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Publicado em 6 de abril de 2021 às 20:59
Quase 500 famílias que moram na Região Serrana do Espírito Santo estão sem energia elétrica há quase uma semana. Como se isso já não fosse ruim o suficiente, várias dependem do fornecimento elétrico para ter acesso à água, bombeada de poços artesianos – ausência ainda mais grave durante a pandemia. >
A situação é enfrentada por quem vive no distrito de Santa Isabel, em Domingos Martins; na comunidade de Vila Maria, no município de Vargem Alta; e nas regiões de Alto Rio Fundo, Bom Jesus, Costa Pereira e Rio Fundo, em Marechal Floriano. O transtorno começou após as fortes chuvas da última quarta-feira (31).>
Durante a tempestade – com direito a granizo, raios e ventos fortes – diversos prejuízos foram sendo registrados de Norte a Sul do Estado. Na Grande Vitória, por exemplo, o abastecimento de água chegou a ser interrompido. A BR 262 precisou ser interditada por quedas de árvore, e 23 pessoas ficaram desalojadas.>
Desde então, a comerciante Geania Cordeiro sofre com a escuridão e as torneiras secas em Domingos Martins. Vivendo com outras sete pessoas, incluindo uma criança de nove anos e outra de apenas dois, a alimentação tem sido à base de pão e salame. Situação semelhante à de aproximadamente 36 vizinhos.>
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Geania Cordeiro
Comerciante e moradora de Santa Isabel, em Domingos Martins"É um galão por dia, a R$ 10. Não é muito, mas também não é qualquer dinheiro, principalmente na pandemia, que estou com meu comércio fechado. Tem gente que não tem condição", comentou. "Fora que é muita vasilha suja, muita mosca. De noite, eu queimo papelão para ver se diminui", continuou Geania. >
Para além das dificuldades, ela tem um medo extra em relação ao coronavírus. "Não tem como ficar lavando a mão toda hora e nem ficar passando gel, porque a mão fica grudenta. Eu tenho rinite alérgica. Sem querer, levo a mão ao nariz. Estamos jogados aqui, só Deus para proteger a gente", desabafou.>
Falta energia em localidades da Região Serrana do ES
Em um drama parecido, estão a manicure Alice Mendes Ferreira e a estudante Nicolle Maria da Silva Milagre, que vivem em Vargem Alta. Ambas só têm água graças ao acesso a uma nascente e alguma iluminação por velas. As duas ainda têm parentes com saúde delicada e se preocupam, especialmente, com eles.>
"Meu avô é idoso, vai fazer 80 anos em agosto e precisa de cuidados. Ele respira com a ajuda de aparelhos e precisou ser levado ao centro da cidade. A sobrinha de uma vizinha precisa de nebulização também", contou Nicolle, dizendo que a comunidade já acumula um prejuízo de R$ 2 mil devido às comidas estragadas.>
Alice Mendes Ferreira
Manicure e moradora de Vila Maria, em Vargem AltaJá Alice tem uma avó diabética. "A gente fica com medo de acontecer algo com ela, precisar ligar e não conseguir. Até pedir ajuda para um vizinho é difícil à noite, no escuro total. Eu só tenho alguma bateria no celular, porque meu pai leva os telefones para onde ele trabalha, que está com energia", disse. >
Próximo dali, em Marechal Floriano, a diarista Diana de Freitas de Oliveira também precisou recorrer à nascente e à água mineral para poder fazer, minimamente, algumas atividades básicas do dia a dia. "Compramos galão para beber e fazer comida; e usamos a água que o vizinho cede para tomar banho", contou.>
Diana de Freitas de Oliveira
Diarista e moradora de Alto Rio Fundo, em Marechal FlorianoEm comum, as quatro capixabas também relataram a falta de apoio dos respectivos municípios no que diz respeito à alimentação e ao fornecimento de água. Assim como a demora e a falta de perspectiva da empresa EDP, concessionária responsável pela distribuição de energia elétrica no Espírito Santo. >
Por meio de nota, a EDP admitiu que 498 clientes estão sem energia elétrica em Domingos Martins, Marechal Floriano e Vargem Alta. "No total, 132 mil foram afetados no Estado pelo vendaval com queda de granizo registrado na semana passada. Isso significa que 99% dos clientes já estão com fornecimento normalizado", informou. >
A distribuidora esclareceu que a demora no restabelecimento se deve à queda de florestas de eucaliptos e árvores de grande porte sobre a rede elétrica. "Não são precisos apenas reparos, mas reconstrução de trechos inteiros. Desde o início da contingência, foi necessário reinstalar 65 quilômetros de fios e substituir 328 postes", detalhou.>
"Com isso, o número de ocorrências diárias ficou dez vezes maior que a média. Para solucionar o problema, 658 colaboradores trabalham de forma dedicada na região. Vale lembrar que a maior parte dos clientes ainda desligados se encontra na zona rural e equipes enfrentam dificuldades de acesso", continuou a empresa.>
Por fim, a EDP garantiu que vai realizar a instalação provisória de geradores "nos pontos mais críticos" e que realiza um mapeamento junto às prefeituras para o envio de caminhões-pipa. A concessionária, porém, não especificou quais locais serão abrangidos e nem quando esse apoio será prestado à população.>
Também por meio de nota, a Prefeitura de Domingos Martins disse ter "conhecimento da falta de energia em algumas regiões do município, ocorrida após a forte tempestade da última quarta-feira (31)" e que se reuniu, nesta terça-feira (6), com um representante da EDP para "discutir a situação". >
"Alguns moradores tiveram o fornecimento de água interrompido em virtude do desligamento de energia. Por isso, o município firmou uma parceria com a Cesan para garantir o abastecimento de água nestes locais com caminhões de água potável, até que o fornecimento de energia seja restabelecido", garantiu.>
Sobre a situação das vias que dão acesso às casas afetadas e que estaria prejudicando as equipes da EDP, a prefeitura afirmou que recebeu "várias demandas de árvores caídas em estradas locais, mas que as principais já foram reparadas no decorrer do dia seguinte. Ou seja, na quinta-feira (1)".>
Já a Prefeitura de Marechal Floriano confirmou que "as vias (que dão acesso aos locais afetados) foram extremamente prejudicadas", mas informou que "o município está realizando a limpeza e a liberação das vias que foram bloqueadas pela queda de árvores e encostas, por meio do uso de máquinas especializadas". >
De acordo com a administração, a comunidade de Araguaya e os bairros de Santa Rita e Alto Marechal também foram "profundamente afetados". No entanto, nestes locais, o fornecimento de energia e o abastecimento de água já foram restabelecidos. Para os demais, "a EDP não tem previsão para normalidade".>
A reportagem de A Gazeta também entrou em contato com a Prefeitura de Vargem Alta e ainda aguarda uma resposta. Quando o retorno for dado, esse texto será atualizado. >
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