> >
ANTT fica sem dinheiro para pagar o próprio aluguel

ANTT fica sem dinheiro para pagar o próprio aluguel

Agência responsável por administrar concessões de rodovias e ferrovias sofreu corte de orçamento

Publicado em 2 de julho de 2025 às 09:27

BRASÍLIA - A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), órgão federal responsável por fiscalizar todas as concessões de rodovias e ferrovias do país, está sem dinheiro em caixa para bancar o aluguel de sua própria sede, em Brasília, contrato que hoje é de R$ 2,5 milhões por mês.

Informações obtidas pela reportagem mostram que a agência federal vinculada ao Ministério dos Transportes deu início à renegociação do contrato com a empresa J.N. Venâncio Administração de Imóveis, devido aos cortes que sofreu em seu orçamento.

Sede da Agência Nacional de Transportes Terrestres, em Brasília, passa por reanálise de valor de aluguel, devido à crise orçamentária do governo federal Crédito: Divulgação/ANTT - 18/10/2022

A ANTT começou o ano de 2025 com previsão de contar com R$ 298 milhões em caixa para as suas obrigações anuais. O valor já era considerado insuficiente para seus compromissos, se comparado à realidade de anos anteriores, quando recebeu R$ 340 milhões do governo federal. No dia 30 de maio, porém, a situação piorou ainda mais. O governo fez um corte adicional de R$ 74 milhões, comprometendo despesas já assumidas para o ano.

O cenário, conforme documentos da própria agência, resultou na "necessidade de uma supressão abrupta de 50% dos nossos contratos, o que impacta de forma alarmante toda a estrutura regulatória, fiscalizatória e administrativa que sustenta esta agência reguladora".

O aluguel de sua sede passou a ser um dos principais contratos que passam por renegociação. "Cerca de 70% dos contratos desta ANTT estão sendo revistos, com supressão de produtos e entregas, sendo que alguns sequer serão renovados. Destaque especial para os contratos de tecnologia e apoio (mão de obra) que sofrerão uma queda significativa dos quantitativos de seus objetos", afirma a agência, em parecer interno.

Na avaliação da diretoria da ANTT, "não é razoável que, após uma perda de recursos dessa magnitude, não se trabalhe com uma revisão sobre o valor desse contrato" de locação.

O aluguel da sede da agência já é, em si, um tema controverso e que, neste momento, tem seu contrato analisado pelo TCU (Tribunal de Contas da União).

A sede da ANTT foi construída sob encomenda, ou seja, um imóvel feito sob medida para a agência. O contrato original de locação foi assinado em 2010, e a ANTT passou a ocupar o prédio em 2012.

Desde então, a ANTT já pagou cerca de R$ 304,2 milhões em aluguéis, até julho de 2024. Os valores mensais foram reajustados ao longo dos anos, variando entre R$ 2,14 milhões em 2011 e R$ 1,74 milhão em 2024, após negociações que geraram alguns descontos.

No ano passado, um novo termo aditivo ao contrato trouxe uma mudança: a possibilidade de compra do imóvel pela ANTT, transformando o acordo de locação em uma reversão patrimonial. A partir daí, o valor mensal passou a ser dividido em duas partes, com R$ 1,74 milhão cobrados como aluguel e outros R$ 758 mil como parcela da compra do imóvel, pelo prazo de 22 anos e 11 meses.

No início deste ano, o Ministério Público junto ao TCU questionou os termos do acordo, alegando que o termo aditivo teria modificado substancialmente a natureza do contrato, de simples locação para compra do imóvel, sem que houvesse nova licitação.

Os indícios de sobrepreço no contrato, segundo análise técnica do TCU, apontariam que o valor total projetado do contrato seria de R$ 1,615 bilhão, sendo que apenas R$ 402,5 milhões (ou 24,9%) desse montante, estariam associados à compra efetiva do imóvel. O restante dos pagamentos, que chegam a cerca de R$ 1,2 bilhão, se refere à parcela classificada como aluguel mensal

A ANTT negou todas as acusações, declarou que foram contratadas seis empresas especializadas para realizar duas rodadas de avaliação do imóvel e que o valor mensal de R$ 2,5 milhões é compatível com o mercado e foi dividido corretamente, entre locação e parcela de compra. O processo segue em análise pela corte, sem uma conclusão até o momento.

Por meio de nota, a ANTT declarou que o valor referente ao bloqueio de 24% do orçamento previsto também está sendo aplicado a outras agências reguladoras. "Além dos contratos de mão de obra terceirizada, outros contratos relacionados a serviços, fornecimento de bens e manutenção também passarão por ajustes", disse a agência.

Segundo a ANTT, as medidas têm como objetivo garantir a sustentabilidade econômico-financeira da instituição e a continuidade da prestação dos serviços públicos. "A ANTT está buscando se adaptar as restrições orçamentárias da melhor forma possível, visando atender às demandas e minimizar os impactos negativos. Apesar dos desafios impostos pelos contingenciamentos, a agência está empenhada em continuar executando seus projetos regulatórios e manter a qualidade dos serviços prestados".

A empresa J.N. Venâncio Administração de Imóveis não se manifestou até a publicação deste texto.

Este vídeo pode te interessar

  • Viu algum erro?
  • Fale com a redação

Tópicos Relacionados

Orçamento ANTT

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais