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Sem diálogo, governo do ES e Vitória têm projetos diferentes para Beira-Mar

Sem diálogo, governo do ES e Vitória têm projetos diferentes para Beira-Mar

Enquanto gestão estadual pretende instalar duas estações do aquaviário na avenida, a prefeitura planeja revitalizar as áreas com a construção de espaços de convivência

Publicado em 13 de maio de 2025 às 12:18

Estado e prefeitura preveem usos diferentes para espaços na Avenida Beira-Mar
Estado e prefeitura preveem usos diferentes para espaços na Avenida Beira-Mar Crédito: Reprodução | Montagem A Gazeta

Desde 2023, quando o Aquaviário foi reinaugurado, o governo do Espírito Santo e a Prefeitura de Vitória têm anunciado diferentes projetos para a Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, a Beira-Mar, na Capital. Enquanto o Executivo estadual tratava, há quase dois anos, da possibilidade de reativar as antigas estações Dom Bosco e Pio XII, a gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos) divulgou a revitalização da avenida, com deques e mirantes.

No entanto, com a confirmação das novas estações para as embarcações, na última terça-feira (6), chama a atenção o fato de as administrações públicas apresentarem projetos distintos — e até conflitantes — para a via. 

Entre as novidades anunciadas pelo governador Renato Casagrande (PSB) na terça, em entrevista para o Bom Dia ES, da TV Gazeta, foram divulgadas projeções de como vão ficar os pontos de embarque de Dom Bosco da Pio XII. Para os mesmos locais, a Prefeitura de Vitória já havia apresentado, em 2023, um projeto de reurbanização. Justamente nos dois pontos previstos para as estações do Aquaviário, a administração municipal desenhou as principais intervenções, com outros usos para as áreas, como deques alagáveis e mirantes (veja imagens acima). 

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Sem diálogo, governo do ES e Vitória têm projetos diferentes para Beira-Mar

Apenas para elaborar os anteprojetos de reurbanização da Beira-Mar, a prefeitura investiu R$ 127 mil. A reportagem procurou o governo do Estado para saber qual o custo dos projetos para a avenida, mas não obteve resposta.

O edital para a construção dos novos pontos de embarque deve ser lançado até julho, de acordo com estimativa do governo do Estado. A perspectiva de início das obras para este ano já havia sido antecipada pelo governo ainda em janeiro. Já a licitação da reurbanização planejada pela prefeitura foi aberta em junho do ano passado, mas, por conta de recursos apresentados pelas empresas participantes, as obras ainda não começaram

A prefeitura alega que não foi procurada pela gestão estadual para tratar das novas estações, mas que está aberta ao diálogo. O Estado, por sua vez, afirma que concluiu o anteprojeto para a licitação e que pode torná-lo compatível com o projeto do município (confira o posicionamento das administrações, na íntegra, ao fim da reportagem).

A Secretaria de Estado de Mobilidade e Infraestrutura (Semobi) também respondeu, por nota, que as novas estruturas projetadas ficam em áreas próximas às margens da Baía de Vitória, localizadas em locais estratégicos de propriedade e/ou cessão ao Estado e que são simples e de baixo impacto.

Conflitos

No Centro de Vitória, próximo a Praça Pio XII, a previsão do Estado é erguer a estação ao lado de uma área do Porto de Vitória. No entanto, a prefeitura já havia feito um projeto para construir uma praça na região e um mirante com uma arquibancada alagável, para permitir a contemplação da paisagem do canal. Confira os projetos da prefeitura do Estado na galeria abaixo.

Os desenhos apresentados, da forma que estão, não são compatíveis. A rampa de acesso às embarcações ficaria exatamente em frente à arquibancada alagada, para contemplação da vista da Baía de Vitória, por exemplo.

Projeto da prefeitura para arquibancada alagável na Prala Pio XII por Prefeitura de Vitória

Já a segunda estação está prevista para ser construída nas imediações do Colégio Salesiano, onde havia o Terminal Dom Bosco, aproveitando a estrutura do píer. Para esse local, a prefeitura já havia anunciado a revitalização da estrutura existente, com a instalação de mais espaços de convivência. Confira os projetos da prefeitura do Estado na galeria abaixo.

Até existe um píer no projeto da prefeitura, mas dependeria de adaptações para atender ao fluxo do Sistema Aquaviário. 

Projeto da prefeitura para o píer Dom Bosco por Nós Arquitetura

Revitalização da Avenida Beira-Mar

A construção da arquibancada alagável e a revitalização do píer por parte da prefeitura fazem parte do projeto Vitória de Frente para o Mar, do município, cujo objetivo é valorizar as orlas da cidade. A iniciativa inclui ainda as intervenções na Orla Noroeste, na região da Grande São Pedro; a urbanização das orlas dos bairros Andorinhas, Santa Luiza e Pontal de Camburi; e as obras no Canal de Camburi, entre as pontes da Passagem e de Camburi.

Como A Gazeta noticiou, a expectativa era iniciar a revitalização da Beira-Mar em 2023, mas a prefeitura mudou o prazo para o fim de 2024, por causa de mudanças no projeto. Agora, devido a recursos no processo licitatório, a obra não tem mais previsão para começar.

Nessa região central, a expectativa é requalificar 4,2 quilômetros entre o Porto de Vitória, no Centro, até as proximidades do Horto Mercado, na Enseada do Suá. Está prevista a implantação de equipamentos urbanos de lazer, como playground infantil e academias populares, além de deques que se estendem sobre a margem d'água, ampliando o espaço das calçadas. Também está prevista a instalação de mobiliário urbano, como bancos, mesas e espreguiçadeiras.

O projeto contempla ainda a melhoria das calçadas, a reforma e conexão dos trechos existentes de ciclovias, e a construção de uma nova edificação para o Serviço de Orientação ao Esporte (SOE).

Impasse desde o início do Aquaviário

O impasse entre a prefeitura e o Estado sobre o aquaviário vem desde 2021, quando a gestão estadual começou a construir novas estações do modal.

A estação da Praça do Papa, na Enseada do Suá, foi a última a começar a ser construída. Isso porque o governo estadual não havia apresentado um Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança (EIV), exigido pela legislação municipal para poder implantar qualquer edificação para um novo transporte na cidade.

Na época, especialistas afirmaram que o EIV é um protocolo fundamental para entender quais impactos o projeto pode trazer para a mobilidade e segurança do local onde será instalado.

Em novembro de 2023, durante anúncio de obras na orla da Grande São Pedro, Lorenzo Pazolini manifestou interesse na instalação de um ponto de embarque e desembarque na região e disse que a própria prefeitura poderia fornecer a infraestrutura necessária. Não havia ocorrido conversas formais com o governo do Estado até aquele momento, no entanto.

“Qual o papel da prefeitura? Nós queremos deixar lá um local propício, já com local para ancoragem, um local em que a embarcação possa chegar e sair com segurança, e a prefeitura está deixando isso tudo preparado.”

Questionado por A Gazeta sobre a possibilidade, o governo do Estado, na época, disse que a pasta analisava "a possibilidade de instalar novas estações no antigo Terminal Dom Bosco, na Praça Pio XII, e Rodoviária, em Vitória, e em outros pontos em Vila Velha e Cariacica.”

Prefeitura de Vitória - Nota na íntegra

“A Prefeitura de Vitória informa que não foi procurada pelo Governo do Estado para tratar do referido projeto e ressalta que está aberta ao diálogo em prol da melhoria da mobilidade urbana, para garantir que o mesmo atenda às necessidades da região e beneficie a população capixaba.

A Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Habitação (Sedec), que desenvolve e planeja ações estratégicas para promover o desenvolvimento econômico e social de Vitória, reforça que atua sempre prezando pelo bem-estar, pela praticidade e pela segurança no deslocamento dos munícipes.

A PMV acrescenta que, no âmbito do projeto Vitória de Frente para o Mar, a Avenida Beira-Mar passará por obras de requalificação, cuja licitação está em andamento.

Serão requalificados 4,2 quilômetros no trecho que vai desde o Porto de Vitória, no Centro, até as proximidades do Hortomercado, na Enseada do Suá. A proposta de requalificação e reurbanização da via tem como objetivo proporcionar mais bem-estar e conforto para moradores e usuários dos espaços, além de incentivar a apropriação das áreas pela comunidade, valorizando-as como locais de permanência e convívio social, e não apenas como áreas de passagem.

Seguindo essa diretriz, o projeto prevê a implantação de equipamentos urbanos de lazer, como playgrounds infantis e academias populares, além de deques que se estendem sobre a margem d'água, ampliando o espaço das calçadas. Também está prevista a instalação de mobiliário urbano, como bancos, mesas e espreguiçadeiras, criando espaços de lazer e contemplação ao longo do percurso.

O projeto contempla ainda a melhoria das calçadas, a reforma e conexão dos trechos existentes de ciclovias, a construção de uma nova edificação para o SOE (Serviço de Orientação ao Esporte), novas baias para ônibus e a implantação de um novo mirante à beira-mar. Está prevista também a ampliação da calçada em determinados trechos, com avanço sobre o mar, ampliando a passagem de pedestres e criando um novo espaço de contemplação na Baía de Vitória.

Essa demanda está contemplada no planejamento estratégico do município, denominado Plano Vitória – Planejamento Estratégico 2021-2024, dentro das ações de urbanização, que têm como objetivo promover a qualificação dos espaços e dos equipamentos públicos.”

Governo do Estado - Nota na íntegra

“A Secretaria de Mobilidade e Infraestrutura (Semobi) esclarece que o Aquaviário integra o sistema de transporte público urbano, já transportando cerca de 750 mil passageiros desde sua retomada, em agosto de 2023. O sistema oferece uma alternativa de deslocamento segura e eficiente em total conformidade com todas as regulamentações da Marinha e demais normativas vigentes.

Em relação às estações previstas, é importante destacar que as novas estruturas projetadas para o sistema Aquaviário são simples e de baixo impacto nas áreas próximas às margens da baía de Vitória, localizadas em locais estratégicos de propriedade e/ou cessão ao Estado. A tramitação de licenças para a construção das estações será realizada pela empresa contratada após o processo de licitação, de acordo com a legislação.

Considerando sua relevância pública e o impacto reduzido das obras, não há razão para que a implantação das novas estações enfrente restrições, visto que a ampliação do Aquaviário traz diversos benefícios diretos para a população.

O Governo concluiu o anteprojeto para licitação que pode ser compatibilizado com os projetos da Prefeitura Municipal, dado a relevância destes para a população.”

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