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Publicado em 23 de junho de 2022 às 21:05
O vereador Gilvan da Federal (PL), da Câmara Municipal de Vitória, se tornou réu na Justiça do Espírito Santo por discurso de ódio e falas preconceituosas contra Deborah Sabará, uma mulher trans, durante sessão parlamentar no dia 5 de abril deste ano. >
A denúncia do Ministério Público do Estado foi recebida pelo juiz da 10ª Vara Criminal de Vitória, Gustavo Grillo Ferreira, que deu um prazo de 10 dias para o vereador se manifestar sobre a acusação. >
A ação contra Gilvan foi motivada por declarações que ele fez durante sessão parlamentar. Quando a “Moção de Aplauso Pelo Dia da Mulher” para Deborah Sabará foi colocada em votação, o vereador questionou se a vítima havia nascido mulher ou se poderia engravidar e amamentar. Além disso, se referiu de forma preconceituosa à comunidade LGBTQIA+.>
"Deborah Sabará pode ser outra coisa, mas não é mulher. Isso não é mulher. Deus fez homem e mulher, o resto é jacaré", disse à época. >
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Diante das declarações de Gilvan, o MPES afirmou que “as palavras ditas não possuíam vínculo com a atividade parlamentar exercida, extrapolaram o gozo da imunidade material inerente ao cargo ocupado pelo denunciado e foram proferidas em total confronto aos objetos da República Federativa do Brasil e a dignidade humana”.>
O Ministério Público denunciou o caso à Justiça, com base no artigo 20 da Lei 7.716/1989, que prevê pena de reclusão de até três anos e multa para quem pratica, induz ou incita a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.>
Em entrevista à reportagem de A Gazeta, Deborah Sabará relatou um alívio ao saber da decisão da Justiça de tornar o vereador réu no processo. Ela espera que, inclusive, possa incentivar outras pessoas trans a denunciar casos de agressão. >
Deborah Sabará
AtivistaMas Deborah avalia que ainda há um longo caminho a ser percorrido e observa que os políticos que não agiram contra a fala do vereador "estão de acordo".>
"Eu não sei como explicar a sensação [com os ataques]. Mas como reagir a isso? A impunidade não é apenas do Gilvan, mas de todos que se calam. Todos os vereadores que se omitem ou não atuam contra estão de acordo com quem agride", afirma.>
Não é a primeira vez que o vereador Gilvan da Federal faz discursos e toma outras atitudes atacando mulheres. No dia 8 de março de 2021, Dia Internacional da Mulher, o parlamentar criticou a roupa usada pela vereadora Camila Valadão (Psol). Segundo Gilvan, ela não estaria com "traje formal para a sessão". >
Camila Valadão vestia uma blusa vermelha. Segundo a vereadora, a mesma roupa foi usada diversas vezes no plenário e considerou que o ataque teria sido feito justamente pelas celebrações daquele dia. >
Em junho de 2021, Gilvan da Federal gravou um áudio dizendo que iria "aguardar na saída" para "acuar" uma professora que propôs uma atividade escolar com a temática LGBTQIA+ para adolescentes em uma escola estadual de Vitória.>
A professora Rafaella Machado registrou um boletim de ocorrência contra o vereador. Em fevereiro deste ano, Gilvan foi condenado pela Justiça a pagar uma indenização de R$ 5 mil.>
A atuação contras as mulheres também acontece nas redes sociais. Em novembro de 2021, o juiz Luiz Guilherme Risso, da 2ª Vara Criminal de Vitória, determinou que o vereador apagasse publicação no Instagram em que cita a vice-governadora do Espírito Santo, Jacqueline Moraes (PSB). Na publicação, Gilvan escreveu que a vice-governador tem "fazendas e fazendas".>
Em dezembro de 2021, o plenário da Câmara de Vitória foi novamente palco de desrespeito, gritaria e agressões verbais. O vereador Gilvan da Federal (PL) ofendeu professores da rede pública municipal presentes na sessão e em seguida emendou em uma discussão com a vereadora Camila Valadão (Psol), mandando-a calar a boca. >
Autor da atual denúncia, o MPES já representou contra o vereador em outra oportunidade. Em maio deste ano, foi oferecida uma denúncia contra Gilvan da Federal pela prática do crime de racismo dentro do Plenário da Câmara de Vitória. Ele é acusado de proferir “discurso de ódio” e praticar discriminação de religião e etnia de matriz africana durante sessão realizada no dia 29 de novembro de 2021.>
A reportagem de A Gazeta tenta contato com o vereador de Vitória Gilvan da Federal (PL), por telefone e mensagem. A matéria será atualizada assim que houver um retorno.>
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