> >
CNJ manda afastar Macário Júdice e lacrar o gabinete do desembargador

CNJ manda afastar Macário Júdice e lacrar o gabinete do desembargador

A ordem também se estende aos servidores do gabinete, que tiveram os acessos aos sistemas do tribunal suspensos enquanto as diligências estiverem em andamento

Publicado em 17 de dezembro de 2025 às 16:07

O desembargador capixaba Macário Júdice, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2)
O desembargador capixaba Macário Júdice, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) Crédito: Divulgação - GZ

Uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por meio da Corregedoria Nacional de Justiça, determina o imediato afastamento desembargador Macário Ramos Júdice Neto, preso pela Polícia Federal (PF), do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). A decisão foi assinada pelo ministro Mauro Campbell, corregedor do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na noite da terça-feira (16). 

A decisão da Corte, à qual a reportagem de A Gazeta teve acesso, ainda impõe contra o desembargador o bloqueio de todos os acessos a sistemas do TRF2, tanto processuais quanto administrativos. A ordem também se estende aos servidores do gabinete, enquanto as diligências estiverem em andamento. O afastamento do magistrado foi revelado em primeira mão pelo colunista Igor Gadelha, do jornal Metrópoles.

Além disso, foi determinado que o gabinete do desembargador afastado e de todos os equipamentos de uso funcional, como computadores, notebooks e eventuais tablets, sejam lacrados. Esses dispositivos permanecerão selados até que equipes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em conjunto com a Polícia Federal, realizem a extração e análise dos dados necessários para a apuração administrativa.

A decisão também prevê a apreensão imediata de eventual aparelho celular funcional utilizado pelo magistrado, que deverá ser entregue para perícia, a fim de subsidiar as investigações em curso. O TRF-2 foi procurado para mais detalhes sobre o afastamento do magistrado capixaba, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

O ministro determinou o sigilo integral do processo e da decisão, inclusive em relação às próprias partes, até nova deliberação. O controle do sigilo dos autos, do compartilhamento de informações técnicas e das futuras intimações foi delegado aos juízes auxiliares da Corregedoria Nacional de Justiça João Paulo Massami Lameu Abe e Lizandro Garcia Gomes Filho.

Medidas para evitar danos graves

Segundo a decisão, medidas como o afastamento cautelar são instrumentos preventivos, usados para evitar danos graves ao interesse público e à boa ordem administrativa. 

Ao analisar os elementos, o ministro considerou medida "relevante, para preservar a higidez do sistema de Justiça, ordenar seu afastamento cautelar, em razão dos fortíssimos indícios de atuação mediante desvio funcional".

"Considerando a gravidade dos fatos divulgados, o afastamento do magistrado também por este Conselho Nacional de Justiça é medida que se impõe", afirma o magistrado.

Suspeito de vazar informações

Macário é suspeito de vazar informações da ação contra o ex-deputado estadual do Rio de Janeiro Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, que teria ligação com o Comando Vermelho.

Conforme documentos obtidos por Octavio Guedes, do g1, Macário estava com o então presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), em um jantar em 2 de setembro, na véspera da Operação Zargun, que levou à prisão de TH Joias.

Agentes da PF confirmaram que houve uma troca de mensagens, às 22h12 daquele dia, entre o assessor de Bacellar, Rui Carvalho Bulhões Júnior, e ele. Na conversa, o então presidente da Alerj relata a Rui que estava em uma reunião com o desembargador capixaba, na Churrascaria Assador.

A PF ainda teria encontrado, no celular do presidente da Alerj, uma troca de mensagens entre ele e o desembargador, o que embasou a operação. Após esse encontro, Bacellar teria avisado TH Joias sobre a operação da Polícia Federal.

Após ser avisado por Bacellar, TH Joias teria apagado dados do seu celular e se desfeito de objetos em casa. Com um aparelho novo, teria colocado Bacellar como primeiro contato na lista de comunicação urgente. Enquanto a Polícia Federal estava em sua residência, o então deputado enviou ao presidente da Alerj uma foto de imagens do sistema de segurança que mostravam a equipe dentro do local. Os ambientes estavam revirados e faltavam móveis.

Em 3 de dezembro, Bacellar foi preso durante outra operação, a primeira fase da Unha e Carne, a partir de uma determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

As investigações mostraram indícios de que TH Joias usava o mandato para favorecer o Comando Vermelho e intermediava compra e venda de fuzis, além de drogas e equipamentos antidrones.

De acordo com a denúncia, esses equipamentos eram utilizados para impedir ações policiais em áreas sob domínio da facção. TH ainda é acusado de nomear para cargos na Alerj pessoas investigadas por envolvimento com o CV.

A defesa de Bacellar afirmou que ele não atuou para obstruir investigações e negou ter vazado informações a possíveis alvos de operações da Polícia Federal. Os advogados dizem ainda que Bacellar foi ouvido pela PF e esclareceu tudo o que lhe foi perguntado.

Em nota enviada à reportagem de A Gazeta, na terça-feira (16), o advogado Fernando Augusto Fernandes, que atua na defesa de Macário, afirmou que não teve acesso à cópia da decisão que decretou a prisão do desembargador, “obstando o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa”. “A defesa apresentará os devidos esclarecimentos nos autos e requererá, oportunamente, a sua imediata soltura”, manifestou em nota.

Este vídeo pode te interessar

  • Viu algum erro?
  • Fale com a redação

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais