Publicado em 15 de dezembro de 2020 às 22:56
Empresários do Espírito Santo foram presos nesta terça-feira (15) suspeitos de comandar uma organização criminosa que prestava serviço de lavagem de dinheiro para outras empresas, algumas delas investigadas pela Operação Lava Jato. >
Segundo a Polícia Civil do Estado, responsável pela investigação, o grupo movimentou cerca de R$ 800 milhões em operações financeiras dentro e fora do país. Os recursos eram transferidos entre diversas empresas, algumas físicas, outras de fachada ou até criadas com documentos de identificação falsos, em nome de pessoas que não existem.>
A Justiça determinou a prisão preventiva de 18 suspeitos, dois deles no Espírito Santo: Pablo David Eliseo Sandes e Wilson Marcelino Caoduro. Segundo a decisão proferida pela juíza Graciela de Rezende Henriquez, da 5ª Vara Criminal de Vitória, as investigações policiais apontam que eles seriam os cabeças da organização.>
Também foi expedido mandado de prisão temporária contra cinco outras pessoas, sendo duas no Estado. Uma delas foi presa, porém a reportagem de A Gazeta não conseguiu confirmar o nome desse terceiro suspeito detido no Espírito Santo.>
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De acordo com os autos do processo, a organização era composta de três núcleos. O chamado núcleo financeiro era quem cuidava do gerenciamento do dinheiro, da origem e destino das movimentações. >
O objetivo, segundo as investigações, era fazer com que o recurso proveniente de atividades ilegais passassem por diversas empresas através de operações financeiras aparentemente regulares e voltasse para sua origem limpo, sem rastros das ilegalidades.>
Um dos detidos, Pablo Sandes, é proprietário da Sandes Náutica, uma marina localizada em Jardim da Penha, às margens do canal. Segundo os autos, a quebra de sigilo bancário dele revelaram transações financeiras constantes entre ele, duas ex-companheiras e as empresas de fachada investigadas. >
Em análise aos resultados obtidos pelas medidas de afastamento de sigilo bancário dos investigados foi possível perceber o provável poder de gestão e de determinação de Pablo sobre as empresas ora investigadas, diz a juíza em trecho onde argumenta pela concessão do mandado de prisão.>
Uma dessas empresas era a CPRS Agenciamento, Transportes e Locações de Serviços, que anteriormente tinha o nome de Tresconsult. Essa última havia sido criada por Pablo, e foi depois transferida a um terceiro, que usou documentos falsos. >
As diligências policiais, contudo, mostraram que o suposto dono atual da CPRS ia constantemente ao banco acompanhado do gerente da Sandes Naútica, funcionário de Pablo. Registros de e-mail também obtidos pela polícia mostram que o endereço da empresa na internet foi criado a mando de Pablo.>
No período analisado, a CPRS recebeu créditos no valor de R$ 77.597.511,34 e débitos no mesmo valor. Ou seja, movimentou mais de R$ 155 milhões. >
A análise bancária indica a possível utilização da empresa CPRS como empresa fictícia com a finalidade de passagem de valores, com destinação de parcelas tanto aos investigados, quanto ao exterior. Um exemplo seriam os débitos a empresas chinesas, [...],por operações de câmbio de negócios aparentemente inexistentes e, ainda, outras operações de câmbio que totalizaram R$ 67.467.898,32, aponta o processo. >
Um dos investigados, teria confessado à polícia ter entrado no esquema a partir de reunião onde estavam Pablo e Wilson. Ele teria afirmado que, uma vez recebido o dinheiro de outras empresas investigadas, repassava o montante para contas no exterior indicadas pelos dois. >
Tal empreendimento, com movimentação tal elevada de dinheiro, possui o condão de interferir gravemente na economia, isso, sem mesmo considerar o potencial lesivo que essa suposta organização criminosa possui, quando verificado os indícios de que funcione como 'prestadora de serviços' de lavagem para outras organizações criminosas", grifou a juíza.>
Já Wilson Caoduro é dono da Akira Motors, concessionária da Suzuki em Vila Velha, e da Living Nautica, também em Jardim da Penha. As apurações da Polícia Civil apontam, até o momento, que ele estaria utilizando as contas bancárias de suas empresas para as transações de lavagem de dinheiro.>
Além de terem sido percebidas transações financeiras entre a Living Nautica e outras empresas investigadas no Brasil, entre elas a CPRS, há indícios de que ele tinha relação próxima com duas empresas sediadas nos Estados Unidos que também fariam parte do esquema. >
Uma delas teria sido criada por Wilson e transferida para um laranja posteriormente. Ele, inclusive, ainda utilizava o e-mail da empresa americana para fazer contato com outros membros da organização, segundo as investigações.>
Há ainda registros de movimentação financeira entre a Living Nautica e uma das empresas brasileiras investigadas, que é sucedido quase imediatamente de transação de mesmo valor para outra empresa americana. >
A quebra de sigilo telemática mostrou ainda correspondências entre o empresário e outro investigado, suspeito de ser o responsável pela falsificação de documentos de operações de câmbio. >
O investigado Wilson possui indícios bastante contundentes de que assume posição de comando, com capacidade de determinação sobre as direções tomadas na organização criminosa, em voga, voltada à prática, dentre outros delitos, de lavagem de capitais, escreveu a magistrada.>
Empresários aparentemente bem sucedidos, Pablo e WIlson tinham carros de luxo, além de muitas lanchas e motos aquáticas, já que ambos eram proprietários de marinas. >
Por suspeitar que os bens tenham origem ilícita, a Polícia Civil pediu que eles fossem indisponibilizados. Isso significa que eles ainda ficarão sob a posse dos acusados, porém não poderão ser vendidos ou transferidos para outras pessoas.>
No caso de Pablo, foram indisponibilizados um Porsche Panamera, um Mercedes-Benz GLA, além de nove lanchas aquáticas e três lanchas. >
Já Wilson teve um Maserati Granturismo, três motos aquáticas e sete lanchas colocados à disposição da Justiça. >
Além disso, foram indisponibilizados quatro imóveis em Vitória registrados em nome de Pablo Sandes, mas cujos registros financeiros mostram que foram pagos por Wilson.>
Para a TV Gazeta, o advogado Ricardo Firme, que defende o empresário Wilson Caoduro, disse que é cedo para se pronunciar, porque é um inquérito grande, cheio de detalhes e ele ainda está se inteirando da denúncia.>
Os advogados Rogério Feitosa e Ricardo Rocha, que defendem Pablo Sandes, disseram que o empresário está tranquilo e nega participação em qualquer esquema.>
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