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Publicado em 23 de abril de 2021 às 15:54
A carta dos "Governadores pelo Clima" destinada ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assinada por 24 dos 27 governadores brasileiros, foi bem recebida pela Casa Branca. A informação é do embaixador dos EUA, Todd Chapman, em entrevista para A Gazeta nesta quinta-feira (22), após uma reunião entre o diplomata norte-americano e o governador do Estado, Renato Casagrande (PSB). >
Resultado de uma articulação de Casagrande, o documento, em que os chefes dos Executivos estaduais se comprometem com a "emergência climática global" e pedem cooperação para questões ambientais, foi entregue a Chapman em uma cerimônia virtual na terça-feira (20), dois dias antes da Cúpula de Líderes sobre o Clima, convocada por Biden.>
"A carta do grupo de governadores em prol da proteção do meio ambiente, com a liderança do governador Casagrande, foi muito bem recebida pelo meu governo. Nos reunimos há dois dias para falar sobre o tema. É muito importante essa liderança sair dos Estados e sair do Espírito Santo, queria reconhecer isso, porque o governo federal tem sua responsabilidade, mas os Estados também têm. E hoje (22), no dia da Cúpula do Clima, acho importante enfatizar a importância das iniciativas saindo dos Estados", afirmou o embaixador. >
Durante a reunião nesta quinta, realizada na Embaixada americana em Brasília, o representante dos EUA e Casagrande assinaram um memorando de entendimento entre o governo do Espírito Santo e a embaixada norte-americana no Rio de Janeiro, para expandir a cooperação entre os dois dois entes em diversas áreas, como logística e educação. >
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A carta enviada para Biden é mais um movimento encabeçado por governadores que representa um contraponto às ações e aos discursos do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). A tensão entre as lideranças nacionais e estaduais têm se acirrado ao longo da pandemia do novo coronavírus. Dessa vez, a agenda do meio ambiente, historicamente capitaneada pelos governos federais, foi o tema do documento endereçado à Casa Branca, o que colocou os chefes de Executivos estaduais na ponta das negociações entre os dois países.>
Durante a cerimônia de entrega da carta, Casagrande afirmou que a iniciativa não é uma concorrência com as ações do governo Bolsonaro, mas sim uma resposta para "responsabilidades e compromissos" que as unidades federativas têm, "independentemente do governo federal". >
"Nestes últimos dois anos e pouco, o governo federal não deu muita atenção ao tema ambiental, mas queremos que ele dê, e estamos fazendo isso para que o governo federal possa recuperar a sua prática, entrar no tema e nós também entrarmos no tema, junto com toda a sociedade brasileira", disse Casagrande.>
A carta não cita o nome do presidente da República e a única referência indireta feita ao governo federal é para sustentar que a coalizão dos chefes dos Estados é ampla e composta por "situação e oposição". A cerimônia de entrega do documento foi realizada às vésperas da Cúpula do Clima, que reuniu 40 líderes mundiais – incluindo Bolsonaro, ao lado do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, – para debater as mudanças climáticas em razão da emissão de gases do efeito estufa, a pedido de Joe Biden.>
O Brasil era visto como um país que participava ativamente das ações de combate às mudanças climáticas. Contudo, o governo Bolsonaro tem perdido acordos internacionais e sido duramente criticado por outros líderes mundiais quanto à política ambiental brasileira. O movimento dos governadores, portanto, também foi visto como uma forma de se antecipar ao que seria dito pelo presidente na Cúpula do Clima.>
Apenas os chefes de três Estados não assinaram o documento: Daniela Reinehr (sem partido), governadora interina de Santa Catarina; Coronel Marcos Rocha (PSL-RO), de Rondônia; e Antonio Denarium (sem partido), de Roraima. No texto, os líderes estaduais se colocam como os responsáveis pela Amazônia e se dizem dispostos a implantar ações conjuntas com o governo norte-americano.>
"Celebrando a decisão do seu governo em fortalecer a agenda ambiental internacional e o Acordo de Paris, expressamos nossa intenção de implementar ações conjuntas, propondo a cooperação entre os Estados Unidos e os governos estaduais brasileiros, responsáveis pela maior parte da Floresta Amazônica, a mais extensa floresta tropical do mundo, e de outros biomas que, somados, abrigam a mais ampla biodiversidade já registrada e que são capazes de regular ciclos hídricos e de carbono em escala planetária", escreveram.>
Casagrande participou ativamente das articulações pelas assinaturas e foi o porta-voz dos governadores na cerimônia de entrega do documento. Segundo o socialista, a escolha para encabeçar o movimento se deve à sua formação técnica. O governador é engenheiro florestal, graduado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), e atuou em pautas ambientais durante os mandatos de deputado e senador. Quando foi vice-governador na gestão de Vitor Buaiz (1995-1988), ficou quatro anos à frente da Secretaria de Agricultura. >
"A carta é assinada por 24 governadores, alguns mais críticos e outros apoiadores do governo federal, de todos os partidos. Está acima de disputas partidárias e ideológicas. Fui porta-voz porque sou engenheiro florestal, faço militância política e técnica nessa área há muito tempo", disse, nesta quinta, para A Gazeta.>
Para cientistas políticos, Casagrande tem tomado a frente e assumido o papel de porta-voz do grupo de governadores por ter um perfil mais moderado. Além disso, não tem pretensões de disputar o comando do Planalto e, portanto, não representa uma ameaça aos governadores que já rivalizam com Bolsonaro de olho na Presidência.>
Com colaboração de Natalia Bourguignon.>
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