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Entenda como apagão de dados prejudica monitoramento da epidemia de gripe no ES

Entenda como apagão de dados prejudica monitoramento da epidemia de gripe no ES

Dados de vacinados contra Influenza não são atualizados há mais de um mês. Há ainda resultados de sequenciamentos genéticos pendentes. Problemas prejudicam aplicação de políticas públicas na área da Saúde

Publicado em 11 de janeiro de 2022 às 20:29- Atualizado há 2 anos

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Teste de Covid-19
Testagem e vacinação são medidas recomendadas para enfrentamento de doenças. (Myke Sena/Ministério da Saúde)

Enquanto o Espírito Santo enfrenta uma epidemia de Influenza, com postos de saúde lotados e uma possível pressão no sistema hospitalar, os dados sobre vacinados contra o vírus da gripe não são atualizados desde 9 de dezembro de 2021. Portanto, há mais de um mês não é possível saber exatamente qual é a cobertura vacinal contra uma doença que matou oito pessoas em um intervalo de três semanas no Espírito Santo.

A situação é explicada pelo apagão de dados em sistemas do Ministério da Saúde, ocorrido no dia 10 de dezembro, após um ataque hacker. O ano mudou, mas o problema continua, e prejudica também dados relativos à Covid-19.

A falta de dados concretos atrapalha, segundo especialistas e o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, o acompanhamento do atual estágio das duas doenças no Espírito Santo.

Quando foi alvo de ataque cibernético, no início de dezembro, o site do Ministério da Saúde apresentava a seguinte mensagem: "Os dados internos dos sistemas foram copiados e excluídos. 50 TB de dados está (sic) em nossas mãos".

Parte do problema já foi resolvido, com a retomada de alguns serviços, mas o Gabinete de Segurança Institucional e a Polícia Federal, acionados à época, ainda não explicaram o que aconteceu.

Com dados de vacinação contra a gripe atualizados pela última vez há 30 dias e atraso no resultados de sequenciamentos genéticos de amostras encaminhadas à Fiocruz, o apagão acrescenta ainda mais dificuldade na manutenção das  estratégias de saúde pública.

Questionado por A Gazeta, Nésio Fernandes confirmou que o problema do governo federal prejudica as medidas tomadas pelo governo estadual.

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Sem dúvida nenhuma, as avaliações epidemiológicas e os cenários da situação de saúde do país são prejudicados pela interrupção da disponibilidade de dados do Ministério da Saúde. Já vamos para um mês sem a disponibilidade de plataformas, o que prejudica muito. As avaliações das últimas semanas são construídas com base em plataformas próprias do governo do Estado

Nésio Fernandes
Secretário de Estado da Saúde
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O secretário destacou que o apagão foi causado por uma "invasão criminosa de bandidos", o que, segundo ele, provocou "grande dano". Mas Nésio afirmou também que há uma "demora" no restabelecimento dos sistemas que são importantes para a saúde do país.

Em coletiva de imprensa recente sobre a pandemia, o secretário disse que o governo do Estado tem investido em sistemas de informações próprias, diminuindo a dependência do Ministério da Saúde.

SAÚDE SEM DADOS É TRAGÉDIA, DIZ INFECTOLOGISTA

Na avaliação do doutor em doenças infecciosas e professor da Emescam Lauro Ferreira Pinto, um apagão de dados em plena pandemia é uma tragédia. 

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Infelizmente, temos um país de poucos dados, poucos registros. Isso é uma tragédia em uma pandemia. Precisamos saber mais das mortes, o perfil das mortes, se as pessoas foram vacinadas, os dados de testes feitos. Mas cadê a informação? Sem informação, trabalhamos no escuro. Já estamos tendo problemas com o Ministério da Saúde há muito tempo, desde o início da pandemia. Entra ministro, sai ministro, parece que os defeitos continuam

Lauro Ferreira Pinto
Doutor em Doenças Infecciosas pela Ufes e professor da Emescam
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Segundo o médico infectologista e professor da Ufes Crispim Cerutti Júnior, o Ministério da Saúde não teve competência necessária para sanar o problema de uma forma ágil.

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Todo o processo de ação decorre da informação que se tem. Esse é um lema na vigilância em saúde. Se não há informações sobre como as doenças evoluem, não é possível estabelecer medidas. A realidade pode mudar em um mês

Crispim Cerutti
Infectologista e professor da Ufes
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PARTE DOS DADOS FORAM RETOMADOS

Além do ConecteSUS, o Painel Coronavírus, um portal do governo para divulgar dados e informações da Covid-19, e o DataSUS, o departamento de informática do SUS, foram afetadas pelo ataque. À época, o ministro Marcelo Queiroga afirmou que os dados armazenados estariam conservados.

O ataque cibernético impediu, por exemplo, que as pessoas comprovassem a vacinação contra a Covid-19. Com o ConecteSUS fora do ar, foi preciso buscar outras alternativas. O sistema foi retomado para a maioria dos usuários ainda em dezembro, mas ainda há relatos de dificuldades de acesso.

QUANTOS SÃO OS VACINADOS CONTRA A GRIPE NO ES?

A Secretaria da Saúde do Espírito Santo (Sesa) informou que foram aplicadas no Estado 1.796.233 doses da vacina contra Influenza, sendo 839.792 (78,6%) nos grupos prioritários. A meta preconizada pelo Ministério da Saúde para esse público é de 90%.

Mas os números acima não representam, necessariamente, o último retrato no combate ao vírus respiratório. Isso porque a última atualização dos dados nacionais aconteceu no dia 9 de dezembro, um dia antes do ataque cibernético.

Secretaria Municipal de Saúde alerta para vacinação contra a gripe em Cachoeiro
Não é possível saber números de vacinados contra a gripe no ES desde dezembro do ano passado. (Divulgação - Márcia Leal /Prefeitura de Cachoeiro)

Na ocasião, a Sesa avaliava que o Estado estava atravessando um surtos de gripe. Nenhum outro boletim foi publicado desde que o Espírito Santo entrou em epidemia.

Portanto, não é possível saber se o Estado alcançou a meta estabelecida como proteção ideal contra a Influenza.

A VARIANTE DARWIN ESTÁ CIRCULANDO NO ES?

A Gazeta demandou a Sesa para saber se a variante Darwin da cepa H3N2 de Influenza está circulando no Espírito Santo.

Em resposta no dia 4 de janeiro, a secretaria confirmou se a variante já foi registrada no Estado, mas informou que aguarda resultados de sequenciamentos genéticos de amostras que foram enviadas à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A pasta diz aguardar o pleno restabelecimento do sistema de notificação do Ministério da Saúde para ter o balanço completo sobre a Influenza no Estado.

APAGÃO PODERIA SER AINDA PIOR NO ES

A situação dos dados epidemiológicos no Estado só não é mais grave porque há sistemas próprios de vigilância para as duas doenças (gripe e Covid). Os dados auxiliam na tomada de decisões, seja no Estado ou em todo o país.

Infectologistas ouvidos por A Gazeta dizem que o Estado se beneficia com a criação de plataformas próprias. Uma das estratégias elogiadas por especialistas é o Painel Covid-19, conjunto de dados atualizado diariamente sobre o coronavírus.

VEJA A NOTA COMPLETA:

Veja nota completa da Sesa

A Secretaria da Saúde (Sesa) informa que desde janeiro de 2020 utiliza o sistema de notificação compulsória de doenças, agravos e eventos voltados aos serviços de saúde público e privado em todo o território capixaba, denominado Sistema de Informação em Saúde e-SUS Vigilância em Saúde (VS).
Este sistema foi desenvolvido pelo Governo do Estado e é a única fonte oficial de notificações. O e-SUS VS também é utilizado para encaminhamento de casos confirmados e óbitos por Covid-19 diariamente ao Ministério da Saúde.

Destaca que dos dados alimentados pelo Ministério da Saúde, a Sesa utiliza os relacionados a vacinação de influenza e que os mesmos não foram atualizados no Portal do LocalizaSUS desde o dia 09 de dezembro.
Com relação ao sequenciamento de amostra de Covid-19, o Laboratório Central de Saúde Pública do Espírito Santo (Lacen/ES) realiza a análise para detecção da variante Ômicron no Estado. No caso da Darwin, o material é encaminhado para investigação na Fiocruz.
A Sesa ressalta que a primeira amostra positiva foi identificada no último dia 22 de dezembro. Se trata de paciente do sexo feminino, 40 anos, moradora de Vitória, que na época do exame apresentou sintomas como febre, dor de garganta e coriza.
O Lacen/ES foi o responsável por essa confirmação. Cabe destacar que esse caso foi devidamente notificado no Sistema de Informação para a Vigilância em Saúde.

OUTRO LADO

O Ministério da Saúde foi demandado por e-mail com perguntas sobre o apagão, inclusive acerca de possíveis prazos para uma retomada plena dos sistemas de notificação. Não houve retorno por e-mail. A reportagem de A Gazeta também fez contato por telefones celulares disponíveis no site da pasta, sem sucesso.

Em nota enviada à CNN, o Ministério da Saúde informou que a instabilidade nos sistemas da pasta não interfere na vigilância epidemiológica de síndromes agudas respiratórias e da Covid-19. A pasta reforça que os dados não foram comprometidos.

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