Choveu, alagou... e a atuação do poder público mais uma vez falhou no ES

Não se trata somente de colocar as defesas civis nas ruas quando chove, o que é essencial, mas de elaborar planos preventivos que envolvam investimentos na infraestrutura urbana

Publicado em 14/10/2021 às 02h00
Cobilândia
Rua João Francisco Gonçalves alagada pela chuva nesta terça-feira (12) no bairro Cobilândia, Vila Velha. Crédito: Vitor Jubini

Foi um feriadão chuvoso e sem novidades: o volume de chuvas acima da média para um mês de outubro está causando transtornos que não são surpresa para ninguém: alagamentos em regiões críticas de vários municípios, com destaque para a sempre submersa Vila Velha, crateras nas ruas e deslizamentos. E centenas de desabrigados em todo o Estado.

A repetição dessas cenas tão comuns e incômodas é o principal motivo para se reivindicar soluções de infraestrutura que comecem a amenizar os prejuízos de tantas famílias e comerciantes. A cobrança pode parecer extenuante, já que os resultados não aparecem quando chove, mas não se deve pecar por omissão.

O caso da Dona Nara, que mora em frente a um valão no bairro Nova América, em Vila Velha, há cerca de 50 anos, é emblemático. Ela foi entrevistada pela TV Gazeta. Durante uma vida inteira, ela tem sido testemunha dos constantes alagamentos, que pioram a cada ano. Nada escapa em sua casa: a água sempre avança para todos os cômodos. Para reduzir os danos, reformas já foram realizadas em sua residência para elevar o nível do piso, além de contenções nas portas, mas a cada chuva o drama se repete: os móveis e eletrodomésticos sempre precisam ser erguidos para evitar os prejuízos, que afetam a própria estrutura da casa, com infiltrações.

Dona Nara não é um caso à parte; como ela, tantos outros moradores deste e de outros municípios capixabas sofrem com as chuvas mais intensas, sem que o poder público consiga uma solução definitiva.

Viana, na Grande Vitória, foi tão afetada que decretou situação de emergência na  terça-feira (12), após três dias seguidos de fortes chuvas no município. Foram mais de 200 milímetros de precipitação registrados de domingo a terça. No feriado de Nossa Senhora de Aparecida, o Boletim da  Defesa Civil Estadual colocou Santa Leopoldina no topo do ranking dos municípios com os maiores acumulados diários de chuva: 118,8 milímetros.  Cariacica (104,91 mm), Viana (99,16 mm), Vila Velha (88,93 mm) e Vitória (87,16 mm) foram as cidades subsequentes.

Prefeituras e governo do Estado precisam encarar uma realidade: o regime de chuvas em todo o planeta está mudando, e os eventos climáticos, com certa previsibilidade com o avanço da meteorologia, devem ser tratados com contingência gerencial. E não se trata somente de colocar as defesas civis nas ruas, o que é essencial, mas de elaborar planos preventivos que envolvam investimentos na infraestrutura urbana.

Cobilândia, um símbolo dos alagamentos em Vila Velha, passa atualmente por obras de macrodrenagem, mas o bairro segue embaixo d'água. Por precaução, mães e bebês foram retirados da Maternidade de Cobilândia em uma ação preventiva, para evitar o caos instalado no local quando a água invade o estabelecimento.

Os prefeitos são responsáveis pelo mapeamento de suas próprias cidades, com alertas para áreas de risco crônicas e a demarcação de novos focos de alagamento e deslizamentos. Cada região dos municípios deve receber tratamento que privilegie as suas especificidades geográficas.

E é cada vez mais necessário pensar em uma reorganização urbana, mais moderna na forma de tratar o escoamento das águas das chuvas. Até a escolha dos componentes usados na pavimentação das ruas deve levar em conta o maior potencial de permeabilidade. O gestor público de hoje não pode mais seguir a mesma cartilha do passado: os alagamentos deste feriado são a prova da sua ineficiência. É preciso ousadia.

O gerenciamento das chuvas no Estado carece de uma transformação que passe pela compreensão de que, mesmo sendo um evento natural sobre o qual o ser humano não tem controle, é possível mitigar os transtornos com estudo, planejamento e ação governamental, que envolva também a iniciativa privada. É um trabalho que não cessa, precisa de constante aprimoramento. O que não pode é continuar falhando com tanta frequência.

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