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Até encontro com Belo é citado em decisão para prender desembargador do ES

Até encontro com Belo é citado em decisão para prender desembargador do ES

Macário Júdice Neto foi preso nesta terça-feira (16) por suspeita de vazar informações sobre operação que tinha o objetivo de desarticular braço político e financeiro do Comando Vermelho no RJ

Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 21:16

Na decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a prisão do desembargador Macário Ramos Júdice Neto, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), na manhã desta terça-feira (16), até o cantor Belo é citado como prova de que o magistrado capixaba mantinha relação de proximidade com o presidente afastado da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil).

Diálogos envolvendo o cantor Belo são citados pela Polícia Federal na decisão do STF como elementos que comprovam a relação  de proximidade entre o desembargador Macário Júdice Neto e o deputado Bacellar. Não há qualquer imputação ao artista.

Segundo a PF, diálogos interceptados mostram que o magistrado mantinha conversas frequentes e informais com Bacellar sobre assuntos pessoais e de lazer, incluindo comentários e tratativas envolvendo shows do cantor, convites e bastidores de eventos. Na decisão de Moraes, à qual a reportagem de A Gazeta teve acesso, é inclusive citado encontro do cantor com o desembargador capixaba, em um shopping do Rio de Janeiro.

Reprodução de mensagem citada pela Polícia Federal mostra o cantor Belo enviando foto com o juiz Macário Ramos Júdice Neto para Rodrigo Bacellar, da Alerj, e dizendo: 'Nossa família'
Reprodução de mensagem em que o cantor Belo enviando foto com Macário Júdice Neto para Rodrigo Bacellar, da Alerj Crédito: Reprodução

Ainda de acordo com a investigação policial, foi identificada uma mensagem enviada por Belo a Bacellar em 6 de agosto deste ano, às 17h35. No conteúdo, o cantor informou que havia encontrado o desembargador Macário Ramos Judice Neto em um shopping e encaminhou uma fotografia em que aparece ao lado dele.

“A relação de intimidade entre Rodrigo Bacellar e o desembargador Macário Júdice Neto chamou a atenção em razão das palavras de afeto e da troca de declarações efusivas de carinho, que denotam confiança e lealdade. Esse vínculo de proximidade foi constatado tanto nos diálogos entre ambos quanto em uma interação de Bacellar com o cantor Marcelo Pires Vieira, nacionalmente conhecido como Belo”, pontuou a PF, em trecho destacado na decisão de Moraes.

Para a Polícia Federal, a mensagem e a imagem reforçam a existência de uma relação próxima entre Bacellar e o desembargador, mediada pela amizade comum com o artista.

A prisão do desembargador ocorreu como desdobramento da Operação Unha e Carne 2, da Polícia Federal, deflagrada para investigar a atuação de agentes públicos no vazamento de informações sigilosas sobre operações policiais. A suspeita é de que o magistrado tenha vazado informações, em setembro deste ano, sobre operação Zargun , que tinha o objetivo de desarticular o braço político e financeiro do Comando Vermelho no Rio de Janeiro. 

Na primeira fase da operação, foi preso o ex-presidente da Alerj, o deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil). Segundo as investigações, Bacellar teria alertado o ex-deputado Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, sobre uma ação que seria realizada pela PF na casa dele. TH Joias, preso em 3 de setembro, usaria o cargo para favorecer a facção criminosa.

Macário Júdice é o relator do caso de TH Joias no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2). Ele foi o magistrado que, em setembro, expediu o mandado de prisão de TH Joias, então deputado. 

Em nota enviada à reportagem de A Gazeta, o advogado do desembargador, Fernando Augusto Fernandes, alegou que o ministro Alexandre de Moraes “foi induzido ao erro” ao decretar a prisão. A defesa afirmou ainda que não teve acesso à cópia da decisão que decretou a prisão do desembargador, “obstando o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa”. “A defesa apresentará os devidos esclarecimentos nos autos e requererá, oportunamente, a sua imediata soltura”, disse.

 Capixaba chegou a ficar 18 anos afastado das funções por suposta participação em um esquema de venda de sentenças e favorecimento a uma organização criminosa especializada em jogo do bicho e máquinas caça-níqueis

Ligação com facção

A investigação envolvendo TH Joias apura a relação entre agentes públicos e facções criminosas no Rio de Janeiro. O ex-deputado foi preso em setembro, acusado de tráfico de drogas e associação ao Comando Vermelho, além de usar o mandato para beneficiar a facção criminosa. Outras 14 pessoas também foram detidas.

Júdice Neto tem 59 anos e nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo. É formado em direito pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e iniciou a carreira como juiz federal em 1993.

Ele ficou afastado da magistratura por cerca de 18 anos, em razão de investigações sobre suspeitas de irregularidades no exercício da função. Em 2022, após revisão do caso pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), foi reintegrado à magistratura federal, retornou ao cargo de juiz e, em 2023, foi promovido a desembargador.

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