Nobel da Paz é reconhecimento e incentivo a todos os jornalistas do mundo

A filipina Maria Ressa e o russo Dmitri Muratov foram os escolhidos em 2021 pela defesa da liberdade de imprensa e de expressão, "pré-requisitos para sociedades democráticas e para a paz duradoura"

Publicado em 09/10/2021 às 02h00
Nobel da Paz
Ilustração mostra Maria Ressa e Dmitry Muratov, vencedores do prêmio Nobel da Paz de 2021 . Crédito: Reprodução/Prêmio Nobel

Nobel da Paz concedido a dois jornalistas em 2021 — a filipina Maria Ressa e o russo Dmitri Muratov — é uma premiação que se estende a todos os profissionais da imprensa do planeta, incansáveis em seu propósito de garantir a circulação da informação acurada, enfrentando obstáculos para tornar público os malfeitos mantidos na escuridão pelos poderosos.

Não há jornalista por vocação que não tenha se emocionado nesta sexta-feira (8) ao se ver representado por esses dois guerreiros que, mesmo diante das adversidades para o exercício da atividade jornalística em seus países, mantêm-se firmes na denúncia dos abusos das autoridades, verdadeiros arautos da liberdade de expressão.

É um Nobel da Paz carregado de simbolismo, em um tempo no qual a imprensa de todo o mundo sofre os piores reveses, alvo do autoritarismo que não somente age para impedir o trabalho de jornalistas, como para desacreditá-lo. Na era das redes sociais, o método jornalístico se tornou ainda mais relevante para fortalecer os fatos e desmobilizar a desinformação.

Os números da liberdade de imprensa são aterradores. O relatório anual dos Repórteres Sem Fronteiras, avaliação que envolve 180 países, mostra que em 73 deles ela é inexistente ou é alvo de bloqueios graves. Em 59 países, a liberdade de imprensa é limitada em distintos níveis. O Brasil está na 111ª posição desse ranking.

O jornalismo é um contrapeso para os desmandos, por meio da denúncia dos atos ilícitos. É pilar da democracia, sob constante vigilância. E incomoda. Precisa incomodar aqueles que não querem ser incomodados, porque precisam manter seus ilícitos ocultados.

Dmitri Muratov, no comando da  Novaia Gazeta (novo jornal, em russo), é uma pedra no sapato do governo Vladimir Putin por suas investigações sobre corrupção. Com seu jornalismo independente,  honra os seis jornalistas assassinados desde a fundação do periódico, em 1993.  A morte de Anna Politkovskaja, em 2006, foi a que teve mais repercussão na imprensa internacional. O jornalismo de Muratov tem a marca da coragem.

Nada diferente de Maria Ressa. Editora do site de jornalismo investigativo Rappler, ela foi presa pela segunda vez em 2019 pelo governo de Rodrigo Duterte, sob acusação  de violar uma lei contra a difamação na internet, devido a uma reportagem em que acusava um empresário filipino de atividades ilegais.  Maria Ressa não tem permissão para sair das Filipinas. Sob o Nobel, ela escreveu: "Um reconhecimento de como é difícil ser jornalista hoje".

A  porta-voz do comitê do Nobel, Berit Reiss-Andersen, falou sobre o peso da premiação dos jornalistas. "Esse prêmio não vai resolver os problemas que os jornalistas e a liberdade de expressão vêm enfrentando, mas joga luz sobre o trabalho da imprensa e o quão difícil é exercer a liberdade de expressão não apenas em regiões de conflito armado, mas em todo o mundo." 

O Nobel não muda o estado das coisas, mas foi capaz de promover uma situação inusitada. O governo russo chegou a parabenizar  o jornalista pela premiação. "Ele (Dmitri Muratov) trabalha persistentemente de acordo com seus próprios ideais, é dedicado a eles, talentoso e corajoso", afirmou o porta-voz Dmitri Peskov. Um reconhecimento, ainda que enviesado, ou uma provocação implícita? Um incômodo, certamente.

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