"Eu ouço todos os dias as notícias falando desta guerra, deste caos que é o nosso Estado, que é o nosso país. Mas, infelizmente, isso chegou em mim, chegou em minha casa."
O desabafo de um avô que acabou de perder a sua neta adolescente da forma mais brutal e banal que se possa imaginar é mais um grito solitário daqueles que foram derrotados pela violência. A comoção causada por esses episódios, cada vez mais pulverizada pela economia da atenção destes tempos, não demora a se dissipar completamente, e aquilo que durante algum tempo causou indignação acaba caindo no esquecimento. Mas não das famílias das vítimas.
E é preciso abandonar qualquer vestígio de hipocrisia: todos sabem bem quem são os mais vulneráveis a essa violência hoje em dia, as pessoas não estão expostas aos riscos da mesma forma. A jovem Sophia Vial da Silva, de 15 anos, foi morta em um ataque, segundo a Polícia Militar, promovido por dois adolescentes a mando de uma liderança do tráfico porque tanto ela quanto a outra vítima, a manicure Andrezza Conceição, de 31 anos, tiveram o azar de levar suas vidas em um bairro onde há disputa do tráfico e, consequentemente, onde a paz não se avizinha. No caso, Santa Rita, em Vila Velha.
É nos bairros mais pobres que a chance de ser atingido por uma bala perdida é maior, porque há guerras reais em curso em muitos deles. Em ataques como o do último sábado (9), não dá nem para falar em balas perdidas, já que os testemunhos são de que os adolescentes entraram de moto atirando a esmo. A intenção de quem age assim é matar quem estiver pela frente e provocar pânico.
O secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Espírito Santo, Leonardo Damasceno, chamou a ação de ataque terrorista, o que é bem oportuno, para que deixemos de minimizar a violência que está entranhada no cotidiano dos moradores desses bairros, a grande maioria pessoas de bem que só querem a chance de ter uma vida boa, com oportunidades e tranquilidade.
Não é sem razão que o juiz criminal e professor de direito penal Carlos Eduardo Ribeiro Lemos, em entrevista à colunista Vilmara Fernandes, defendeu que a lei antiterrorismo precisa ser alterada para se tornar um instrumento de combate às organizações criminosas. Um ponto pacífico é que nossas leis não estão dando conta de encarar as transformações da criminalidade, e não dá mais para ficar assistindo a tudo isso sem uma reação organizada e eficiente.
A reação do Estado a este ataque está sendo célere, com a prisão de um dos adolescentes envolvidos anunciada pelo governador Renato Casagrande. É o que se espera diante da gravidade do crime. Por coincidência, nesta segunda-feira (11), a sociedade capixaba teve acesso às conclusões do inquérito sobre a morte do empresário Wallace Lovato, em 9 de junho. Foi uma verdadeira força-tarefa para solucionar o caso em dois meses, e é essa eficiência que se espera quando qualquer pessoa é assassinada.
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