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Publicado em 1 de agosto de 2025 às 14:22
Movimento tímido, lojas praticamente vazias e muitas portas ainda fechadas. Esse é o cenário encontrado no Mercado da Capixaba, no Centro de Vitória, mais de um ano após o fim da reforma e a entrega do local. O espaço revitalizado voltou a funcionar com comércio em abril, após mais de duas décadas fechado. No entanto, apenas seis das 16 lojas estão funcionando. >
Mesmo após anos em reforma pela Prefeitura de Vitória, o cenário constatado pela reportagem em visita ao local na última terça-feira (29) é de obras por todos os lados. Isso porque o mercado está tendo que passar por uma série de adaptações estruturais para que a concessionária possa cumprir o que está no edital, como a abertura de restaurantes. >
Uma das mudanças que está em curso é a instalação de coifas (equipamento que ajuda a filtrar o ar da cozinha) para os módulos de gastronomia, como lanchonetes e bistrôs. As paredes e o teto do espaço estão sendo quebradas para receber a tubulação dos exaustores.>
Outra obra que ainda está sendo feita é a ligação de alguns pontos comerciais à rede de esgoto, o que não foi feito durante a reforma, que durou dois anos. No segundo piso, previsto para a instalação dos módulos administrativos, as janelas passam por reparos, já que não fecham adequadamente desde a entrega do mercado. >
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As mudanças estruturais foram detalhadas por Antônio Cardoso, um dos administradores do Mercado da Capixaba, por meio do Instituto Brasileiro de Gestão e Pesquisa (IBGP), empresa que venceu a licitação em maio de 2024 para ser concessionária do espaço. >
Para ele, muitas lojas continuam fechadas pelo fato de o mercado não ter sido entregue “totalmente liberado e disponível para locação”. >
Das 16 lojas do centro comercial, seis puderam abrir as portas e outras oito já estão alugadas, mas aguardam as reformas. Outras duas estão prontas para uso, mas ainda em processo de locação. A previsão é que os pontos em obra sejam abertos até a segunda quinzena de agosto.>
As obras estão sendo custeadas pela própria Prefeitura de Vitória, já que o Mercado da Capixaba ainda está dentro do prazo de garantia contratual. Há ainda outros pequenos acertos sendo feitos nas lojas, como instalação de bancadas e de mobiliário, esses de responsabilidade dos lojistas. >
A Prefeitura de Vitória argumenta que as obras citadas, como instalação de coifas, ligação à rede de esgoto e reparos nas janelas, são “ajustes naturais posteriores à entrega de uma obra de restauro, e não de falhas no processo de execução”. De acordo com a administração da cidade, por se tratar do restauro de um prédio antigo, e não a construção de uma nova edificação, “em muitos casos, os ajustes pós-entrega só podem ser identificados com a efetiva ocupação e operação do espaço”. >
Por meio de nota, enviada pela Companhia de Desenvolvimento, Turismo e Inovação (CDTIV), a prefeitura ainda destaca a complexidade do restauro do Mercado da Capixaba. >
“Sua recuperação exigiu uma intervenção cuidadosa, conduzida conforme as normas específicas aplicáveis a bens tombados. Trata-se de um restauro de um imóvel centenário, que preserva características originais, como o telhado, janelas e parte do piso”, diz a nota.>
Diretor da Associação dos Comerciantes do Centro de Vitória, Rodolfo Rodrigues lamenta que a promessa de “uma nova fase para o Centro Histórico da Capital”, como divulgado pela prefeitura na entrega das obras do mercado em julho de 2024, ainda não tenha se concretizado. >
Rodolfo Rodrigues
Diretor da Associação dos Comerciantes do Centro de VitóriaEm conversa com A Gazeta em fevereiro, o diretor da associação chegou a destacar que o preço dos aluguéis cobrados no Mercado da Capixaba também estava fora da realidade do Centro, o que estaria contribuindo para o desinteresse de empresários em investir em pontos de comércio nesse espaço histórico. Cinco meses depois, o cenário, segundo ele, é o mesmo.>
“Quando o mercado abriu, o valor do aluguel (que variava de R$ 45 a R$ 60 por m²) infelizmente já estava fora da realidade do Centro. O comércio de rua está em declínio com o crescimento de shoppings e e-commerce”, pondera o diretor da associação de comerciantes do Centro da Capital.>
Qual o valor do aluguel de uma loja no Mercado da Capixaba?
➥ Em relação ao preço dos aluguéis, A Gazeta apurou que, atualmente, está fixado um valor de R$ 70 pelo metro quadrado. Ou seja, uma loja de 23 m², a menor do espaço, tem aluguel de R$ 1,6 mil. Enquanto isso, a maior, de 103 m², demanda R$ 7.210 mensalmente do bolso dos locatários.
Além da Avenida Jerônimo Monteiro, o Mercado da Capixaba tem portas voltadas para a Avenida Princesa Isabel e para as ruas Arariboia e Desembargador O’ Reile. Na primeira via, as portas fechadas são de uma área administrativa fora da concessão comercial e de uma loja que ainda não está alugada. >
Nas demais, as portas abertas dão acesso à área interna do mercado e a comércios de artesanato, brechó, lojas de aromas e perfumes, roupas femininas, itens para o lar e para uma cantina. >
Nas lojas alugadas e ainda fechadas, devem funcionar, em breve, uma sorveteria, uma cervejaria e mais empreendimentos de gastronomia. A informação foi confirmada por Antônio Cardoso, um dos administradores da concessionária.>
Para ele, o valor do aluguel não é um dos motivos para tantas portas ainda fechadas. Ele acredita que, quando as obras estiverem finalizadas, o espaço vai se tornar atrativo. “Vamos juntar o útil ao agradável, com o mercado entregue em sua estrutura permanente e as lojas abertas e em funcionamento”, afirma. >
Quando o edital de concessão do Mercado da Capixaba foi anunciado pela Prefeitura de Vitória, em março de 2024, foi feita uma projeção de geração de 150 a 200 empregos diretos e indiretos com a reinauguração do espaço. Porém, além da questão estrutural que causa a demora na abertura da maioria das lojas, Antônio Cardoso também pontua que os lojistas têm enfrentado dificuldade para contratar funcionários para atuação no local. >
“Essa é uma dificuldade que não é exclusiva no Espírito Santo. Tem lojista que trabalha em diversas frentes no comércio porque não encontra gente para contratar, fora a dificuldade de encontrar profissionais compromissados com as obras que precisam ser feitas no interior das lojas”, explica o administrador.>
Em meio a esse cenário, a concessionária promove algumas ações para aumentar a atratividade do espaço. Segundo Antônio Cardoso, além de eventos musicais e culturais, uma parceria com empresas de turismo foi firmada para que o Mercado da Capixaba se transforme em ponto de parada de ônibus de excursão. Assim, visitantes podem conhecer as lojas que já estão funcionando.>
“Já que os lojistas estão com dificuldade para a abertura de todos os pontos comerciais, estamos trabalhando para garantir a atração turística com ônibus de excursão. Já recebemos quase 10 mil turistas nesse trabalho da IBGP com os lojistas e com as empresas de viagem para fomentar o Centro com mais um ponto de referência”, frisa Antônio.>
De acordo com Wallace Bonicenha, presidente da Associação de Moradores do Centro de Vitória (AmaCentro), esse é o tipo de ação que deve ser feita para a ressignificação real do bairro.>
“A chegada do Mercado da Capixaba foi aguardada com muita expectativa e é natural que, com isso, também cheguem as cobranças. É preciso criar uma conexão entre os setores para que seja entendida a função e a utilidade do mercado para o Centro”, diz.>
Após vinte anos de portas fechadas, sendo dois deles para reformas em decorrência de incêndio e deterioração do local, o Mercado da Capixaba foi apresentado à comunidade em julho de 2024 para “uma fase de revitalização com grandes investimentos e o fomento de ser um local cada vez mais acolhedor”, como divulgou a prefeitura, durante o lançamento do edital para concessão do espaço, em março de 2024. >
Após a entrega das obras, a gestão municipal apresentou duas datas para inauguração: outubro de 2024 e janeiro de 2025, o que não foi cumprido. A situação, inclusive, chegou a gerar a insatisfação de comerciantes do Centro, como mostrou A Gazeta em fevereiro deste ano.>
Desde o incêndio em 2002, o local passou por uma série de promessas para a reabertura de suas portas. Em janeiro de 2020, o Executivo municipal prometeu que a obra de revitalização ficaria pronta até o fim do primeiro semestre daquele ano, o que não aconteceu por conta da pandemia de Covid-19.>
No ano seguinte, 2021, a prefeitura divulgou uma nova previsão para o início da reforma: primeiro semestre de 2022. Na época, o então secretário de Desenvolvimento da Cidade e Habitação (Sedec), Marcelo de Oliveira, alegou que o projeto que se tinha até aquele momento era muito conceitual para que fosse contratada uma empresa para as obras.>
As intervenções começaram efetivamente no segundo semestre de 2022. Já no início de 2023, a promessa dada foi de que a obra ficaria pronta até o final do primeiro semestre de 2024, quando o espaço foi apresentado ao público, ainda sem as lojas definidas.>
Antes dessa entrega, porém, o espaço chegou até a última semana de inscrições para o edital de concessão sem nenhuma proposta e, depois da contratação, houve ainda a desclassificação da empresa vencedora por não atender aos critérios de qualificação técnica exigidos no certame. Depois disso, a IBGP foi a habilitada para a concessão, com um pagamento mensal de R$ 55 mil à prefeitura.>
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