Não foi só a pandemia que derrubou o PIB capixaba em 2020

A recessão capixaba não é só pandêmica, ela é também resultado de uma má conjuntura nacional prévia. O que mostra a urgência de um acerto de rota, com o encaminhamento das reformas estruturantes

Publicado em 19/03/2021 às 02h00
Indústria
No panorama da economia capixaba em 2020, a indústria foi o setor mais afetado, com queda de 13,9%. Crédito: Instituto Aço Brasil

retração de 5,1% no PIB capixaba em 2020 é mais do que um mero retrato do peso da crise sanitária sobre a economia local em um ano excepcionalmente difícil para o Espírito Santo e para o mundo. É importante descongelar essa imagem, que não pode ser emoldurada e esquecida: a pandemia continua, atingindo seu ponto mais crítico no Estado e no país, fazendo de 2021 um apêndice de 2020, não uma ruptura, como se esperava sobretudo com a chegada das vacinas no fim do ano. Com a imunização engatinhando no Brasil, o país se descola do resto do mundo, já em ritmo de retomada.

O reaquecimento da economia global, contudo, tem potencial de impactar positivamente o Estado. Com a vacinação mais acelerada em países que são importantes parceiros do Espírito Santo, como China e Estados Unidos, é possível que o comércio exterior tenha um fortalecimento no curto prazo. Graças ao elevado grau de abertura econômica capixaba, a recuperação internacional pode ajudar o Espírito Santo a reduzir os impactos da  lentidão que ainda marca a reação nacional à pandemia.

O PIB capixaba em 2020 foi o menor desde 2016, quando a queda atingiu 5,2%. Na época, o Espírito Santo sofreu os reveses da paralisação das atividades da Samarco, após a tragédia de Mariana, mas também seguiu na esteira da crise político-fiscal decorrente do governo Dilma. 

De lá para cá, mesmo antes da pandemia, o país não conseguiu firmar políticas mais amplas para o equilíbrio fiscal. O teto de gastos, no governo Temer, e a reforma da Previdência, no primeiro ano de mandato de Bolsonaro, foram dois acenos importantes nesse sentido, mas sem a consolidação de outros ajustes capazes de fortalecer o Estado brasileiro.

O Espírito Santo, mesmo sendo um exemplo nas contas públicas para o país, não deixa de ser afetado pela falta de rumos na economia nacional. A recessão capixaba não é só pandêmica, ela é também resultado de uma má conjuntura prévia. O que mostra a urgência de um acerto de rota, com o encaminhamento das reformas estruturantes.

No panorama da economia capixaba em 2020, a indústria foi o setor mais afetado, com queda de 13,9%. A indústria extrativa sofreu com a redução da demanda mundial por minério de ferro, mas Brumadinho e Mariana ainda deixam suas marcas. O setor de serviços, inquestionavelmente o mais afetado pelas medidas de restrição de funcionamento e de circulação de pessoas em 2020, teve perdas acumuladas de 7,4% no ano. Vale lembrar que no Brasil o setor representa quase 70% do PIB nacional.

A tábua de salvação do PIB capixaba foi o comércio, com alta de 4%. O auxílio emergencial contribuiu para esse resultado positivo, a partir do segundo semestre. O impacto no PIB ficou evidente: nos últimos três meses de 2020, o crescimento foi de 3,3% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, que havia registrado alta de 9,8%. O benefício em 2021 teve os valores consideravelmente reduzidos, minimizando também os impactos econômicos positivos.

Espírito Santo acaba de entrar em uma quarentena de 14 dias, criticada por alguns setores econômicos. O rombo do PIB capixaba de 2020 é incontestavelmente uma prova das perdas abismais causadas pelas medidas de enfrentamento da pandemia. A questão é que a falta de uma coordenação nacional, organizada, continua postergando o fim dessa tragédia, que só se acentua.

As medidas restritivas no Espírito Santo são novamente necessárias. Quanto mais forem levadas a sério, menos tempo vai durar a agonia de quem teve que fechar suas portas, temporariamente, pelo bem coletivo. O que também pode reduzir os danos econômicos para o Espírito Santo em 2021.

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