vamos usar os meios seguros e não violentos de persuasão para convencê-los da necessidade da vacinação, pois ela impede a contaminação do vírus", afirma. >
O engenheiro civil Halpher Luiggi (PL) pretende dar prioridade aos grupos de risco após a aprovação da vacina. Para ele, contudo, todos deveriam ser vacinados, mas essa não pode ser uma obrigação. "O ideal é que a vacina esteja disponível para que todos possam fazer uso, se assim desejarem, diz. >
Ex-prefeito de Vitória e liderando a disputa na Capital ao lado de Gandini, ambos com 22% das intenções de voto, o petista defende a imunização contra a Covid-19 e disse que é um "compromisso coletivo".>
Ele é favor de tornar a vacina algo obrigatório, apesar de acreditar que "não cabe ao Executivo municipal decidir sobre a obrigatoriedade da vacinação". "Mas, se depender de mim, nenhum cidadão de Vitória ficará sem acesso à vacina", garante.>
Na eventual administração do deputado estadual Lorenzo Pazolini (Republicanos) como prefeito de Vitória, a prioridade de vacinação será das pessoas dos grupos de risco "que queiram ser vacinadas". Ele não deixou claro se é a favor ou não da obrigatoriedade, mas disse que, em todo o Brasil, a vacinação já é obrigatória. >
"Com a vacina da Covid provavelmente será será assim também. As campanhas de vacinação são feitas, principalmente quando há surto, e a administração pública conclama as pessoas a se imunizarem. Deve haver uma conscientização da população na importância da vacina", declarou. >
Atualmente exercendo mandato como vereador, Mazinho dos Anjos (PSD) não se posicionou sobre a obrigatoriedade da vacina. Para ele, essa é uma questão que não cabe à gestão municipal decidir. "O prefeito deve seguir a posição do Ministério da Saúde, baseada em técnicos, médicos e especialistas no assunto", informou. >
O candidato disse que é favorável à vacinação compulsória. >
Também exercendo o mandato como vereadora, Neuzinha de Oliveira (PSDB) considera que a vacinação tem que ser obrigatória. De acordo com ela, pandemias só podem ser eliminadas após imunização da população. >
"Se no passado não tivéssemos vacinado contra rubéola, sarampo, poliomielite, por exemplo, não teríamos erradicado essas doenças. Isso é a aplicação da ciência e, na minha gestão, vou acompanhar, junto ao Ministério da Saúde, a obrigação de vacinar a população, até porque a intenção é erradicar essa pandemia", afirma. >
Candidato pelo PSTU, o professor da Ufes Raphael Furtado é favorável à vacinação compulsória, desde que a dose passe por todas as etapas de teste necessárias para assegurar a segurança. >
"Somos a favor da obrigatoriedade, como já existe para diversas vacinas infantis. Lógico que não defendemos que peguem as pessoas à força e vacinem, mas há formas de se garantir a vacinação. O interesse coletivo se sobrepõe ao individual ", garante.>
Entre os exemplos citados pelo candidato para tornar a imunização obrigatória estão exigir o atestado de crianças e adolescentes para realizar a matrícula e vincular o pagamento de benefícios do governo à vacinação. "Também é possível exigir o comprovante de vacinação para pagar os salários dos funcionários públicos e de estatais (mesmo de empresas terceirizadas), para receber auxílios do INSS, aposentadoria, etc", exemplifica. >
Atual vice-prefeito de Vitória, Sérgio Sá (PSB) é a favor da obrigatoriedade da vacina e afirma que garantir saúde para os cidadãos "é uma obrigação do gestor". "No cenário em que a vacinação passar por todas as etapas, for aprovada e tiver a sua eficácia comprovada, sou a favor da vacinação obrigatória", pontua.>
Os candidatos Fábio Louzada (MDB) e Eron Domingos (PRTB) não responderam à reportagem. >
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