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Publicado em 24 de março de 2021 às 18:05
- Atualizado há 5 anos
A procuradora-geral de Justiça, Luciana Andrade, do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), determinou a abertura de um procedimento investigatório para apurar indícios de crimes cometidos durante uma carreata realizada no dia 14 de março, feita por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Durante a manifestação, trios elétricos pararam em frente às casas do governador Renato Casagrande (PSB) e da mãe dele, Anna Venturim Casagrande, proferindo, segundo o socialista, críticas e palavras de baixo calão. Entre as pessoas que discursaram, estava o deputado estadual Capitão Assumção (Patriota). >
Segundo a procuradora-geral de Justiça, há indícios de injúria qualificada duplamente majorada – por sugerir atos violentos contra funcionário público (o governador) na presença de várias pessoas – e de infração de medidas sanitárias preventivas, já que parte dos manifestantes não utilizava máscaras.>
Em sua decisão, Luciana Andrade requereu a abertura de inquérito policial e determinou que os proprietários dos trios elétricos utilizados na manifestação sejam intimados a depor. O Ministério Público também requisitou que as prefeituras de Vitória e Vila Velha respondam se havia autorização para a realização da manifestação. Imagens das redes sociais do deputado Capitão Assumção também foram coletadas para serem investigadas. >
As publicações do parlamentar, observou a procuradora-geral, "em juízo sumário, podem configurar o chamado hate speech (discurso de ódio). Nessa linha de intelecção, nas imagens, há indícios de crime contra a honra do noticiante", escreveu na decisão.>
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A petição atende a solicitação feita pelo próprio Casagrande. No pedido, o governador destacou que as críticas são legítimas, mas que não é razoável que os protestos tenham se dirigido à residência da mãe do governador, "atrapalhando sossego alheio, proferindo palavras ofensivas de baixo calão, agindo de maneira hostil e agressiva". Casagrande pediu a apuração da responsabilidade dos envolvidos e que o Ministério Público, se entender que houve o cometimento de crimes, que proponha ação penal.>
Diferentemente de outras ações por injúria ou desinformação, em que Casagrande, como pessoa física, acionou a Justiça, por meio de advogados particulares, desta vez o ofício foi enviado pelo gabinete do governador, segundo consta na consulta pública do Ministério Público.>
O caso foi anexado a outro procedimento investigatório contra Assumção, iniciado em 2019. O procedimento, aberto quando o deputado ofereceu recompensa de R$ 10 mil para quem matasse um homem suspeito de assassinar uma mulher em Cariacica, está sendo apurado pelo Ministério Público.>
Os indícios de crimes apontados, referentes aos protestos contra Casagrande, caso sejam confirmados pela Justiça, podem levar a penas de três meses a um ano e multa (para o caso de injúria) e detenção de um mês a um ano e multa (para a infração de medida sanitária).>
Capitão Assumção negou que tenha feito qualquer ofensa contra a mãe do governador. Ele afirma que "exerceu o direito à liberdade de expressão, assim como outras pessoas." Para o deputado, houve perseguição política, já que está sendo responsabilizado, apesar de outras pessoas no evento também terem se posicionado contra o governador.>
“Meus advogados já estão acionando o Conselho Nacional do Ministério Público em face da procuradora-geral de Justiça a fim de que seja instaurado inquérito pela prática de crime de abuso de autoridade”, afirmou, em nota.>
A reportagem também entrou em contato com Casagrande, que preferiu não se manifestar. >
Por meio de nota, o Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) informou que "cada fato criminoso noticiado à instituição é devidamente apurado, seja em procedimento a ser instaurado, autônomo, seja em procedimento preexistente, envolvendo o mesmo investigado". >
Quanto ao fato de a investigação sobre os protestos ocorrer no âmbito de outro procedimento, o instaurado sobre o oferecimento de recompensa por um assassinato, o Ministério Público informou o seguinte: "A decisão de como se dará essa apuração considera a forma mais eficiente de instruir a investigação sobre os fatos noticiados, visando a economia e celeridade da instrução. Não há, portanto, relação com o investigado ser ou não detentor de foro especial por prerrogativa de função".>
Paralelamente, a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Espírito Santo (Sesp) está investigando se o serviço de inteligência da polícia vazou informações pessoais do governador e da mãe dele, de 88 anos, para os manifestantes.>
De acordo com o grupo, que terminou o protesto na porta da casa da mãe do governador, a localização foi repassada pela "própria inteligência do governo". Apesar de iniciar a apuração, a Sesp não acredita que isso tenha ocorrido. Para o secretário da pasta, Alexandre Ramalho, a suspeita é que a fala tenha sido feita de maneira "genérica".>
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