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Publicado em 14 de julho de 2025 às 18:12
Um mês após o sequestro do adolescente Lázaro Airan, de 17 anos, o caso permanece sem solução. O jovem foi visto pela última vez com vida em um vídeo registrado por uma câmera de segurança no Centro de São Mateus, no Norte do Espírito Santo, no dia 12 de junho. Ele teve o corpo encontrado enterrado em cova profunda no dia 4 de julho, 22 dias depois, em uma área próxima da estrada de Barra Nova, no litoral do município.
Entre as perguntas ainda sem resposta: por que o jovem foi morto? Qual a participação dos suspeitos, que estão presos de forma temporária, no crime? O que se sabe, até o momento, é que Lázaro saiu de casa para entregar uma televisão que havia sido vendida por um amigo a um comprador.
O aparelho de TV foi encontrado na casa de Felipe Silva Rodrigues, de 24 anos, primeiro indivíduo pego pela Polícia Civil, no dia 17 de junho. Na época, a corporação divulgou que o suspeito relatou que tinha negociado com o adolescente a entrega de uma televisão vendida. Contudo, as investigações apontaram que o suspeito havia participado de uma emboscada para atrair Lázaro.
Depois de Felipe, ocorreram outras cinco prisões. Após todos os suspeitos darem entrada ao sistema prisional, as investigações estão em uma segunda etapa, voltadas à consolidação das provas e confirmação dos vínculos entre os investigados, disse o delegado responsável pelo caso Marcelo Cruz, titular da Delegacia Especializada de Investigações Criminais (Deic) de São Mateus, no dia 2 de julho.
Desde a última coletiva de imprensa da Polícia Civil, junto da Polícia Científica e da Polícia Penal, na segunda-feira passada (7), nenhuma nova informação sobre o que aconteceu com Lázaro foi divulgada oficialmente. Foi explicado naquele dia que ainda não poderiam dar detalhes sobre qual foi o papel de cada um e nem a motivação do crime, que está sendo apurada. "É nisso que estamos trabalhando agora em silêncio, nenhum detalhe está sendo descartado", declarou o superintendente de Polícia Regional Norte (SPRN), delegado Fabrício Dutra.
Delegado Fabrício Dutra - 07/07/2025
Superintendente de Polícia Regional Norte (SPRN)Foi revelado na entrevista que foram identificados vestígios de um material que pode ser sangue nos dois veículos apreendidos. Ambos foram periciados com uso do 'bluestar', uma examinação mais elaborada que o luminol: o New Ford Fiesta branco, do cabo da PM Denis Marchiore, de 33 anos, e o Fiat Siena preto, de Walisson Pereira Carvalho, de 35.
Carlos Alberto Dal-Cin - 07/07/2025
Perito oficial-geral da Polícia CientíficaAlém disso, em um dos veículos foram encontrados fios e um pedaço de cano. Os itens, considerados "atípicos" pelo perito oficial-geral da Polícia Científica (PCIES), Carlos Alberto Dal-Cin, foram recolhidos e encaminhados para exames. Essa avaliação vai dizer se há algum material genético, e se ele pertence ao adolescente. Devido ao avançado estado de decomposição em que o corpo foi encontrado, ainda não foi possível determinar a causa da morte de Lázaro, e esses novos indícios podem ajudar.
"Nesse sentido, como a gente não tem inicialmente na necropsia uma causa da morte, pode ser alguma coisa sugestiva direcionada para asfixia, por exemplo, então um fio, nesse caso, poderia ser. A gente coleta, vamos fazer um swab para ver se tem perfil genético ali e de quem. Exame de DNA não é só com sangue, osso, tem tecido também que você pode fazer a correlação", detalhou Dal-Cin.
A reportagem de A Gazeta procurou a Polícia Civil e o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) na manhã desta segunda-feira (14) para perguntar sobre as linhas de investigação estabelecidas, os prazos das análises periciais e também se será pedida a permanência dos suspeitos no sistema prisional, após o período de 30 dias.
A PC se limitou a dizer que "as informações disponíveis foram repassadas em coletiva. Não há novos detalhes que possam ser repassados, no momento".
Em nota, o MPES disse que "acompanha as investigações e diligências em curso e aguarda o resultado desses procedimentos para análise e manifestação sobre o caso. No momento, não é possível divulgar mais informações porque o caso tramita sob sigilo, para evitar prejuízos aos trabalhos em andamento".
Confira a cronologia do caso:
A mãe de Lázaro disse à reportagem que o adolescente havia desaparecido no horário do almoço do dia 12 de junho, uma quinta-feira, após descer do apartamento onde mora com a família para entregar uma televisão que havia sido vendida por um amigo, no Centro de São Mateus.
Ela relatou que sentiu falta do filho na tarde do dia 12 e começou a procurá-lo. O celular do adolescente não recebia mais ligações e, ao começar a ligar para colegas e amigos, já durante a noite, soube que um amigo havia pedido a Lázaro para entregar uma televisão vendida por ele.
Segundo a mãe da vítima, o boletim de ocorrência foi registrado 24 horas depois, entre idas e vindas à sede da Polícia Militar em Guriri e à Delegacia de Polícia em São Mateus.
A mãe de Lázaro afirmou que, nesse dia, pediu imagens das câmeras de segurança aos vizinhos, que mostraram um suspeito com uma televisão nas mãos ao lado de outro homem. As gravações também mostraram o jovem entrando em um carro branco com teto preto acompanhado de outro homem. Assista:
Em 17 de junho, uma terça-feira seguinte ao desaparecimento, a Polícia Civil anunciou a primeira prisão: Felipe Silva Rodrigues, 24 anos, apontado pela investigação como suspeito de envolvimento na emboscada e desaparecimento do adolescente. Nesse mesmo dia, a corporação afirmou que o caso havia deixado de ser tratado como desaparecimento e passou a ser investigado como sequestro.
Segundo a Polícia Civil, Felipe se apresentou à Delegacia de São Mateus por volta das 15h daquele dia. Em depoimento, ele afirmou ter negociado com Lázaro a venda de uma televisão, que estava dentro do veículo no qual ele entrou. A televisão mencionada, segundo a polícia, foi encontrada pelos investigadores escondida na casa dele, no lado sul do balneário de Guriri. Após o depoimento, Felipe Silva Rodrigues, de 24 anos, foi autuado em flagrante por receptação e sequestro e encaminhado ao presídio.
Delegado Marcelo Cruz
Titular da Delegacia Especializada de Investigações Criminais (Deic) de São Mateus (declaração na ocasião da prisão)O Ministério Público (MPES) comunicou, na tarde do dia 18 de junho, a instauração de um procedimento para verificar e apurar o sequestro de Lázaro.
No dia 19 de junho, a Justiça decretou a prisão temporária de 30 dias de Felipe Silva Rodrigues, primeiro suspeito preso, durante audiência de custódia. Na decisão obtida por A Gazeta, o juiz Felipe Leitão Gomes afirmou que a confissão de Felipe sobre a receptação da televisão já seria suficiente para justificar a prisão.
“Considerando a gravidade do fato que até o momento não houve localização da vítima ou de eventuais restos mortais, indicam a necessidade da custódia cautelar, para fins, inclusive, da garantia da apuração probatória [...] Desse modo, a manutenção da liberdade do autuado revela-se, por ora, temerária, mostrando-se adequada e necessária a decretação da prisão temporária”, argumentou o magistrado.
A advogada Luciana Costa, que atuou na defesa de Felipe na audiência de custódia, disse para a reportagem que, devido à repercussão do caso, 'esperava pelo resultado', mas não quis comentar sobre a decisão. “É um processo embrionário, muito cedo para qualquer manifestação e/ou conclusão”, declarou na ocasião. Nesse dia, a advogada pediu que o juiz decretasse sigilo nos autos do caso. O pedido foi acolhido.
Na manhã do dia 26 de junho, exatamente duas semanas após o sequestro de Lázaro, investigadores cumpriram em Guriri duas ordens de prisão expedidas pela Justiça contra suspeitos de envolvimento no crime. A polícia não divulgou os nomes, mas A Gazeta apurou que se tratam de Lucas Eduardo Soares Chaves dos Santos, de 24 anos, e Walisson Pereira Carvalho, de 35. Segundo investigadores, Lucas é quem aparece entrando no carro junto com Lázaro no dia do sequestro.
A mãe de Lázaro afirmou à reportagem acreditar que o filho estivesse morto. Ela disse que achar que criminosos assassinaram o adolescente e ocultaram o corpo. Ela também relatou que o carro usado para sequestrar o jovem ainda estaria circulando pelas ruas do município, e que pertenceria a um cabo da Polícia Militar.
Na manhã do dia 1º de julho, a Polícia Civil informou que prendeu, em Barra de São Francisco, Yan Kryslan Pereira Dias, de 26 anos, quarto suspeito de envolvimento no sequestro de Lázaro. O homem estava escondido na casa da namorada, localizada no bairro Vila Landinha. As equipes policiais realizaram um cerco ao imóvel e prenderam o suspeito. Alex aparece na imagem de uma câmera ao lado de outro suspeito - Alex.
No início da tarde do dia 1º de julho, a Polícia Civil prendeu o cabo da Polícia Militar Denis Marchiore, de 33 anos. Investigadores apontam que era ele quem dirigia o Ford New Fiesta branco com teto preto em que Lázaro entrou no dia do sequestro — a última vez em que o adolescente foi visto com vida. O veículo também foi apreendido. O militar se entregou na sede do 13º Batalhão, em São Mateus, foi levado à Delegacia Regional da cidade e, em seguida, transferido para o Presídio Militar, no Quartel do Comando-Geral, em Maruípe, Vitória, onde permanece preso.
O advogado Fúlvio Trindade de Almeida nega a participação do militar no crime, mas confirma que o carro pertence ao PM e que ele dirigia o veículo no dia do desaparecimento.
A Associação das Praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Espírito Santo (Aspra-ES) informou, no dia da prisão do cabo Denis, que "tomou conhecimento do caso envolvendo o militar em questão e colocou o jurídico à disposição do militar".
No dia da prisão do militar, o comandante-geral da corporação, coronel Douglas Caus, deu entrevista ao repórter Enzo Teixeira da TV Gazeta Noroeste. "A Polícia Militar vai apurar o caso com rigor para ter certeza dos fatos. Já está apurando, a sindicância já está aberta para que a Polícia Militar possa, dentro do prazo de 30 dias, reunir todas as provas para fazer um relatório. Ninguém pode intervir no trabalho para que tenha lisura e imparcialidade", disse.
Na manhã do dia 2 de julho, investigadores da Polícia Civil prenderam, na comunidade de Paraíso, em Conceição da Barra, Alex Nascimento Paixão, de 24 anos, sexto suspeito de participar do sequestro de Lázaro.
Também no dia 2 de julho, a mãe de Lázaro concedeu entrevista à TV Gazeta e desabafou sobre o sentimento misto de alívio e dor: alívio pelas prisões realizadas até então durante a investigação e dor por ainda não ter, naquele momento, nenhuma notícia sobre o paradeiro do filho de 17 anos. Assista:
Na noite do dia 3 de julho, a Polícia Científica realizou perícia com uso de luminol em dois veículos: o Ford New Fiesta branco com teto preto, que a polícia afirma pertencer ao cabo da PM Denis Marchiore, e um Siena preto, atribuído a Walisson Pereira Carvalho, de 35 anos. A Gazeta apurou com fontes da investigação e da Polícia Científica que, caso fossem encontrados vestígios nos carros, o material seria encaminhado ao laboratório forense para verificar se era sangue e, em caso positivo, se pertencia ou não a Lázaro.
Na manhã do dia 4 de julho, investigadores da Polícia Civil iniciaram buscas pelo corpo de Lázaro em uma área de mata entre Guriri e Barra Nova, na área rural litorânea de São Mateus. As buscas foram feitas após uma denúncia indicar aos policiais a área onde estaria o corpo. Durante a manhã, nada foi encontrado.
Quando os policiais retornavam para São Mateus, uma denúncia anônima indicou o local exato onde o corpo estaria. Os investigadores chegaram por volta das 14h e, às 15h30, após escavarem uma cova profunda, localizaram um corpo.
O delegado Marcelo Cruz, titular da Delegacia Especializada de Investigações Criminais (Deic) de São Mateus, disse naquele dia que havia "fortes indícios" de que se tratava do corpo de Lázaro, pois as roupas do cadáver eram compatíveis com a que o menino usava no dia do desaparecimento, e devido ao estado de conservação do corpo. Veja vídeo do local onde o corpo foi achado:
A família reconheceu como sendo de Lázaro o corpo encontrado no dia anterior, enterrado em uma cova profunda em São Mateus. O reconhecimento foi feito na Seção Regional de Medicina Legal (SML) de Linhares, com base na foto de uma tatuagem no pescoço, segundo apuração da repórter Luciany Oliveira, da TV Gazeta Norte. O corpo foi liberado para a família no mesmo dia.
No dia 6 de julho, o corpo de Lázaro foi sepultado em São Mateus, em uma cerimônia restrita a amigos e familiares.
A Polícia Científica divulgou, em coletiva de imprensa convocada pela Polícia Civil para falar sobre o caso, que peritos encontraram fios e um pedaço de cano em um dos dois veículos apreendidos e periciados durante as investigações. Os itens foram recolhidos e encaminhados para exames, que apontarão se há algum material genético nos fios e canos, e se ele pertence a Lázaro. A causa da morte ainda não foi identificada, segundo a corporação.
No dia da prisão do cabo da PM Denis Marchiore, o advogado Fúlvio Trindade de Almeida declarou que ele é inocente e que o cliente se colocou espontaneamente à disposição da autoridade policial para prestar esclarecimentos. Afirmou ainda que a prisão foi uma surpresa diante do que chamou de "postura colaborativa e de boa-fé" do militar.
A advogada Luciana Costa, que fez a defesa de Felipe Silva Rodrigues na audiência de custódia, disse na ocasião que devido à repercussão do caso, não iria comentar o caso. “É um processo embrionário, muito cedo para qualquer manifestação ou conclusão”, declarou.
Em nota, o advogado Gabriel Almeida, que faz a defesa de Walisson Pereira Carvalho, de 35 anos, afirmou que seu cliente é inocente e explicou que ele foi ao local “recuperar a televisão do seu amigo que havia sido furtada. Após recuperar, entrou no carro, o Siena, junto com outros amigos e foi embora. À tarde fez tudo normalmente, deu aula em sua academia e trabalhou na boate em que é segurança”, declarou. O advogado acrescentou que não dará mais detalhes, invocando o sigilo imposto pela Justiça nos autos do processo.
O advogado Nilton Manhães Neto, que representa Lucas Eduardo Soares Chaves dos Santos, de 24 anos, afirmou que seu cliente é "inocente" e que já prestou "todos os esclarecimentos necessários às autoridades competentes". A defesa informou ainda que não pode fornecer mais detalhes devido ao sigilo do processo, e que Lucas segue à disposição "para contribuir com o que for necessário".
A reportagem tenta localizar as defesas dos demais citados. O espaço segue aberto para manifestação.
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