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Publicado em 16 de junho de 2023 às 07:47
Alvo de mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal (PF) na última quinta-feira (15), o senador capixaba Marcos do Val (Podemos) ganhou notoriedade em nível nacional no início deste ano ao relatar que teria sido convidado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a participar de um plano de golpe para evitar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). >
O parlamentar desmentiu a suposta trama horas depois e deu várias versões distintas para os fatos ocorridos, os quais visavam a prejudicar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que foi quem expediu as decisões cumpridas pela PF contra o senador.>
A operação foi revelada pela colunista Bela Megale e foi realizada em endereços ligados ao senador em Brasília e em Vitória, conforme nota divulgada pela Polícia Federal.>
O senador ganhou espaço no noticiário nacional a partir do dia 2 de fevereiro, quando iniciou o dia falando sobre a conversa ocorrida em dezembro do ano passado com Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) ainda na madrugada, em live em suas redes sociais. Na ocasião, chegou a anunciar que deixaria a política, mas no início da tarde daquele dia recuou e garantiu que não sairia do cargo.>
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A partir de então, ele concedeu entrevistas a diversos veículos e fez declarações em suas redes sociais, pronunciamentos no Congresso Nacional que evidenciavam contradições e davam novas versões aos fatos narrados inicialmente à revista Veja. Na entrevista à revista, detalhou a reunião que participou com Bolsonaro e Silveira, em dezembro de 2022, e disse que no encontro teria sido convidado para participar de um plano para gravar uma conversa com Alexandre de Moraes, que além de ministro do STF é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e tentar usá-la para impedir que Lula tomasse posse no cargo de presidente da República.>
Inicialmente, o senador disse que não teria aceitado participar do plano e, por isso, teria denunciado prontamente ao ministro, apesar das investidas de Daniel Silveira. Na primeira versão, o parlamentar alegou ter sofrido coação do ex-presidente Bolsonaro para se aliar a ele em um golpe de Estado. Contudo, mudou de versões várias vezes e na última delas afirmou que teria manipulado o noticiário com informações desencontradas de forma proposital.>
Depois das diversas versões desencontradas do senador, Alexandre de Moraes abriu uma investigação para apurar as declarações do parlamentar, incluindo possíveis crimes de falso testemunho, denunciação caluniosa e coação. O ministro definiu a suposta tentativa de golpe como um episódio 'ridículo', tentativa de 'operação Tabajara'.>
Em um primeiro momento, Marcos do Val afirmou que teria sido recebido por Bolsonaro numa reunião no Palácio da Alvorada e o então chefe do Executivo teria sugerido que o parlamentar gravasse Alexandre de Moraes. Segundo essa versão, Bolsonaro chamou Do Val à residência presidencial para dar a ele essa missão.>
Depois de receber ligações do clã Bolsonaro, Do Val mudou o relato. Disse que a ideia não partiu de Bolsonaro, mas do ex-deputado Daniel Silveira.>
Em depoimento prestado à Polícia Federal em fevereiro, Do Val não usou a palavra golpe. Ele afirmou que Silveira teria proposto uma "missão importantíssima" que "entraria para a história": que ele fizesse uma gravação clandestina do ministro Alexandre de Moraes e "conduzisse a conversa" na tentativa de induzi-lo a falar "algo no sentido de ultrapassar as quatro linhas da Constituição". O objetivo seria anular o resultado da eleição.>
Do Val chegou a alegar que alertou sobre a ilegalidade do grampo e que Daniel Silveira teria respondido que "daria um jeito para tornar a gravação legal", sem especificar como. De acordo com essa versão do senador, Bolsonaro ficou calado durante toda a conversa, mas em nenhum momento "negou o plano ou mostrou contrariedade". "A sensação era que o ex-presidente não sabia do assunto e que Daniel Silveira buscava obter o consentimento", narrou à PF, em fevereiro.>
Após a citação, em março, o ministro Alexandre de Moraes autorizou a abertura de inquérito para investigar suposto envolvimento de Silveira com os atos golpistas de 8 de janeiro.>
Na quinta-feira, por esse suposto plano de golpe e ainda por postagens antidemocráticas, Marcos do Val se tornou alvo da PF. Os agentes cumpriram mandados no gabinete do senador em Brasília e também em endereços dele em Vitória. Ele teve dois celulares apreendidos, de acordo com informações da Globonews. Juntamente com outros materiais recolhidos, como computadores, todos foram lacrados e enviados para a Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção (Dicor) da PF, em Brasília, onde vão passar por perícia.>
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