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Clima de medo: missa de Natal é cancelada na Ilha do Príncipe

Clima de medo: missa de Natal é cancelada na Ilha do Príncipe

Segundo o pároco da comunidade, a decisão foi tomada após conversa com lideranças comunitárias, que relataram que moradores do bairro estão com medo de sair de casa

Publicado em 25 de dezembro de 2019 às 11:45

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Local do homicídio na Ilha do Príncipe chegou a ficar isolado com uma fita zebrada. (Giordany Bozzato)

Uma tradicional missa de Natal que seria celebrada na  Ilha do Príncipe, em Vitória, nesta terça-feira (24), às 21 horas, foi cancelada diante dos recentes episódios de violência no bairro. Segundo o pároco da comunidade, a decisão foi tomada após conversa com as lideranças comunitárias, que relataram que os moradores estão com medo de sair de casa. Desde  sábado (21), três pessoas morreram e três ficaram feridas em conflitos na região. Nos últimos dias, moradores relatam tiroteios e até toque de recolher

No sábado (21), quatro pessoas foram atingidas por tiros na Ilha do Príncipe. Elias Barbosa Neto, 27 anos, morreu no local. Breno Rosa Guimarães, de 21 anos, chegou a ser socorrido e levado para o Hospital São Lucas, mas não resistiu aos ferimentos. As outras duas vítimas também foram levadas ao hospital, mas a reportagem de A Gazeta não conseguiu confirmar o estado de saúde delas. 

À esquerda, Breno Rosa Guimarães, 21 anos. À direita, Elias Barbosa Neto, 27 anos. Os dois morreram após serem atingidos por tiros na Ilha do Príncipe, em Vitória. (Redes Sociais)

Testemunhas relataram que as vítimas estiveram em um bar, assistiram ao jogo do Flamengo contra o Liverpool e, ao final da partida, foram para um local conhecido com "Beco da Dona Elza". Naquele momento, duas pessoas chegaram a pé atirando. Segundo testemunhas, os disparos teriam começado ao lado do posto da polícia, que fica no bairro, mas está inativo.

As pessoas disseram ainda que chegaram a ouvir mais de 20 tiros na localidade e acionaram a Polícia Militar. A motivação do crime ainda é desconhecida pela Polícia Civil, que investiga o caso.

Na manhã de domingo (22), a mãe de Breno, Michelle Viana Rosa Klein, de 36 anos, esteve no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória para fazer a liberação do corpo do filho. Ela contou que ainda na noite de sexta-feira (20) o filho havia dito que sairia no sábado cedo para jogar bola com amigos, e assim fez. O jovem, contudo, não retornou para casa.

Ela acrescentou que o filho trabalhava como autônomo e, atualmente, morava em São Torquato, em Vila Velha, com ela, o padrasto, três irmãos, a esposa e os dois filhos de 1 e 3 anos. No entanto, ele frequentava a Ilha do Príncipe porque já chegou a morar lá e tinha amigos na região. Ela não sabe o que poderia ter ocasionado o assassinato do filho.

Michelle Viana Rosa Klen, mãe de Breno Rosa Guimarães, de 21 anos, morto baleado na Ilha do Príncipe, em Vitória. (Raquel Lopes | A Gazeta)

"Ele havia saído na sexta e, quando chegou em casa, me avisou que no sábado iria jogar bola. Ele acordou, foi até meu quarto, pediu a bênção, como sempre fazia, e saiu. Quando ele já estava no carro, ele me encaminhou um áudio dizendo que já estava chegando no local para jogar futebol e ainda disse que me amava. Nos despedimos e depois disso ele não voltou mais. Esperei, mas ele não voltou. Já mais tarde, meu celular tocou e me avisaram que ele havia sido baleado. Cheguei no hospital e só me informaram que tinham socorrido. Depois vieram me avisar que ele tinha ido a óbito", contou Michelle.

A outra vítima, Elias Barbosa Neto, morava na Ilha do Príncipe e trabalhava como embalador de supermercado. Ele deixou dois filhos de 5 e 8 anos. O irmão da vítima, que preferiu não se identificar, não sabe o que pode ter ocasionado o crime. "A família está abalada, ele era gente boa, humilde e brincalhão. Ele era o mais novo dos quatro irmãos", destacou.

Elias tinha passagem pelo sistema prisional e estava em liberdade desde outubro de 2015, quando deixou a Penitenciária Agrícola do Espírito Santo, em Viana, após receber o alvará de soltura. Segundo informações da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), Elias havia sido preso em outubro de 2012 pelo crime de tráfico de drogas.

Ainda de acordo com a Sejus, Breno não tinha passagem pelo sistema prisional. As outras duas vítimas baleadas foram encaminhadas para o Hospital São Lucas, no entanto, a reportagem não conseguiu informação sobre o estado de saúde delas.

NOITE DE DOMINGO 

Na noite de domingo (22), por volta das 22h, houve mais tiroteio na região e uma pessoa morreu, a vítima foi o pintor João Alves Oliveira, de 30 anos.  Neste caso, a  Polícia Militar conseguiu prender  Fabiano de Almeida dos Santos, 18 anos, que confessou ser o autor dos disparos que mataram o jovem nas proximidades da Escadaria Justiniano Paiva. Ele foi preso em flagrante ainda na noite de domingo dentro de um táxi na região do Aeroporto de Vitória.

De acordo com a polícia, no domingo à noite foi registrada uma intensa troca de tiros entre alguns indivíduos, sendo achados estojos de munição de calibre .556 – com alto poder de fogo. No local, a PM foi informada que um táxi estava transportando um homem baleado.  Dessa forma, foi realizado um cerco e o veículo foi abordado na altura do Aeroporto de Vitória. O passageiro Fabiano confessou o crime.  

Ele foi autuado por homicídio e sequestro, já que obrigou o motorista do táxi a dar fuga a ele - Fabiano também possuía um mandado de prisão em aberto e segue internado sob escolta policial. Segundo a PC, assim que receber alta, será encaminhado ao sistema prisional.

Escadaria Justiniano Paiva, na Ilha do Príncipe, em Vitória. (Giordany Bozzato)

O caso seguirá sob investigação da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória. A PC não descarta uma análise conjunta do homicídio que aconteceu no domingo, com o duplo homicídio consumado e duplo tentado no último sábado (21).

TOQUE DE RECOLHER 

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Um novo tiroteio tomou conta do bairro Ilha do Príncipe, em Vitória, por volta das 15h, na segunda-feira (23). Segundo relatos, homens armados estavam pela região e já teria sido decretado toque de recolher. Moradores estavam assustados e não podiam sair de suas casas. O alerta era para ninguém passar pela Ilha do Príncipe porque novos tiroteios poderiam ocorrer. Algumas pessoas não puderam nem mesmo voltar para casa depois do trabalho.

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