Publicado em 14 de agosto de 2025 às 18:13
Após o sétimo suspeito de envolvimento no desaparecimento e morte do adolescente Lázaro Airan, de 17 anos, em São Mateus, ser preso, a Polícia Civil concluiu as investigações e apontou a existência de milícia armada entre os sete investigados de terem cometido o crime. Foi solicitada a prisão preventiva de todos eles.>
De acordo com o delegado Marcelo Cruz, titular da Delegacia Especializada de Investigação Criminal (Deic), de São Mateus, o inquérito policial foi concluído e encaminhado ao Poder Judiciário, com todos os sete investigados indiciados por homicídio qualificado por motivo torpe, em concurso de pessoas, mediante emboscada, além de milícia armada, sequestro e ocultação de cadáver. >
Milícia armada é uma causa de aumento do homicídio pouco usada, segundo o advogado criminalista Rômulo Almeida Delai, ouvido por A Gazeta, no qual um grupo de pessoas realiza uma ação com o pretexto em prol da segurança local, por exemplo.>
"Tem que ficar demonstrado que aquele ali é um grupo, pode ser formado por paramilitares, militares aposentados, nativos ou simplesmente civis armados que cometem crimes com o pretexto de trazer segurança para o local, quando, na verdade, os membros desse grupo estão cometendo homicídios, entre outras penalidades", explicou.>
>
A mãe de Lázaro disse à reportagem que o adolescente havia desaparecido no horário do almoço do dia 12 de junho, uma quinta-feira, após descer do apartamento onde mora com a família para entregar uma televisão que havia sido vendida por um amigo, no Centro de São Mateus. >
Ela relatou que sentiu falta do filho na tarde do dia 12 e começou a procurá-lo. O celular do adolescente não recebia mais ligações e, ao começar a ligar para colegas e amigos, já durante a noite, soube que um amigo havia pedido a Lázaro para entregar uma televisão vendida por ele.>
Segundo a mãe da vítima, o boletim de ocorrência foi registrado 24 horas depois, entre idas e vindas à sede da Polícia Militar em Guriri e à Delegacia de Polícia em São Mateus. >
A mãe de Lázaro afirmou que, nesse dia, pediu imagens das câmeras de segurança aos vizinhos, que mostraram um suspeito com uma televisão nas mãos ao lado de outro homem. As gravações também mostraram o jovem entrando em um carro branco com teto preto acompanhado de outro homem.>
Em 17 de junho, uma terça-feira seguinte ao desaparecimento, a Polícia Civil anunciou a primeira prisão: Felipe Silva Rodrigues, 24 anos, apontado pela investigação como suspeito de envolvimento na emboscada e desaparecimento do adolescente. Nesse mesmo dia, a corporação afirmou que o caso havia deixado de ser tratado como desaparecimento e havia passado a ser investigado como sequestro.>
Segundo a Polícia Civil, Felipe se apresentou à Delegacia de São Mateus por volta das 15h daquele dia. Em depoimento, ele afirmou ter negociado com Lázaro a venda de uma televisão, que estava dentro do veículo no qual ele entrou. A televisão mencionada, segundo a polícia, foi encontrada pelos investigadores escondida na casa dele, no lado sul do balneário de Guriri. Após o depoimento, Felipe Silva Rodrigues, de 24 anos, foi autuado em flagrante por receptação e sequestro e encaminhado ao presídio.>
Conforme apontam os elementos investigativos, a mencionada 'negociação' não passava de um ardil utilizado pelo suspeito e seus comparsas com o objetivo de atrair a vítima ao local, a fim de viabilizar seu sequestro e posterior desaparecimento>
O Ministério Público (MPES) comunicou, na tarde do dia 18 de junho, a instauração de um procedimento para verificar e apurar o sequestro de Lázaro.>
No dia 19 de junho, a Justiça decretou a prisão temporária de 30 dias de Felipe Silva Rodrigues, primeiro suspeito preso, durante audiência de custódia. Na decisão obtida por A Gazeta, o juiz Felipe Leitão Gomes afirmou que a confissão de Felipe sobre a receptação da televisão já seria suficiente para justificar a prisão.>
Na manhã do dia 26 de junho, exatamente duas semanas após o sequestro de Lázaro, investigadores cumpriram em Guriri duas ordens de prisão expedidas pela Justiça contra suspeitos de envolvimento no crime. A polícia não divulgou os nomes, mas A Gazeta apurou que se tratam de Lucas Eduardo Soares Chaves dos Santos, de 24 anos, e Walisson Pereira Carvalho, de 35. Segundo investigadores, Lucas é quem aparece entrando no carro junto com Lázaro no dia do sequestro.>
Na manhã do dia 1º de julho, a Polícia Civil informou que prendeu, em Barra de São Francisco, Yan Kryslan Pereira Dias, de 26 anos, quarto suspeito de envolvimento no sequestro de Lázaro. O homem estava escondido na casa da namorada, localizada no bairro Vila Landinha. As equipes policiais realizaram um cerco ao imóvel e prenderam o suspeito. >
No início da tarde do dia 1º de julho, a Polícia Civil prendeu o cabo da Polícia Militar Denis Marchiore, de 33 anos. Investigadores apontam que era ele quem dirigia o Ford New Fiesta branco com teto preto em que Lázaro entrou no dia do sequestro — a última vez em que o adolescente foi visto com vida. O veículo também foi apreendido. O militar se entregou na sede do 13º Batalhão, em São Mateus, foi levado à Delegacia Regional da cidade e, em seguida, transferido para o Presídio Militar, no Quartel do Comando-Geral, em Maruípe, Vitória, onde permanece preso.>
Na manhã do dia 2 de julho, investigadores da Polícia Civil prenderam, na comunidade de Paraíso, em Conceição da Barra, Alex Nascimento Paixão, de 24 anos, sexto suspeito de participar do sequestro de Lázaro. >
Na noite do dia 3 de julho, a Polícia Científica realizou perícia com uso de luminol em dois veículos: o Ford New Fiesta branco com teto preto, que a polícia afirma pertencer ao cabo da PM Denis Marchiore, e um Siena preto, atribuído a Walisson Pereira Carvalho, de 35 anos. A Gazeta apurou com fontes da investigação e da Polícia Científica que, caso fossem encontrados vestígios nos carros, o material seria encaminhado ao laboratório forense para verificar se era sangue e, em caso positivo, se pertencia ou não a Lázaro.>
Na manhã do dia 4 de julho, investigadores da Polícia Civil iniciaram buscas pelo corpo de Lázaro em uma área de mata entre Guriri e Barra Nova, na área rural litorânea de São Mateus. As buscas foram feitas após uma denúncia indicar aos policiais a área onde estaria o corpo. Durante a manhã, nada foi encontrado.>
Quando os policiais retornavam para São Mateus, uma denúncia anônima indicou o local exato onde o corpo estaria. Os investigadores chegaram por volta das 14h e, às 15h30, após escavarem uma cova profunda, localizaram um corpo. >
A família reconheceu como sendo de Lázaro o corpo encontrado no dia anterior O reconhecimento foi feito na Seção Regional de Medicina Legal (SML) de Linhares, com base na foto de uma tatuagem no pescoço. O corpo foi liberado para a família no mesmo dia.>
A Polícia Científica divulgou, em coletiva de imprensa convocada pela Polícia Civil para falar sobre o caso, que peritos encontraram fios e um pedaço de cano em um dos dois veículos apreendidos e periciados durante as investigações. Os itens foram recolhidos e encaminhados para exames, que apontarão se há algum material genético nos fios e canos, e se ele pertence a Lázaro. A causa da morte ainda não foi identificada, segundo a corporação>
No dia da prisão do cabo da PM Denis Marchiore, o advogado Fúlvio Trindade de Almeida declarou que ele é inocente e que o cliente se colocou espontaneamente à disposição da autoridade policial para prestar esclarecimentos. Afirmou ainda que a prisão foi uma surpresa diante do que chamou de "postura colaborativa e de boa-fé" do militar. >
A advogada Luciana Costa, que fez a defesa de Felipe Silva Rodrigues na audiência de custódia, disse na ocasião que devido à repercussão do caso, não iria comentar o caso. “É um processo embrionário, muito cedo para qualquer manifestação ou conclusão”, declarou. >
Em nota, o advogado Gabriel Almeida, que faz a defesa de Walisson Pereira Carvalho, de 35 anos, afirmou que seu cliente é inocente e explicou que ele foi ao local “recuperar a televisão do seu amigo que havia sido furtada. Após recuperar, entrou no carro, o Siena, junto com outros amigos e foi embora. À tarde fez tudo normalmente, deu aula em sua academia e trabalhou na boate em que é segurança”, declarou. O advogado acrescentou que não dará mais detalhes, invocando o sigilo imposto pela Justiça nos autos do processo.>
O advogado Nilton Manhães Neto, que representa Lucas Eduardo Soares Chaves dos Santos, de 24 anos, afirmou que seu cliente é "inocente" e que já prestou "todos os esclarecimentos necessários às autoridades competentes". A defesa informou ainda que não pode fornecer mais detalhes devido ao sigilo do processo, e que Lucas segue à disposição "para contribuir com o que for necessário".>
A reportagem tenta localizar as defesas dos demais citados. O espaço segue aberto para manifestação.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta