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Cariacica: Euclério com apoio de conservadores e Célia ainda sem alianças

Cariacica: Euclério com apoio de conservadores e Célia ainda sem alianças

Euclério Sampaio (DEM) e Célia Tavares (PT) tentam conquistar os "votos dos perdedores". Movimentação do Palácio Anchieta a favor do candidato demista deixa partidos de esquerda em saia justa. Mas Joel da Costa, do PSL, não descarta aliança com o PT

Publicado em 18 de novembro de 2020 às 22:39

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Candidatos no 2º turno em Cariacica e seus aliados
Marcelo Santos e Euclério Sampaio; Célia Tavares e Helder  Salomão. (Montagem/Facebook)

Depois de um primeiro turno marcado por votos pulverizados, Cariacica volta às urnas no dia 29 de novembro para decidir quem vai governar a cidade pelos próximos quatro anos. Entre 14 candidatos, passaram para a próxima etapa Euclério Sampaio (DEM), que teve 18,81% dos votos válidos, e Célia Tavares (PT), com 14,04%.

O cenário estava imprevisível até o último momento. Em pesquisa Ibope publicada no dia 13 de novembro, seis candidatos estavam empatados tecnicamente no limite da margem de erro e 36% dos eleitores entrevistados disseram que poderiam mudar o voto.

A disputa embolada teve, como resultado, um primeiro turno em que o candidato com maior número de votos, Euclério, teve 18,81%. Diferentemente de outras cidades com segundo turno, como Vila Velha e Vitória, por exemplo, em que os primeiros colocados ultrapassaram a marca de 30% dos votos válidos. Em Cariacica, 67,6 mil eleitores não compareceram às urnas e mais de 30 mil votaram em branco ou nulo.

Agora, com apenas dois candidatos no páreo, o quadro vai ficando mais claro. Euclério, que tinha seis partidos em sua coligação e Célia, que tinha apenas dois, passam a brigar pelos votos dos perdedores, ou seja, tentam atrair os candidatos derrotados – e os votos que eles tiveram.

PARTIDOS CONSERVADORES VÃO COM EUCLÉRIO, ESQUERDA DISCUTE POSICIONAMENTO

PSC, PSD, DC e PL formalizam apoio ao deputado Euclério na disputa em Cariacica
PSC, PSD, DC e PL formalizam apoio ao deputado Euclério na disputa em Cariacica. (Arquivo pessoal)

As siglas mais conservadoras foram as primeiras a oficializar apoio ao candidato demista. PSC, de Adilson Avelina; DC, de Dr. Motta; PL, de Magno Malta, e PSD, de Celso Andreon e Neucimar Fraga, já declararam apoio ao deputado. Pesaram na decisão, principalmente, os valores mais conservadores e religiosos das legendas. "O projeto que mais se aproxima do PSC é o de Euclério, questão de família e outras ideologias", disse Avelina. 

O PP, que tinha como candidato Dr. Helcio e alcançou 7,4% dos votos, também optou por apoiar o parlamentar. O partido foi um dos que mais lançou candidatos em todo o Estado e busca manter um alinhamento com Casagrande. "Decidimos por alinhamento de ideias entre Dr. Helcio e Euclério. Alinhamento estadual", afirmou uma liderança estadual da sigla.

Já os acordos entre os partidos de esquerda não caminham de forma fácil. O possível apoio do governador Renato Casagrande (PSB), ainda que indiretamente, ao candidato do DEM, acabou deixando partidos ideologicamente mais próximos ao PT em uma saia justa. Euclério é um dos deputados mais casagrandistas na Assembleia Legislativa. Desde o início da campanha, com o apoio de Marcelo Santos (Podemos) – também aliado ao governo e vice-presidente da Casa – Euclério é visto como o candidato do Palácio Anchieta em Cariacica. O que é confirmado por Marcelo.

Um apoio que traga o nome de Casagrande a Célia poderia, portanto, criar um desconforto entre os deputados na Assembleia, já que o presidente da Casa, Erick Musso (Republicanos), também apoia a candidatura do colega. A situação complicou a vida do PSB. A legenda manteve a candidatura de Saulo Andreon no 1º turno, com mobilização forte da vice-governadora Jaqueline Moraes. Saulo conseguiu apenas 4,45% dos votos.

Fontes que fazem parte do partido no município admitem que preferiam apoiar Célia, por uma questão de afinidade ideológica, mas a decisão deve ser acordada entre o presidente estadual da legenda, Alberto Gavini, e Casagrande. Gavini não deixa claro o posicionamento, mas fica no ar uma pista: admite que no segundo turno o partido vai se preocupar mais com a governabilidade de Casagrande. “Não podemos complicar a vida do governador”, diz.

Para completar, como mostrou o colunista Vitor Vogas, Euclério esteve com Casagrande na terça-feira (17). Como resultado, o governador autorizou que secretários subam no palanque do deputado. Entre os que devem fazer isso está o titular da pasta de segurança pública, coronel Alexandre Ramalho.

Mesma situação do PCdoB, que em âmbito nacional se posiciona do outro lado do espectro político, à esquerda. Era esperado que a sigla se juntasse a outras de esquerda, como PSOL e PCB (que apoiam Célia informalmente), mas o presidente municipal da legenda, Baby Novaes, também deixou para a diretoria estadual do partido tomar a decisão. Isso porque quem dirige a legenda no Estado é Givaldo Vieira, integrante do governo Casagrande. O candidato da sigla, Dr. Heraldo, teve 5,50% dos votos em Cariacica.

Os membros do PCdoB no município se preocupam com a decisão que será tomada. "Pode até causar um racha porque os militantes do partido provavelmente vão preferir apoiar Célia", disseram.

Já o vereador Itamar Freire, presidente municipal do PDT, afirma que, por ele, a legenda apoiaria Euclério. “Não posso decidir por todos. Eu acho, particularmente, que nós não precisamos entrar em projetos que ferem os princípios da fé. Nós temos um princípio cristão e examinamos tudo isso. Euclério tem um discurso mais alinhado a nossa fé. Mas vou alinhar com todo mundo e a vontade da maioria que vai prevalecer”, disse. O PDT indicou a vice da chapa de Saulo Andreon, Vaninha, esposa de Itamar. Já ele mesmo teve 1.351 votos e não foi reeleito.

A questão ideológica pode não ser o mais preponderante, também, para siglas como PSL, que elegeu o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido), de extrema direita, em 2018. Joel da Costa (PSL), que foi candidato e se considera bolsonarista, teve 7,11% dos votos. Ele afirma que o apoio do partido não está fechado e não descarta a possibilidade de apoiar a candidata petista.

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Independentemente de a Célia ser do PT ou de outras questões de ideologia, o PSL vai ficar ao lado de quem for melhor para administrar a cidade. O bem-estar do município está acima da ideologia

Joel da Costa (PSL)
Candidato a prefeito de Cariacica derrotado no primeiro turno
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CONVERSA COM ELEITORES TERÁ MAIS PESO QUE ALIANÇAS PARTIDÁRIAS

Para o cientista político João Gualberto Vasconcellos, a votação inexpressiva dos outros candidatos faz com que as alianças partidárias não sejam tão valiosas na disputa em Cariacica.

“Não é aliança com cacique, o que define a eleição em Cariacica é a capacidade de resolver a demanda dos eleitores. É melhor para os candidatos buscar dialogar com as lideranças locais, dos bairros, com eleitores, do que se preocupar com trazer apoio de candidatos que tiveram votações quase inexpressivas, na casa de um dígito de porcentagem”, pontua.

Durante a campanha, outro ponto expressivo foi a busca por apoio de políticos tradicionais. Os candidatos saíram atrás de alianças com nomes de peso, para compensar o pouco capital político dos próprios postulantes. Os dois que foram para o segundo turno, inclusive, contaram com isso como trunfo.

Euclério teve Marcelo. Já Célia teve ao seu lado, em praticamente todas as agendas e peças publicitárias, o ex-prefeito de Cariacica e deputado federal Helder Salomão. Marcelo Santos e Helder avaliam que a parceria com os candidatos foi determinante para o resultado nas urnas e prometem, também, dedicação total nas duas semanas que antecedem o segundo turno.

Por ter apenas dois nomes a disputa já seria polarizada. Em Cariacica, no entanto, com os dois candidatos que foram para o segundo turno, a corrida pode assumir um peso mais ideológico. É o que avalia João Gualberto.

“São duas correntes claras: o conservadorismo do Euclério e o pensamento mais progressista de esquerda presente no PT. Os dois, no entanto, tiveram números muito próximos, passaram para o segundo turno com uma votação tímida, por isso não existe nada muito decidido”, pontua.

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