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Explosão e desabamento em Vila Velha: os detalhes do complexo resgate

Explosão e desabamento em Vila Velha: os detalhes do complexo resgate

Trabalho das equipes teve que ser manual para não oferecer mais risco às vítimas sob escombros; bombeiros de folga e cães farejadores fizeram parte das equipes

Publicado em 21 de abril de 2022 às 22:03

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Militares do Corpo de Bombeiros se revezam em longo e complexo resgate em Vila Velha
Militares do Corpo de Bombeiros se revezam em longo e complexo resgate em Vila Velha. (Vitor Jubini)

Uma intensa e complexa operação para retirar de escombros as vítimas do desabamento de um prédio de três andares, no bairro Cristóvão Colombo, em Vila Velha, foi encerrada durante a madrugada desta sexta (22), por volta das 2h30, após 20 horas de trabalho. Dezenas de militares do Corpo de Bombeiros e equipes de resgate do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu|192) foram ao local da tragédia, desde o início da manhã desta quinta-feira (21), trabalhando na expectativa de encontrar algum sinal de vida. Mais de 30 bombeiros voluntários, mesmo de folga, ajudaram na força-tarefa. 

MORTES CONFIRMADAS SÃO DE AVÔ, NETA E FILHA

Até as 21 horas desta quinta-feira (21), duas pessoas — mãe e filha — foram retiradas já mortas dos escombrosUma mulher foi resgatada com vida. O corpo de Eduardo Cardoso, de 68 anos, foi resgatado já sem vida na madrugada de sexta. Segundo vizinhos, uma amiga da adolescente que morreu também estaria no local da tragédia, mas o Corpo de Bombeiros descartou a hipótese.

Foi um trabalho contra o tempo, que precisou ser cauteloso. Qualquer movimentação inadequada, poderia oferecer mais risco a quem continuava sob os escombros.

RESGATE DIFÍCIL

A complexidade foi grande, entre outros motivos, porque não foi possível usar maquinário para retirada dos escombros. A atividade foi toda manual e as equipes se revezam a cada 20 minutos, dado o esforço. . Dois cães farejadores — Brisa e Case — também atuaram e, inclusive, um deles foi o que ajudou a localizar a Sabrina durante a tarde. 

Médica do Samu entra nos escombros para socorrer adolescente em prédio que desabou em Vila Velha
Médica do Samu entra nos escombros para socorrer adolescente em prédio que desabou em Vila Velha. (Vitor Jubini)

O resgate da adolescente se mostrava difícil, segundo conta o tenente-coronel Wagner, porque ela estava sob duas lajes. Logo que foi encontrada, mostrava-se bastante comunicativa, mas depois parou de conversar. Foi neste momento que uma médica do Samu entrou nos escombros, num espaço de 45 centímetros de diâmetro, para levar oxigênio e medicação para Sabrina. 

À noite, as equipes permaneceram na área tentando retirar a menina e ainda localizar o avô Eduardo. Eram 20h40 quando o corpo de Sabrina foi resgatado dos escombros. 

A Prefeitura de Vila Velha instalou refletores de LED para ajudar na operação de resgate às vítimas. Além disso, disponibilizou  trabalhadores que recolhiam os escombros e distribuiu tapumes para as casas que tiveram seus portões atingidos pela explosão. A Guarda Municipal está no local reforçando a segurança e o isolamento da área.

EXPLOSÃO SEGUNDOS ANTES DE DESMORONAMENTO

O exato momento da explosão do prédio foi captada por uma câmera. Na imagem, está registrado o horário de 7h14. Segundo relatos de vizinhos, um forte estrondo foi ouvido pouco antes do imóvel de três andares cair. 

Rosana, vizinha do edifício que explodiu e desabou, relata ter escutado um barulho parecido com bomba. "Eu estava dormindo, aí escutei um barulho pensando que fosse na casa de cima da minha filha. Aí, eu, meu esposo e meu filho saímos correndo, e eu gritei: 'É a casa da Larissa. Embaixo mora o pai dela, a irmã e a sobrinha. Em cima mora ela e a casa acima dela estava vazia. Senti uma catinga de gás, os vidros da minha casa estão todos quebrados. Ouvi um barulho muito forte, parecia uma bomba, nunca vi isso na minha vida."

Antony, outro vizinho do prédio, contou que o portão da casa dele foi arremessado com a explosão. "Meu quarto fica nos fundos da minha casa e, por volta das 7h, a gente escutou o estrondo, achei até que era a minha casa porque o último andar aqui está em reforma, quando a gente veio correndo aqui para fora o meu portão estava no chão e vi a casa da Larissa que tinha desabado."

AS VÍTIMAS

Vila Velha
Sabrina, Camila, Larissa e Eduardo. Neta, mãe, tia e avô, respectivamente, estavam no prédio que desabou em Vila Velha . (Arquivo pessoal)

As vítimas identificadas são quatro pessoas de uma mesma família: o patriarca Eduardo, de 68 anos, que estava no térreo do prédio; suas filhas Larissa e Camila, 36,  e a neta Sabrina. 

O primeiro resgate aconteceu às 12h15. A doceira Larissa, que morava no segundo andar, foi retirada dos escombros consciente. A cena emocionou as pessoas que acompanhavam atentamente os trabalhos dos bombeiros, que foram aplaudidos. 

Menos de duas horas depois, Camila foi resgatada, mas ela não resistiu aos ferimentos. O corpo foi colocado na ambulância, em vez de um veículo de remoção, por respeito aos familiares e vizinhos que estavam próximos ao local onde o trabalho é realizado.  Ela morava no primeiro andar, com o pai e a filha. Ela é mãe de outra jovem que não estava no prédio no momento do desabamento. 

Sabrina foi localizada por um cão farejador chamado Case, às 15h45. Naquele momento, ela conseguia se comunicar bem, mas também não resistiu. Há a possibilidade de uma amiga da adolescente estar nos escombros porque, segundo vizinhos, teria dormido no local. A informação não foi confirmada pelos bombeiros. O prédio tinha ainda um terceiro pavimento com três quitinetes, mas todas estavam desocupadas.

IMÓVEIS INTERDITADOS

A Defesa Civil interditou um edifício vizinho ao prédio que desabou. O imóvel fica de frente para o que colapsou. Segundo informações da Defesa Civil, não havia pessoas morando no prédio interditado porque passava por reformas, e teve a estrutura abalada pelo desabamento.

Outros cinco imóveis nos arredores estão passando por avaliação, um deles desabitado. Moradores de quatro casas vizinhas estão fora de casa desde a manhã desta quinta (21) porque foram isoladas por precaução. Os lares não foram interditados, mas as pessoas ainda não estão autorizadas a retornar. Isso porque as equipes técnicas farão nova vistoria para checar se sofreram algum abalo estrutural após explosão e desabamento de prédio na Rua Antônio Roberto Feitosa. No total, 29 moradores foram impactados.

PRÉDIO QUE DESABOU ERA IRREGULAR, DIZ CREA-ES

O prédio de três andares que desabou foi construído de forma irregular. A afirmação é do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES), após especialistas terem realizado vistoria fiscal do local. A vistoria técnica ainda será feita, mas o Conselho já garante que o prédio “foi executado de maneira irregular, sem projetos, sem anotações de responsabilidade técnica, sem acompanhamento de um profissional de Engenharia e sem cumprir as Normas Brasileiras Regulamentadoras (NBRs).”

COMO ERA O PRÉDIO E COMO FICOU

Imagens do Google Street View feitas em outubro de 2019 na Rua Antônio Roberto Feitosa mostram o prédio ainda em fase de construção. Atualmente, o imóvel contava com três quitinetes no terceiro andar, sendo que elas não estavam ocupadas no momento da queda.

VAZAMENTO DE GÁS PODE TER PROVOCADO TRAGÉDIA

As causas do desabamento ainda serão investigadas. Entretanto, as autoridades trabalham com a possibilidade de que um vazamento de gás tenha causado a explosão flagrada por câmera de monitoramento segundos antes de o edifício ruir.

O tenente-coronel Carlos Wagner, do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo explicou em entrevista à TV Gazeta que o colapso da construção poderia ter sido causado pela explosão de uma botija de gás de cozinha. Contudo, a confirmação da real causa do acidente só virá após a conclusão dos trabalhos de perícia. O prazo inicial é de 20 dias, podendo ser prorrogado a depender da complexidade.

FOTOJORNALISMO | O RESGATE

A primeira vítima é coloca em uma maca (Vitor Jubini)

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