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Caso Milena: 3° dia de julgamento tem longo depoimento de delegado; veja destaques

Caso Milena: 3º dia de julgamento tem longo depoimento de delegado; veja destaques

Dia foi dominado pelo depoimento do delegado Janderson Lube, que presidiu o inquérito que apurou a morte da médica. Ele deu detalhes das investigações ao júri em um testemunho que durou mais de 10 horas; veja como foi

Publicado em 25 de agosto de 2021 às 22:01

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Caso Milena Gottardi
Fórum Criminal de Vitória, onde é realizado o julgamento do caso Milena. (Farley Sil/Arte Geraldo Neto)

O terceiro dia do julgamento dos responsáveis pelo assassinato de Milena Gottardi foi dominado pelo depoimento do delegado Janderson Lube, que presidiu o inquérito que apurou a morte da médica. Ele foi a única testemunha a depor nesta quinta-feira (25) e detalhou as investigações que levaram aos nomes dos seis réus.

Foram 10h40 de depoimento do delegado, o mais longo do julgamento até aqui. Ainda falta depor, pela acusação, o irmão de Milena, Douglas Gottardi.

Os trabalhos serão retomados nesta quinta-feira (26), às 9h, também no Fórum Criminal José Mathias de Almeida Netto, no Centro de Vitória.

"Foi um depoimento muito longo, mas o dr. Janderson esclareceu muitos pontos que na perspectiva da acusação já estão bem esclarecidos. A defesa tentou o tempo todo fazer perguntas repetitivas, para buscar respostas de interesse da defesa, mas o dr. Janderson foi firme, sempre respondendo de acordo com as provas, deixando claro que não há interesse de ninguém de prejudicar qualquer que seja o réu. Saímos hoje cansados, mas com ajuda de Deus teremos uma noite tranquila para amanhã retornarmos com as energias renovadas", avaliou o promotor de Justiça Rodrigo Monteiro, um dos que atuam no caso.

A previsão inicial do Tribunal de Justiça era de que o julgamento prosseguisse até a próxima sexta-feira (27), mas, por conta de atrasos no início do júri e da longa duração dos depoimentos, agora a análise do caso pode ser concluída somente no domingo (29) ou até mesmo na segunda-feira (30).

O destino dos réus será decidido por sete jurados, sendo quatro mulheres e três homens. Quem conduz o julgamento é o juiz Marcos Pereira Sanches.

CONFIRA OS PRINCIPAIS MOMENTOS DO 3º DIA DE JULGAMENTO

Hilário pesquisou conteúdos pornográficos com os nomes "esposa" e "loirinha"

O delegado afirmou que chamou sua atenção o fato de que Hilário Frasson acessou conteúdos pornográficos em seu celular no mesmo dia em que foi ao Departamento Médico Legal (DML) reconhecer o corpo de Milena. "A esposa tinha morrido 48 horas antes. Chama a atenção da pesquisa pelos conteúdos, sempre com a palavra 'esposa' e 'loirinha'", relatou o delegado.

Além de buscar por conteúdos pornográficos com as palavras, o delegado relatou que Hilário também buscou por outros conteúdos problemáticos. "Chama a atenção nestes acessos um link escrito 'peladinha com o papai', além do conteúdo com 'esposa', no dia 16 e no dia 21, prisão do pai."

Também foi constatado que ele fez contato com uma garota de programa “seis ou sete dias” depois do crime, de acordo com o delegado.

Delegado diz que Hilário odiava Milena e gera discussão

Ao falar sobre o comportamento de Hilário, o delegado afirmou que ele não amava Milena, e sim odiava.  "Ele passou por um processo de desvalorização da Milena, ele dizia que a amava, mas passou a desvalorizá-la. Como você ama uma pessoa, ela morre, e você acessa conteúdo pornográfico? Acho que já não nutria sentimentos pela Milena a não ser o ódio."

À declaração, se seguiram discussões jurídicas entre os advogados e os promotores, que interromperam os depoimento do delegado. O testemunho só foi retomado depois que todos fizeram seus comentários.

Hilário ligou para Milena antes de crime, e informou localização da médica aos comparsas

Lube relatou que o ex-policial Hilário Frasson ligou para a ex-esposa minutos antes do crime e, ao encerrar a ligação, telefonou para o pai, Esperidião Frasson, para que ele avisasse ao atirador que Milena estava saindo do hospital. Segundo o delegado, as interceptações telefônicas permitiram entender a dinâmica da rede organizada para matar Milena.

Após ser avisado pelo filho que a nora estava deixando o hospital, Esperidião ligou para Valcir da Silva Dias, apontado pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) como intermediário entre os mandantes do crime e o homem responsável por atirar em Milena.

Amigos e familiares de Milena Gottardi exibem faixas e cartazes em frente ao Fórum Criminal no Centro de Vitória.(Vitor Jubini)

Valcir estava no local do crime, o estacionamento do Hucam, em Vitória, em um carro junto com outro intermediário, Hermenegildo Palauro Filho, conhecido como "Judinho". Lá, eles teriam avisado ao atirador, Dionathas Alves Vieira, que Milena estava de saída do local de trabalho.

O delegado também constatou que o contato de Valcir no celular de Hilário havia sido apagado um dia antes do crime. Foi só por conta disso, segundo ele, que Hilário não ligou direto para o comparsa e, sim, para o pai, a fim de que ele avisasse os demais réus, que estavam no estacionamento do hospital.

Hilário tentou obter ajuda de juízes

O delegado relatou ainda que Hilário enviou alertas a juízes em uma tentativa de obter ajuda dos magistrados. Lube, que presidiu as investigações da morte de Milena, contou que na época em que apurava o crime não tinha dado a devida atenção para estas tentativas de obter ajuda junto aos magistrados. Mas que isto mudou após a realização da Operação Alma Viva, realizada pelo Ministério Público do Espírito Santo, que investiga uma suposta venda de sentenças judiciais.

“Na época dos fatos eu não tinha visto, não tinha me atentado para isto, mas permaneci com os extratos das gravações das interceptações telefônicas realizadas no processo. E a partir da realização da Operação Alma Viva, eu voltei a consultar este material e vi, que realmente, há uma tentativa de Hilário de tentar influenciar, mandando alertas para alguns juízes, como foi o caso de mensagens para os juízes Farina e Julio Cesar”, relata o delegado.

Esta situação ocorre em abril de 2017, logo após a Milena Gottardi ter ingressado na Justiça para obter uma liminar que a permitiria sair de casa com as filhas. O delegado não detalhou o nome completo dos juízes cujos nomes aparecem nas gravações.

Nome da operação que investigou morte de Milena foi inspirado em Sherlock Holmes

O delegado deu o nome de Conan Doyle à operação de investigação do assassinato da médica Milena Gottardi, em homenagem ao escritor criador do detetive Sherlock Holmes.

Ele explicou que é normal batizar as operações policiais e que na época das investigações estava lendo um livro do escritor. Mas, segundo delegado, o título "não pegou".

RELEMBRE O CRIME

A médica oncologista pediátrica Milena Gottardi foi baleada no estacionamento do Hospital das Clínicas (Hucam), em Vitória, na noite de 14 de setembro de 2017, em uma suposta tentativa de assalto. Milena foi socorrida em estado gravíssimo e, após passar quase um dia internada, teve a morte cerebral confirmada às 16h50 de 15 de setembro.

As investigações da Polícia Civil descartaram, já nos primeiros dias, o que aparentava ser um assalto seguido de morte da médica (latrocínio). Naquele momento as suspeitas já eram de um homicídio, com participação de familiares.

Ao liberar o corpo de Milena no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, Hilário teve a arma e o celular apreendidos pela polícia. Ele não foi ao velório e enterro, que aconteceram em Fundão, onde Milena nasceu.

Os dois primeiros suspeitos foram presos, no dia 16 de setembro de 2017: Dionathas Alves Vieira, que confessou ter atirado contra a médica para receber R$ 2 mil; e Bruno Rodrigues Broeto, acusado de roubar a moto usada no crime. O veículo foi apreendido em um sítio, onde foram queimadas as roupas do executor.

Em 21 de setembro de 2017, o sogro de Milena, Esperidião Carlos Frasson, foi preso, suspeito de ser o mandante do crime. Também foi detido o lavrador Valcir da Silva Dias, suspeito de ser o intermediário. Na mesma data, o ex-marido Hilário Frasson foi preso.

O último a ser detido foi Hermenegildo Palauro Filho, o Judinho, em 25 de setembro de 2017, apontado como intermediário. Ele tinha fugido para o interior de Aimorés, em Minas Gerais.

* Com informações de Vilmara Fernandes

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