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Com Ômicron, Espírito Santo já atravessa 4ª onda da Covid, dizem especialistas

Com Ômicron, Espírito Santo já atravessa 4ª onda da Covid, dizem especialistas

Estado vem batendo recordes de casos confirmados do coronavírus em 24 horas. Na segunda-feira (10), foram registradas quase 7 mil novas infecções, maior número de toda a pandemia

Publicado em 11 de janeiro de 2022 às 20:03

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A quarta onda da pandemia do coronavírus já está estabelecida no Espírito Santo, segundo avaliação de especialistas das áreas de estatística e saúde, que consideram que o número recorde de contaminações pelo vírus é um indício claro de que é preciso reforçar os cuidados contra a Covid-19.

O Estado bateu recorde de casos confirmados do coronavírus em 24 horas. Nesta segunda-feira (10), foram registradas 6.945 novas infecções – o maior número de toda a pandemia. Até então, o recorde pertencia ao dia 30 de março do ano passado, quando foram contabilizados 3.532 casos da doença. Na semana passada, o Estado já tinha voltado a registrar mais de mil positivados no intervalo de apenas um dia – o que não acontecia há aproximadamente três meses.

Máscaras do tipo N95 ou PFF2 são as mais indicadas contra a Covid-19
Máscaras do tipo N95 ou PFF2 são as mais indicadas contra a Covid-19. (Shutterstock)

O crescimento do número de infecções está ligado à expansão da variante Ômicron da Covid, que é de fácil disseminação e já corresponde a 97% dos casos confirmados da doença em território capixaba.

O matemático e professor universitário Etereldes Gonçalves Júnior pontua que não apenas o número de infecções, mas também a taxa de transmissão do vírus bateu recorde, superando os 3,5 pontos, embora o resultado ainda não esteja consolidado.

“Felizmente, isso não está se refletindo em óbitos e internações, mas, conforme o que se observa, estamos sim passando pela quarta onda. Estamos no início da expansão, em uma situação quase vertical de subida, e isso certamente aumentará a pressão sobre o sistema de saúde, mas é uma situação diferente das demais expansões, tanto porque agora temos a vacina, quanto porque as características da Ômicron são diferentes da variante delta, que ocasionou a terceira onda.”

O doutor em imunologia e professor universitário Daniel Gomes explica que a nova variante se concentra mais nas vias aéreas superiores, por isso os sintomas são mais parecidos com os da gripe. Não está associada, por exemplo, à perda de olfato e paladar que era muito característica das demais variantes. Entretanto, por causa das mutações que carrega, é muito mais facilmente disseminada.

Ele destaca, entretanto, que não apenas as características da Ômicron, mas também a redução de cuidados contra o vírus têm ocasionado o aumento de casos.

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As pessoas afrouxaram o uso de máscara, passaram a usar ela no queixo ou tampando só a boca, ou estão usando máscaras que não são eficazes. Também tivemos um afrouxamento das medidas de restrição, o que favoreceu a circulação das pessoas, com abertura de eventos, a realização de shows, e por mais que se tenha o passaporte da vacina, a cobertura vacinal, a vacina não segura a infecção, e sim um quadro clínico mais sério

Daniel Gomes
Doutor em imunologia
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Em sua página no Twitter, o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, também confirmou que o Espírito Santo já está passando pela quarta onda de contaminação.

Em pronunciamento realizado na segunda-feira (10) para atualização da situação da pandemia do Estado, Nésio já havia declarado que diversos dados evidenciam a nova onda da pandemia. Um deles é a proporção de testes feitos que deram positivo, que quase dobrou na comparação entre dezembro e a primeira semana de janeiro.

Ele ainda detalhou que a Grande Vitória teve aumento de seis vezes no número de casos de Covid-19 em apenas uma semana. Já o Estado, como um todo, passou de 1.937 casos para 6.685 no mesmo intervalo.

Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) foi novamente procurada nesta terça-feira (11) para tratar do aumento de casos e da quarta onda da Covid-19, mas não se manifestou.

A pós-doutora em epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel reforça que a expansão da curva de contaminação observada atualmente em território capixaba apenas replica o que já vem acontecendo em vários Estados do Brasil. Ela considera que o real panorama acerca de internações e óbitos só deve ser percebido dentro de algumas semanas.

“A Ômicron é muito transmissível, felizmente com uma gravidade menor, mas temos sempre que lembrar o que já aprendemos durante a pandemia. Vemos um aumento de casos, como agora, depois de duas ou três semanas vem o aumento das internações, e em três, quatro semanas, vemos os óbitos. Estamos começando agora a ver o crescimento de casos, em relação às internações e óbitos, precisamos seguir um pouco mais para poder entender qual a situação real.”

Ethel reforça que mesmo que a variante aparente afetar o corpo de forma menos severa, o salto da demanda por atendimento médico, em um momento em que também há uma epidemia de gripe, já tem feito com que os serviços de saúde fiquem pressionados, com unidades públicas e privadas lotadas.

Além disso, como o número de pessoas com sintomas gripais têm avançado rapidamente, também cresceu a procura por testes para identificar o coronavírus, o que tem feito com que os resultados demorem mais horas.

“As pessoas estão esperando até 72 horas para ter o resultado, e isso atrapalha muito porque muitas vezes não fazem o isolamento como deveriam até ter o resultado do teste, e com isso vão transmitindo para outras pessoas”, relata a pesquisadora.

Outra preocupação diz respeito ao retorno das aulas presenciais em um momento em que as crianças de até 11 anos ainda não estão imunizadas. A especialista considera que é preciso reconsiderar o calendário de vacinação, e, talvez, até o próprio calendário letivo para que as crianças recebam pelo menos a primeira dose da vacina 14 dias antes do início do ano letivo.

Essa mesma questão é observada pelo infectologista Crispim Cerutti, que pondera que não se deve menosprezar a seriedade da doença, e reforça que o coronavírus ainda está causando mortes.

“O fato de termos um número estupendo de casos em tão pouco tempo é um forte indicativo para voltarmos com as mesmas medidas adotadas no início da pandemia. O ideal é manter as pessoas em casa o máximo possível e fazer a adoção plena do uso de máscaras, do distanciamento, da higienização, como era no começo.”

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Sabemos que existem diversas variáveis, há que se considerar as relações econômicas, a questão da educação. Os gestores precisarão pesar todas essas questões, mas, do ponto de vista estritamente sanitário, tem que ficar em casa

Crispim Cerutti, infectologista
Infectologista
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