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Como insulfilm levou polícia ao suposto mandante da morte de empresário no ES

Como insulfilm levou polícia ao suposto mandante da morte de empresário no ES

Policiais localizaram a loja onde o equipamento foi instalado e conseguiram identificar o primeiro envolvido no crime, que acabou revelando os outros

Publicado em 11 de agosto de 2025 às 15:20

A instalação de insulfilm em um veículo levou a Polícia Civil do Espírito Santo a descobrir cada um dos cinco réus e identificar quem era o suposto mandante da morte do empresário Wallace Borges Lovato, assassinado em 9 de junho na frente da Globalsys, empresa da qual era dono, na Praia da Costa, em Vila Velha. Confira abaixo o passo a passo da investigação.

  • Por volta das 17h do dia 9 de junho, a Polícia Civil recebe a informação de um possível disparo de arma de fogo na Praia da Costa. Uma equipe vai até o local, analisa imagens de videomonitoramento e constata a participação de um veículo modelo Fiat Pulse cinza. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) é acionada para tentar identificar o automóvel. 

  • Durante a noite, uma equipe da Polícia Civil vai até uma base da Guarda Municipal de Vila Velha e consegue identificar o veículo por meio de informações coletadas pelos agentes municipais. Constatam que o carro havia trocado de placa no dia do homicídio.

  • No dia seguinte, os policiais civis de Vila Velha conseguem localizar o veículo abandonado próximo à alça da Terceira Ponte, em Vila Velha. Passam o número do chassi do carro para o setor de inteligência da Polícia Civil, PRF e guardas municipais. Identificam então que o automóvel havia saído de Minas Gerais e chegado ao Espírito Santo em 30 de maio com outra placa.

  • Ao checar com a Polícia Civil de Minas Gerais, constatam que o veículo original estava em Minas e que o do Espírito Santo era um clone. A Polícia Científica é acionada e coleta as digitais deixadas no carro abandonado próximo à Terceira Ponte.

  • A Polícia Civil começa a analisar as imagens do veículo e identifica que o carro estava sem insulfilm dianteiro. É possível ver o condutor, mas ainda sem identificar o rosto. Constatam que no dia 3 de junho o automóvel passa pela Avenida Darly Santos, às 8h30, sem insulfilm, e quando sobe a Segunda Ponte, por volta das 9h30, está com a proteção.

  • Diante dessa informação, os policiais buscam durante dois dias e meio o local onde o veículo poderia ter instalado o insulfilm. Na sexta-feira após o homicídio, identificam o estabelecimento, mas o condutor está de cabeça abaixada e não é possível identificá-lo. Solicitam apoio da Guarda Municipal de Vitória para ter acesso a mais imagens de onde o carro havia passado. A partir daí, conseguem ver quem era o condutor. Com a identificação, pedem a prisão preventiva dele.

  • A partir de um levantamento feito pelo setor de inteligência, é identificado que o condutor havia fugido para Minas Gerais. Montam uma força-tarefa e conseguem prendê-lo em terras mineiras em 17 de junho. Ele é identificado como Arthur Laudevino Candeias Luppi.

  • Durante interrogatório, Arthur Laudevino confessa que havia participado do homicídio e que era o condutor. Indica Bruno Nunes da Silva como o intermediário que fazia o contato com o mandante; Arthur Neves de Barros como sendo o executor; e Eferson Ferreira Alves, como sendo o intermediário que havia desistido de última hora e ido embora para a Bahia.

  • Com essas informações do interrogatório, a Polícia Civil pede a prisão desses outros três suspeitos. Arthur Neves é preso na Paraíba, em 19 de junho. Eferson se apresenta na delegacia em 23 de junho, confirma o que Arthur Laudevino havia relatado e diz que Bruno Nunes era o único que fazia contato com o mandante e que esse mandante realizava pagamentos mensais de R$ 10 mil em espécie a Bruno Nunes.

  • No dia 27 de junho, circulou uma informação falsa de que Bruno Nunes havia sido preso. Na segunda-feira (30), um advogado vai até a delegacia e afirma que seu cliente Bruno Valadares fazia pagamentos a Bruno Nunes a pedido de Wallace. É feita uma investigação no celular do empresário e não é identificado contato de Wallace com Bruno Nunes.

  • É solicitada, então, a prisão temporária de Bruno Valadares, uma vez que as informações informadas pelo seu advogado não batiam com as investigações. Ele é preso em 12 de julho, em casa, onde foram localizados dois carros de luxo, ouro e joias. Ele nega a participação, alega que só mandava dinheiro a Bruno Nunes a pedido de Wallace e, em um segundo interrogatório, só confessa os desvios de dinheiro da empresa, uma vez que era diretor-financeiro.

  • Bruno Valadares alega que o dinheiro desviado era para comer em restaurante bom e ter uma vida melhor.

  • No dia 11 de agosto, a Polícia Civil faz coletiva e divulga que concluiu o caso. Os investigadores afirmam que ainda procuram Bruno Nunes e suspeitam que ele esteja entre Minas Gerais e a Bahia.

A função de cada um no crime, segundo a polícia

Bruno Valadares de Almeida – Mandante (Está preso)
Bruno Nunes da Silva – Intermediário e principal organizador da logística do crime (Está foragido)
Arthur Laudevino Candeias Luppi – Motorista (Está preso)
Arthur Nunes de Barros – Atirador (Está preso)
Eferson Ferreira Alves – Intermediário (Está preso)

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Como insulfilm levou polícia ao suposto mandante da morte de empresário no ES

Durante as investigações, surgiu a tese de que estariam ocorrendo fraudes tributárias na empresa de Wallace e que, por isso, a mando do empresário, o diretor-financeiro Bruno Valadares de Almeida, apontado como o mandante do crime, teria feito transferências de valores aos outros réus. Isso, no entanto, foi descartado pela polícia.

Quando a gente faz a análise via CIAT (Centro de Inteligência e Análise Telemática), vemos que em nenhum momento tem o Wallace mandando ele (Bruno Valadares) fazer emissão de nota fiscal. Pode ser, na verdade, mais uma forma que ele (Bruno Valadares) usou para fazer desvios financeiros da empresa. Emitia nota fiscal falando que tinha feito um serviço e recolhia esse dinheiro sem ter prestado o serviço de verdade

Daniel Fortes

Chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha

A partir de agora, com o bloqueio dos bens dos cinco réus investigados pela morte de empresário, a Polícia Civil começou a segunda fase do processo investigativo voltado à recuperação dos bens desviados das empresas de Wallace.

A defesa de Bruno Valadares – apontado como mandante do assassinato – alegou, em nota, que ele é inocente e que há fatores não compreendidos envolvendo o suposto esquema de desvio financeiro.

Defesa do diretor | Na íntegra

“A Assessoria Jurídica Pires & Pinho informa que representa o Sr. Bruno Valadares de Almeida e declara, de forma veemente, a sua inocência em relação ao crime de homicídio que lhe foi imputado. 

 Por respeito ao devido processo legal e ao trâmite do procedimento no âmbito do Poder Judiciário, não serão prestados esclarecimentos adicionais, além dos mencionados a seguir:

O agora réu, Bruno Valadares de Almeida, vem buscando constantemente esclarecer tudo o que sabe sobre o caso.

 Conforme noticiado na imprensa, existiu, sim, um mecanismo de não comunicação financeira que não só envolvia o denunciado, mas também outros agentes — e isso ele vem denunciando repetidamente, porém não é devidamente compreendido.

O denunciado clama por sua inocência e vê, na imputação criminal que lhe é feita, uma solução fácil e simplista para o caso, tese que será amplamente refutada pela defesa.

Demais informações serão oportunamente divulgadas, conforme o regular andamento do processo e as decisões que forem sendo proferidas pela Justiça.”

Correção
11/08/2025 - 18:29hrs
O título foi alterado para incluir a palavra "suposto", já que os réus do caso ainda não foram condenados.

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