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Vídeos mostram ostentação de empresário preso por lavagem de dinheiro no ES

Vídeos mostram ostentação de empresário preso por lavagem de dinheiro no ES

Um dos apontados pela polícia como chefe do esquema fez passeios de lancha e dirigiu carros de luxo em uma viagem a Dubai, nos Emirados Árabes

Publicado em 4 de janeiro de 2021 às 19:26- Atualizado há 3 anos

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Wilson Marcelino Caoduro, apontado pela polícia como um dos chefes de um grupo que "prestava serviço" de lavagem de dinheiro para empresas, aparece em um passeio de iate e em carros esportivos durante uma viagem a Dubai, nos Emirados Árabes. Vídeos obtidos pela TV Gazeta mostram que ele ostentava uma vida de luxo antes de ser preso na Operação Piànjú, deflagrada pela Polícia Civil em 15 de dezembro.

Ao todo, 14 homens, entre eles quatro empresários capixabas, viraram réus em um processo judicial que vai determinar se tiveram ou não participação em um esquema internacional de lavagem de dinheiro que seria comandado a partir do Estado. Segundo as investigações, ao todo, foram movimentados mais de R$ 800 milhões.

Além do crime de lavagem de dinheiro, eles respondem por integrar organização criminosa (com agravantes de manterem contato com outras organizações criminosas e operarem além de fronteiras nacionais), estelionato e falsidade ideológica.

Wilson Marcelino Caoduro, apontado pela polícia como chefe do esquema, usou o dinheiro durante uma viagem aos EUA
Wilson Marcelino Caoduro, apontado pela polícia como um dos chefes do esquema, usou o dinheiro durante uma viagem aos EUA. (Reprodução/TV Gazeta)

A TV Gazeta apurou junto à Polícia Civil (PC) e ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES) que o recurso era usado para manter esses e outros luxos vem do esquema de fraudes e lavagem de dinheiro. De acordo com as investigações, o “núcleo financeiro” da organização seria comandado por empresários do Espírito Santo, sendo Pablo David Eliseo Sandes e Wilson Marcelino Caoduro, que aparece nas imagens, responsáveis por chefiar o grupo.

Wilson, que foi dono de uma marina em Vitória, viajou para Dubai em 2015. Em vídeos, ele se exibe em uma lancha modelo Azimut 68, que tem 20 metros de comprimento e capacidade para 24 pessoas. Para se ter uma ideia, um passeio de apenas 4 horas nessa embarcação custa quase R$ 10 mil.

Ele também aparece junto com outros empresários em uma estrada no meio do deserto ostentando quatro Ferraris coloridas. O aluguel de cada máquina, por um período de 8 horas, custa o equivalente a R$ 24 mil.

Wilson Marcelino Caoduro, apontado pela polícia como chefe do esquema, usou o dinheiro durante uma viagem aos EUA
Wilson Marcelino Caoduro, apontado pela polícia como um dos chefes do esquema, usou o dinheiro durante uma viagem aos EUA. (Reprodução/TV Gazeta)

Em um outro momento, fotos mostram ele nos Estados Unidos, em 2018 e 2019, onde alugou veículos de luxo. Em Nova York foi uma limousines que custa R$ 16 mil a diária. 

Também estão sendo investigados Carlos Augusto Moscon de Oliveira, apontado nas investigações como o responsável por falsificar documentos, e José Carlos da Luz, suspeito de ser o operador financeiro. Este último foi detido em Fortaleza, no Ceará, também no dia 15 de dezembro, e trazido para o Estado.

Os demais denunciados são apontados como os “laranjas” do esquema ou os "clientes" que contratavam o serviço de lavagem de capitais

COMO FUNCIONAVA O ESQUEMA

De acordo com os responsáveis pelas investigações, empresas de fora do Estado contratavam o grupo capixaba para "limpar" o dinheiro sujo. Uma vez que o recurso era obtido de forma ilegal pelos “contratantes”, a cifra passava por uma rede de empresas de fachada no Espírito Santo. Daí era enviado ao exterior sob a forma de contratos de prestação de serviço que nunca eram executados. Ao todo foram movimentados mais de R$ 800 milhões.

“Eram serviços de transporte marítimo internacional, de exportação e importação. As empresas faziam contratos fraudulentos como se estivessem prestando serviços de aluguel de contêiner, desembaraço aduaneiro, porque eles precisavam que fossem contratos internacionais para conseguir processar a remessa para fora (do país)”, explicou o titular da Delegacia de Furto e Roubo de Veículos, delegado Ricardo Toledo, em coletiva de imprensa no dia 17 de dezembro.

Dessa forma, segundo as investigações, eles davam ares de legalidade para o dinheiro obtido ilegalmente pelos “clientes”, seja através de corrupção, tráfico de drogas ou outros crimes. Para driblar ainda mais qualquer desconfiança por parte dos órgãos de controle, todos os impostos e taxas referentes aos contratos eram recolhidos corretamente. 

Dados incorporados ao processo mostraram ainda que, para que esse dinheiro chegasse à "lavanderia" sediada no Estado, como é chamado o esquema pela polícia, ele era enviado aos poucos, em cerca de 50 depósitos diários de pequeno valor.

Esses depósitos tinham como origem contas em vários Estados brasileiros e como destino as muitas empresas de fachada criadas pelo grupo com o uso de identidades falsas.“A partir dessa grande quantidade recebida, os valores iam pulando para outros grupos de empresas, até que chegavam em um grupo de cinco empresas aqui. Algumas eram utilizadas concomitantemente, mas de forma alternada para evitar chamar a atenção das autoridades”, explicou o titular da DFRV.

Era desse grupo mais restrito de empresas que partiam os contratos e remessas bancárias para os Estados Unidos e China. "Eles eram uma grande lavanderia, atendiam diversos clientes. Algumas das empresas clientes, pelo menos quatro delas, que utilizaram os serviços, foram alvo da Operação Lava Jato em diversas fases".

O QUE DIZ A DEFESA DOS ACUSADOS

A defesa de Wilson Marcelino Caoduro disse que só vai se pronunciar perante a Justiça.

Já a De Oliveira Rocha Filho (Dorf), advocacia responsável pela defesa de Pablo David Eliseo Sandes, por nota, afirmou que "o contato de seu cliente com as demais pessoas relacionadas nos autos é estritamente profissional, e que, no momento oportuno, esta defesa trará a conhecimento do processo, provas robustas da inocência dele".

"Esclarecemos ainda que, de acordo com os elementos de provas, até agora disponibilizados para a defesa, inexistem motivos/fundamentos suficientes para a prisão;  longo e desarrazoado lapso temporal entre os supostos fatos inclinados a Pablo e a Ordem de prisão emitida, qual seja: mais de 02 (três) anos; apesar de sempre disponível nestes dois anos de investigação, jamais foi chamado pela Polícia ou pelo Ministério Público do Espírito Santo para prestar esclarecimentos; principalmente, pela lisura com a qual sempre cuidou de seus negócios, respeitado entre os pares no setor de consultoria em comércio exterior", alega a defesa em nota. 

A defesa de Carlos Augusto Moscon apontou que o cliente "é um respeitado comendador e operador portuário e, por tal razão, foi contratado pela empresa transregional para prestar serviços como consultor em sua área técnica". Ainda informou que seu cliente alega inocência.

Segundo o advogado responsável pelo caso, Yuri Varella, da Varella Advogados Associados, o fato da prisão de Carlos Moscon ter sido temporária, diferente da situação dos demais acusados que ainda seguem presos em sede de prisão preventiva, corrobora no sentido de que seu cliente não fazia parte de qualquer esquema ou quadrilha sendo, no máximo, seus serviços utilizados pela suposta organização sem que o mesmo soubesse da atuação criminosa, outro elemento que demonstra isso é a ausência de proveito econômico por parte dele, finalizou o advogado

(Com informações Mário Bonella/TV Gazeta)

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