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Publicado em 30 de julho de 2025 às 14:35
A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) iniciou a restauração do famoso mosaico que fica próximo à entrada do campus de Goiabeiras, em Vitória. Coordenado pela Secretaria de Cultura da instituição, o restauro será possível graças a um investimento de R$ 400 mil, fruto de emenda parlamentar.>
Concluído em 1977, o painel foi criado pelo artista plástico Raphael Samú e, ao longo das décadas, sofreu desgastes devido às condições do clima e às intervenções urbanas muito próximas ao mosaico. Agora, o restauro pretende resgatar a importância da obra não só para a identidade da Ufes, mas para a paisagem artística do Espírito Santo. >
Eustáquio de Castro
Reitor da UfesO projeto de restauração começou a ser planejado em 2019, mas foi interrompido em virtude da pandemia de Covid-19. Em 2023, foi retomado e avançou a partir de um investimento de R$ 400 mil, fruto de emenda parlamentar do senador Fabiano Contarato (PT), apoiado pela bancada capixaba na Câmara dos Deputados. >
Segundo o secretário de Cultura da Ufes, Rogério Borges, a previsão de conclusão dos trabalhos é o primeiro semestre de 2026. Nesta fase inicial, a obra — instalada em uma área total de 168 metros quadrados — mobiliza cerca de 15 pessoas, incluindo o engenheiro e professor aposentado da Ufes Carlos Augusto Nogueira da Gama e o engenheiro Jaime Veiga, consultores do projeto.>
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“Iniciamos o processo de restauro neste mês de julho, com uma fase ‘invisível’ de estudos e diagnósticos, e agora estamos na execução de fato na estrutura do painel”, explica Borges, que salienta a importância da obra de Samú para a cena cultural local. “É um momento histórico, ao mesmo tempo em que há a sensação de ‘momento certo’ para a Ufes. Estamos diante de uma obra realizada nos anos 1970, quando não havia tanto movimento na Avenida Fernando Ferrari. Agora, temos um projeto estrutural para a restauração resistir aos impactos atuais.”>
Artista reconhecido mundialmente, Raphael Samú faleceu aos 92 anos, em 2022, e tinha forte ligação com a universidade, onde foi professor no Centro de Artes (CAr) por três décadas. Samú era casado com a professora aposentada da Ufes Jerusa Gueiros Samú e sua obra mais representativa na universidade terá a colaboração de seu neto, o arquiteto Lucas Samú, na execução do projeto. Além do envolvimento da família, o restauro deve mobilizar a comunidade acadêmica, de acordo com o secretário de Cultura.>
“A criação do painel contou com a participação da comunidade interna, servidores, docentes e estudantes, e seguiremos com essa participação nesse processo atual. A Secult vai realizar um seminário sobre a obra do Samú no mês de setembro, na Galeria de Arte Espaço Universitário (Gaeu), e pretendemos, também, quando concluirmos a obra, publicar um catálogo sobre a restauração”, afirmou Rogério Borges.>
O artista plástico responsável pela restauração do mosaico é Celso Adolfo, ex-aluno de Samú, influenciado por suas obras desde a infância, quando as via pela cidade nos percursos de ida e de volta da escola. Nos anos 1980, Adolfo ingressou em Artes Plásticas na Ufes e teve em Samú uma espécie de orientador para o seguimento da profissão, sempre conversando sobre técnicas e materiais, em especial as pastilhas Vidrotil, utilizadas no mosaico.>
“Ele passou a me indicar como restaurador da obra dele. Conversávamos sobre cores, formas, tudo. Ele era um desenhista enorme, que conseguia traduzir uma arte muralista muito bonita em pecinhas quadradas de 2x2. Era um mestre”, afirma Adolfo. A ideia do projeto de restauração é utilizar a totalidade de pastilhas (ou tesselas) de Vidrotil. “É um material muito bonito. Os mosaicistas de fora ficam admirados com o brilho e a qualidade do esmalte”, diz.>
Atualmente, a execução do projeto está em duas fases simultâneas: o reparo estrutural da parede, que é o suporte do painel, e a parte artística, que acompanha a remoção das pastilhas com catalogação fotográfica para garantir o retorno preciso das peças aos seus lugares originais.>
“Passados mais de 50 anos, as pastilhas sofrem fissuras por conta da exposição à chuva e ao sol. Ocorrem contrações e dilatações nos materiais, e isso influi na vida útil do painel. Então, as pastilhas são removidas para correção das fissuras. E a parte artística vai acompanhando esse processo para já ter tudo mapeado e nada se perder”, explica o artista plástico.>
História do painel
Concebido nos anos 1970 e instalado numa área de 168 metros quadrados, o painel retrata a evolução científica e dialoga com ícones culturais da época, como as histórias em quadrinhos do personagem Flash Gordon. Samú se inspirou também no cotidiano da Ufes, retratando o trabalho de pesquisadores e as vivências dos estudantes.
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