Repórter de Política / [email protected]
Publicado em 27 de abril de 2021 às 02:00
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) volta aos velhos hábitos ao provocar aglomerações e não usar máscara em meio à pandemia de Covid-19, a CPI que deve investigar ações e omissões, entre outros, do governo federal deve ser instalada nesta terça-feira (27). Os senadores do Espírito Santo dividem-se ao avaliar os possíveis resultados da apuração e também quanto à postura do presidente da República.>
Fabiano Contarato (Rede) vê o colegiado com bons olhos e está otimista com a apuração, Marcos do Val (Podemos) descreve uma comissão "enfraquecida" pela formação do grupo e acredita que os trabalhos vão se transformar numa espécie de palanque eleitoral para parlamentares que pretendem concorrer ao governo dos Estados e até mesmo à presidência em 2022. >
Contarato faz oposição ao governo Bolsonaro. O parlamentar está deixando a Rede e tem grandes chances de se filiar ao PT. Já Marcos Do Val – que ocupa una vaga de suplente na CPI da Covid – mantém um mandato mais pautado no conservadorismo e em bandeiras bolsonaristas. >
A emedebista Rose de Freitas, que também assinou o pedido para a criação CPI e apoiou a formação do colegiado, não atendeu às ligações da reportagem.>
>
Os senadores comentam, ainda, as mudanças recentes no comportamento de Bolsonaro. Principalmente após o ex-presidente Lula (PT) retornar ao cenário eleitoral de 2022, o mandatário mudou o tom e começou a respeitar protocolos de saúde, como o uso de máscara, e a defender a vacinação. Com a aproximação da instalação da CPI, no entanto, voltou a se posicionar de forma negacionista e foi visto novamente sem o equipamento de proteção e em meio a aglomerações. Para os senadores, a mudança demonstra quem Bolsonaro "realmente é". Eles adotam, no entanto, tons diferentes ao avaliar o chefe do Executivo.>
Inicialmente, quando foi proposta em fevereiro, a CPI teria como objetivo apenas as ações e possíveis omissões do governo federal durante o combate à pandemia de Covid-19. Durante a criação do colegiado, no entanto, agradando a Bolsonaro e aos senadores da base governista, foram incluídos como objetos de investigação também governos estaduais e prefeituras. >
Contarato era contra a inclusão das esferas estaduais e municipais na CPI, por defender que a apuração nesses casos deveria ser feita nos Estados. Ainda assim, está otimista com os trabalhos do colegiado.>
"Vejo com bons olhos a composição final, com governistas como minoria. Estou otimista no sentido de que a CPI vai apurar de forma cabal a responsabilidade de quem agiu ou se omitiu diante da pandemia. O país está se debruçando em cima disso. Vamos cobrar que o colegiado jogue luz aos fatos", avalia.>
O resultado, para o senador, será a prova de que tanto Bolsonaro quanto seus ministros são responsáveis pelo cenário catastrófico da pandemia, que já levou a vida de mais de 390 mil brasileiros. >
"Estamos passando por um momento muito complicado, temos uma crise sanitária em que o presidente viola sistematicamente as orientações das autoridades sanitárias, ele é negacionista com a ciência, recusou a aquisição de 70 milhões de doses de vacina em meio à pandemia e promove medicações sem comprovação. O governo queria pulverizar ao emplacar governadores e prefeitos. Claro que deve apurar essas verbas que foram para os Estados, mas isso não exclui a responsabilidade do governo federal", sustenta.>
Integrante da comissão, Marcos Do Val discorda do redista. O senador não havia assinado o primeiro pedido de CPI, quando contemplava apenas a investigação de ações do governo federal. Na época, disse que a CPI estava politizada e seria um "discurso populista". Quando seu colega de partido Eduardo Girão (Podemos-CE) fez um pedido para criação de uma comissão que investigasse governadores e prefeitos, Do Val endossou e divulgou em suas redes sociais que fazia "em respeito ao dinheiro público".>
Em seu primeiro mandato eletivo, Do Val afirma que desde que chegou ao Senado escuta que CPIs não dão frutos e, antes, são "desperdício de tempo e dinheiro". Com a comissão completa, o parlamentar aponta uma CPI que "começa enfraquecida" pelos membros que a compõem e que deve se tornar um "palanque eleitoral" para senadores que vão concorrer em 2022.>
"Se vai ter efetividade? Alguma coisa deve sair. Se balança a árvore, algo cai. Mas não da forma como deveria ser, com senadores imparciais, com objetivo de levantar as verbas que foram desviadas. Acho isso por causa da formação. O relator (Calheiros) por si só foi meu embate desde o início, na minha posse eu já havia dito que ele era uma vergonha. Colocar ele foi um grande tiro no pé", assinala.>
Enquanto Contarato acredita que o colegiado vai encontrar evidências da responsabilidade dos membros do governo federal, Do Val acredita que as investigações vão ter foco nos Estados, principalmente porque terão a participação de senadores que querem concorrer ao governo em seus Estados. >
A mudança do discurso de Bolsonaro, que passou a usar máscara e a usar a vacina como bandeira do governo federal – embora não tenha se vacinado –, não durou muito. Mesmo às vésperas da instalação da CPI, o mandatário viajou com o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e foi visto provocando aglomerações, sem usar máscara, retornando ao seu posicionamento negacionista.>
A postura, aos olhos dos parlamentares capixabas, não se trata de uma tentativa de insuflar seguidores, mas apenas um retorno do presidente ao seu comportamento natural. "Bolsonaro não é estrategista. Tudo que ele pensa, fala e faz não tem esse pensamento elaborado por trás. Ele simplesmente voltou a ser o que ele é. Ele aposta muito que a transparência dele, esse jeito sincero de ser, vai fortalecer o governo", opina Do Val.>
Para o parlamentar, a postura combina com o fato de que Bolsonaro não está preocupado com a CPI. "O presidente não está muito preocupado, aliás deveria estar, mas não está. Está apostando todas as fichas que os problemas vão estar nos governos estaduais e municipais. Apesar de que os trabalhos vão começar no governo federal, ele está sendo preparado para responder quando for questionado, por exemplo, sobre a verba gasta na compra de kits covid", pontua.>
Para Contarato, o período em que passou de máscara representou um "aceno" do presidente, principalmente diante da escalada de mortes e da queda de popularidade. Mas ele não conseguiu "sustentar o personagem". "Independentemente do comportamento dele, nada vai apagar o que ele fez por ação ou omissão. O objetivo é esse. Ele não se contém, faz por algum tempo um aceno à ciência, mas depois ele volta ao que ele realmente é", aponta.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta