Repórter / [email protected]
Publicado em 17 de novembro de 2025 às 17:01
Manifestação técnica do Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCES) aponta possibilidade de a segunda fase das obras visando à conclusão do Cais das Artes, em Vitória – o que inclui o Edifício Teatro – sofrer atraso e ser entregue somente nos primeiros meses de 2027. A previsão dos técnicos do TCES vai de encontro prazos dados tanto pelo Departamento de Edificações e de Rodovias do Estado (DER-ES) quanto pelo governador Renato Casagrande (PSB) em entrevistas recentes.>
Ao TCES, o DER informou, em 3 de outubro, que o teatro do complexo cultural tinha conclusão prevista para dezembro de 2026. Já o governador, em entrevisa coletiva concedida no dia 17 do mesmo mês, estimou a entrega da obra para junho do próximo ano. A auditoria da Corte de Contas, por sua vez, aponta que essa parte do empreendimento "apresenta atrasos consideráveis, entre um e cinco meses, no início de serviços essenciais".>
Esse desencontro no cronograma anunciado pelo DER-ES e pelo governo do Estado está em documento de 18 páginas que embasou o voto do conselheiro Davi Diniz para condenar, em sessão virtual realizada na última quinta-feira (13), o diretor-geral do órgão estadual, José Eustáquio de Freitas, ao pagamento de multa de R$ 15 mil. A pena foi imposta pelo fato de o gestor ter deixado de responder, reiteradamente, pedido de informações do TCES sobre o cronograma das obras no Cais das Artes, bem como acerca das intervenções já executadas no empreendimento. Relator do caso, Diniz foi acompanhado à unanimidade pelos demais conselheiros da Corte.>
O diretor-geral do DER-ES também deverá enviar, no prazo de dez dias, cronograma atualizado sobre as obras no complexo cultural, com a indicação das metas, dos prazos e das fases previstas.>
>
Ainda no voto do relator, foram impostas ao DER-ES as seguintes determinações:>
No voto, o relator ainda impõe ao DER-ES a obrigação de informar à Secretaria de Estado da Cultura (Secult) o valor necessário, ao longo de 2026, para a conclusão da obra do Cais das Artes, "incluindo o contrato da gerenciadora, de forma a permitir a adequada alocação financeira, não só pela pasta, como do Orçamento estadual".
>
O DER-ES foi procurado, na sexta-feira (14), para comentar a condenação do diretor-geral ao pagamento de multa, além das determinações do TCES ao órgão. Por nota, informou que ainda não havia sido notificado da decisão e desconhecia o descumprimento de qualquer determinação do Tribunal de Contas.>
Sobre os prazos informados ao TCES e as datas anunciadas pelo governo em outubro deste ano, o DER-ES afirma: "As obras do Cais das Artes deverão ser entregues à Organização do Estado Ibero-Americano (OEI) em junho de 2026. O DER-ES acrescenta que está elaborando um aditivo de prazo para dezembro de 2026 para que os técnicos da OEI possam fazer os ajustes finais na obra, conforme cronograma informado à área técnica do Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCES).">
O relatório da área do técnica do TCES frisa que há partes das obras no edifício anexo e no teatro com itens que permanecem em 0% de execução, mesmo depois de já terem sido reprogramadas. Entre os exemplos citados na manifestação que embasou a decisão do relator, estão esquadrias já aprovadas em projeto, instalações elétricas que ainda dependem de negociação de preços, louças e elevadores – previstos desde março de 2025, mas não iniciados –, além de cabeamento estruturado com pouco mais de um terço do previsto executado até 31 de agosto de 2025. >
Dessa forma, a análise feita pelos técnicos do TCES sobre o estado atual da obra é que, embora tenha avançado em alguns pontos — como a impermeabilização do museu e do anexo e a liberação de novas frentes de trabalho após aditivos contratuais —, o DER não vem cumprindo os marcos do cronograma reprogramado, tanto na etapa de recuperação quanto na execução do saldo contratual. >
Ainda em fevereiro deste ano, conforme revelou reportagem de A Gazeta, o TCES apontou atrasos nas obras do Cais das Artes e, na ocasião, deu ao DER o prazo de 15 dias para que fosse estabelecido e apresentado ao tribunal cronograma com o efetivo início de atuação da Coordenação Executiva de Obras Estruturantes e Prioritárias (CEOE-III), de forma a adotar os prazos estabelecidos na reprogramação para a execução das etapas da obra.>
No voto divulgado em fevereiro, Davi Diniz destacou que o descompasso no cronograma das obras no Cais das Artes, segundo ele, ensejaria "potencial risco quanto ao alcance da conclusão de todo o empreendimento no prazo originalmente previsto". >
Como o órgão não respondeu, em 17 de junho deste ano, o TCES voltou a cobrar respostas sobre o andamento das obras do complexo cultural, dando novamente o prazo de 15 dias para envio das informações. Na segunda cobrança ao DER-ES, foi destacado que, embora o início das atividades da CEOE-III tenha sido noticiado, não houve a apresentação formal do cronograma cobrado em fevereiro.>
No voto divulgado em junho, foi ressaltado que o não envio das informações pelo DER-ES acarretaria sanções a seu diretor-geral, por não atender reiteradamente as determinações da Corte.>
Em agosto deste ano, a Corte de Contas cobrou, pela terceira vez consecutiva, respostas ao DER-ES sobre o andamento das obras no Cais das Artes, porém aplicando multa de R$ 500 ao diretor-geral do órgão, uma vez que os dados solicitados em junho não foram enviados.>
Nas informações prestadas ao TCES no início de outubro deste ano, o DER informou ao Tribunal que seriam necessários cerca de R$ 110 milhões em 2026 para concluir o Cais das Artes. >
Entretanto, o Orçamento do Estado para o próximo ano reserva R$ 68 milhões em investimentos para as obras do complexo, além de R$ 5 milhões em custeio destinados ao acordo com a Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI) para a gestão do espaço. >
O DER foi perguntado, na sexta-feira (14), sobre os valores oficiais gastos até agora nas obras do Cais das Artes, mas não respondeu a esse questionamento da reportagem.>
No que se refere a esse aumento no valor previsto para a obra em 2026, o TCES conclui que o DER deixou de informar à Secult, responsável pela distribuição dos recursos voltados à área da Cultura, estimativa técnica detalhada sobre o que seria efetivamente necessário para finalizar o Cais das Artes. Sem ter recebido essa informação, a secretaria levou em conta a divisão do orçamento entre vários projetos culturais no Estado.>
A Secult, agora incluída no rol de responsáveis no processo que trata sobre as obras no Cais das Artes, também foi procurada para comentar o relatório e as determinações do TCES. Por nota, a pasta informou ainda não ter sido notificada da decisão. A secretaria ainda destacou que o DER é o órgão responsável pela execução integral das obras, incluindo gestão do contrato e condução técnica das intervenções. >
"À Secult cabe exclusivamente a descentralização do crédito orçamentário, realizada com base na estimativa apresentada pelo próprio DER, gestor responsável pela obra", informou a pasta.>
A obra do Cais das Artes começou oficialmente em 2010, no fim do segundo mandato do então governador Paulo Hartung. O investimento total seria de R$ 115 milhões. A previsão inicial de entrega do empreendimento era para 2012, mas uma série de contratempos e judicializações resultou no atraso da obra. >
Em 2013, um novo contrato foi firmado para continuidade das obras. Porém, em 2015, foram constatadas irregularidades na execução do projeto, inclusive com pagamentos indevidos. Já em 2023, oito anos depois da paralisação e dois anos após a morte do arquiteto Paulo Mendes da Rocha (autor do projeto), Casagrande anunciou a retomada diante do acordo judicial com o consórcio Andrade Valladares - Topus, prometendo a entrega do espaço até janeiro de 2026.>
À época, o governo do Estado divulgou que seriam desembolsados R$ 183 milhões para as operações, sendo R$ 20 milhões para recuperação e limpeza do canteiro de obras e R$ 163 milhões para as demais atividades. Até ali, já haviam sido pagos R$ 56 milhões à Santa Bárbara, primeira empresa que executou a obra, e outros R$ 76 milhões destinados para o Consórcio Andrade Valladares - Topus para a parte do projeto que foi executada até a paralisação de 2015.>
O desenho original do complexo cultural prevê um teatro com 600 metros quadrados, que deve comportar 1,3 mil lugares, e um museu com espaço de 2,3 mil metros quadrados. Além disso, o Cais das Artes deve contar com um auditório para 225 pessoas, salas de exposições, biblioteca, cantina, recepção, cafeteria e espaços para espetáculos e exposições ao ar livre.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta