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Publicado em 19 de dezembro de 2025 às 09:49
A capacidade de adaptação das cidades do Espírito Santo frente aos impactos das mudanças climáticas agora pode ser acompanhada de perto por toda a população. Um portal lançado pelo governo do Estado elenca indicadores de governança, desenvolvimento econômico e social, segurança em escolas e recursos de saúde disponíveis em cada um dos 78 municípios capixabas. >
O Plano Estadual de Adaptação (Adapta-ES) faz parte do Programa Capixaba de Mudanças Climáticas (PCMC) e conta com dados regionais e também de instituições públicas federais relacionadas à infraestrutura urbana.>
O plano
Ao todo, o projeto tem sete dimensões temáticas:
Governança;
Desenvolvimento econômico e bem-estar social;
Resiliência hidrogeológica;
Escolas seguras e recursos de saúde;
Educação e conscientização;
Proteção dos ecossistemas naturais;
Alerta, prevenção e capacidade de resposta a desastres.
Dentro dessas esferas, são apontadas pontuações das cidades no Índice de Capacidade, Adaptação e Resiliência às Mudanças Climáticas (ICAR). Segundo a plataforma, a pontuação tem a seguinte escala:
0.80 à 1.00: muito alto
0.60 à 0.79: alto
0.40 à 0.59: médio
0.20 à 0.39: baixo
0.00 à 0.19: muito baixo
“O ICAR é uma ferramenta estratégica, desenvolvida para monitorar a evolução da resiliência climática municipal e orientar políticas públicas baseadas em evidências. O índice fornece uma visão sistêmica da capacidade adaptativa, essencial para o planejamento climático estadual e municipal”, informa o governo do Estado. >
Para a especialista ouvida pela reportagem de A Gazeta, a ferramenta é essencial para a conservação da fauna e da flora capixabas e para garantir a segurança da população em múltiplas frentes. Entretanto, embora alguns municípios apresentem boas colocações no ranking, os dados comprovam que todas as cidades ainda têm fragilidades relacionadas à conservação ambiental.>
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Quando considerado o conjunto de dados, Vitória aparece na liderança com os melhores indicadores destacados pela ferramenta, com a marca de 0,72 ponto. Na escala de 0 a 1, a Capital tem a pontuação 0,52 em governança; 1,00 em desenvolvimento econômico e bem-estar social; 0,97 em escolas seguras e recursos de saúde e 0,67 em ações de alerta, prevenção e capacidade de resposta a desastres. >
Por outro lado, os índices mostram uma nota baixa em resiliência hidrogeológica em Vitória: 0,38. Isso indica a necessidade de mais ações para mitigar a exposição e a vulnerabilidade a inundações em áreas residenciais, por exemplo.>
Especificamente no indicador de hidrogeologia, a gestão da Capital afirma ter iniciativas para a redução de riscos de alagamentos, escorregamentos e inundações. Em nota enviada à reportagem, a Prefeitura de Vitória declara que promove um programa para a contenção de encostas e para obras de macrodrenagem e, ao mesmo tempo, avança na retirada de famílias em áreas de risco, encaminhadas para residências entregues pela gestão municipal.>
“O Programa Fonte Viva reforça esse conjunto de iniciativas, com a recuperação e preservação de 58 nascentes catalogadas, ampliando a capacidade de infiltração e retenção da água da chuva. Vitória contratou e está desenvolvendo o maior programa de gestão de eventos climáticos da história do município, coordenado por especialistas renomados em mudanças climáticas. O projeto conta com apoio técnico do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), consolidando um modelo inédito de planejamento climático municipal no Brasil”, informa a PMV.>
No ranking geral, a segunda cidade é Vila Velha, com 0,65 pontos. No município canela-verde, o levantamento revela que os melhores indicadores estão em desenvolvimento econômico e bem-estar social (0,9); educação e conscientização (0,87) e infraestrutura para escolas seguras e recursos de saúde (0,76). >
A menor nota de Vila Velha, porém, está no índice de proteção dos ecossistemas naturais, que demanda a conservação e recuperação ambiental, a cobertura vegetal no perímetro urbano e trata de áreas em processo de restauração ecológica.>
Nesse sentido, a prefeitura afirma que tem ações para reverter o resultado negativo. Entre as iniciativas está um plano para ampliar a arborização em toda a cidade; outro para a recuperação de áreas degradadas e plantio de 50 mil mudas em áreas dos parques Jacarenema, da Manteigueira e do Morro do Penedo; ações para recuperação de restinga em toda a orla e até o projeto para a implantação de painéis solares em prédios públicos para a geração de energia limpa.>
Quando observados os municípios mais populosos da Grande Vitória, Cariacica aparece na quinta colocação, com 0,6 ponto, atrás de Alegre (0,64) e São José do Calçado (0,61). O município cariaciquense tem destaque em resiliência hidrogeológica (0,8), em alerta e prevenção de desastres (0,78) e em educação e conscientização (0,76). >
A menor nota na cidade, porém, está em governança (0,31). Nesse recorte, a ferramenta destaca a estrutura institucional e a capacidade administrativa dos municípios para planejamento e implementação de políticas ambientais e climáticas, com capacitação de servidores e ações de participação social, como audiências públicas sobre o meio ambiente.>
Segundo a Prefeitura de Cariacica, a gestão municipal tem adotado medidas e projetos voltados ao fortalecimento da governança ambiental e à ampliação da resiliência às mudanças climáticas. A cidade também conta com a manutenção de unidades de conservação ambiental, como os parques naturais municipais do Monte Mochuara e o do Manguezal do Rio Itanguá. >
“Essas áreas desempenham papel fundamental na preservação da biodiversidade, no controle do uso do solo e na mitigação dos efeitos climáticos locais. Além disso, o município vem implantando instrumentos de planejamento voltados à prevenção e resposta a desastres, como o Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR), o Plano Diretor de Águas Pluviais (PDAP) e o Plano de Arborização do Município de Cariacica. Essas iniciativas integram o conjunto de ações estratégicas voltadas à adaptação climática, à gestão sustentável do território e à melhoria dos indicadores ambientais municipais”, divulga a PMC.>
Ainda no ranking geral, a Serra, município mais populoso do Espírito Santo, aparece na 8ª posição, com 0,55 ponto. Na cidade, mostra a ferramenta, os melhores indicadores estão em educação e conscientização (0,82), na proteção dos ecossistemas naturais (0,63) e no desenvolvimento econômico e bem-estar social, com 0,69 ponto.>
Entretanto, a cidade tem déficits em governança (0,31), em resiliência hidrogeológica (0,34) e em ações de alerta, prevenção e capacidade de resposta a desastres, recorte em que tem 0,22 pontos.>
Questionada sobre as ações nos tópicos com notas baixas, a gestão do município também destacou, em nota enviada à reportagem, que tem ampliado ações de prevenção, planejamento e resposta diante dos efeitos das mudanças climáticas.>
Entre as ações estão planos de contingência e de redução de riscos e desastres e iniciativas de coordenação da Defesa Civil. Além disso, são feitas intervenções para contenção de encostas, obras de macro e microdrenagem e melhorias de infraestrutura para reduzir deslizamentos, alagamentos e enxurradas.>
“A Sedes reforça que trabalha permanentemente no desenvolvimento de políticas, programas e ações voltadas à redução de riscos, adaptação climática e proteção da população, e continuará avançando para melhorar cada vez mais sua capacidade de prevenção e resposta diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas”, informa a Prefeitura da Serra.>
Para Cristiane Coelho de Moura, professora do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o ICAR é um indicador composto e multidimensional que incorpora, entre suas métricas, dados fundamentais para a avaliação da integridade e a capacidade adaptativa dos ecossistemas frente à mudança do clima global.
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“Considerando a diversidade geográfica, ecológica e biológica do Espírito Santo, o monitoramento desses indicadores é essencial para assegurar a conservação da flora, especialmente de espécies raras, ameaçadas e endêmicas, e da fauna nativa, cujas populações dependem diretamente da existência de habitats preservados e conectados”, defende.>
Neste sentido, algumas ações passam por restauração de áreas degradadas, criação ou ampliação de unidades de conservação e pelo desenvolvimento de projetos municipais direcionados às temáticas avaliadas como frágeis nas cidades.>
“É necessário ampliar substancialmente os investimentos públicos na implementação de soluções baseadas na natureza nas áreas urbanas, em consonância com as recomendações do Plano Nacional de Arborização Urbana. Com isso, destacam-se ações como o alcance do índice de três árvores por habitante, assegurar 30% de cobertura verde por bairro e garantir que cada cidadão esteja, no máximo, a 300 metros de uma área verde”, diz.>
Logo, avalia a professora, a nova ferramenta é estratégica para subsidiar a gestão ambiental no Estado em diferentes níveis, já que orienta a identificação de áreas prioritárias para conservação, restauração e investimentos em políticas ambientais.>
“A ferramenta não apenas atende pesquisadores, gestores e especialistas, mas também permite que qualquer cidadão capixaba visualize, compreenda e acompanhe as regiões mais vulneráveis às mudanças climáticas, promovendo transparência, educação ambiental e engajamento social no enfrentamento desses desafios”, comenta Cristiane.>
A especialista defende que a população deve se informar e se conscientizar sobre as mudanças climáticas que, com eventos extremos — como enchentes, inundações, ondas de calor e secas prolongadas — tendem a se tornar cada vez mais frequentes.>
“Paralelamente, torna-se imprescindível fortalecer a fiscalização ambiental, incluindo mecanismos efetivos de responsabilização e punição para práticas ilegais como desmatamento, queimadas e demais formas de degradação ambiental”, comenta.>
Para isso, Cristiane avalia que o Estado tem uma demanda crescente por profissionais de Engenharia Florestal, que podem atender as demandas emergentes e essenciais para o desenvolvimento sustentável em todos os municípios.>
“O Espírito Santo possui condições excepcionais para se tornar referência nacional em conservação e em cidades verdes e resilientes, basta que essas pautas sejam tratadas como prioridades de governo”, finaliza.>
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