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Obra parada do Minha Casa Minha Vida é tomada pelo mato em Aracruz

Obra parada do Minha Casa Minha Vida é tomada pelo mato em Aracruz

Famílias esperam há seis anos por uma casa, mas as que estavam previstas para serem entregues em 2020 estão abandonadas

Publicado em 27 de janeiro de 2021 às 15:43- Atualizado há 3 anos

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Moradores esperam há seis anos por uma casa em Aracruz
Moradores esperam há seis anos por uma casa em Aracruz. (Reprodução/ TV Gazeta Norte)
Vinicius Zagoto
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Antigas promessas, constantes atrasos e muitos sonhos adiados. Essa é a realidade de 537 famílias de Aracruz, no Norte do Espírito Santo, que há seis anos esperam pela entrega do Residencial Barra do Riacho, pelo programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal. A expectativa era receber as moradias em 2016, posteriormente o prazo mudou para 2020, o que também não aconteceu.

Hoje as obras estão paradas e o único "ocupante" do residencial é o mato que cresce livremente no local, já que o canteiro de obras foi abandonado pela empresa contratada. A construção foi iniciada em fevereiro de 2015, com um orçamento inicial de R$ 30 milhões e previsão para ser finalizada no ano seguinte.

Uma mãe de 41 anos que prefere não se identificar está entre as 537 famílias que aguardam por um teto em Aracruz. Ela conta que tem três filhos e foi expulsa de sua antiga casa. “Estava tudo pronto para a gente entrar nas casas em 2020, mas houve algum problema com a prefeitura, a construtora e a Caixa, e não conseguimos”, disse.

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Eu teria uma casa, eu teria um teto. Hoje eu vivo de favor na casa de parentes. Não posso trabalhar porque tenho um filho especial de 26 anos e vivo em prol dele, vivo para ele

X.x.
Moradora que espera uma casa em Aracruz
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 Os anos que separam a promessa da expectativa são definidos como “a espera de um sonho”, o nome do grupo no WhatsApp onde os futuros moradores se reúnem e se articulam para cobrar a entrega das casas pelo poder público.

Neste grupo também está Maria da Silva Neves, de 57 anos. Com a idade avançando e a visão diminuindo, uma casa própria seria uma segurança a mais, em meio a tantas incertezas financeiras e de saúde. A visão direita já se foi, enquanto a do olho esquerdo também esta prejudicado.

O salário mínimo que ela recebe, graças a um benefício concedido há dois meses pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), é gasto com aluguel, remédios e ajuda à filha. "Desde o meio do ano passado, não recebemos mais o aluguel social da prefeitura", conta.

Jéssica Cristina, de 27 anos, também relata, chorando, a falta que uma casa faz para sua família, que passa muitas dificuldades: "Eu tenho certeza que se essas casinhas estivessem prontas, seriam um dinheirinho a mais que sobraria para eu gastar na alimentação e na educação dos meus filhos. Não precisaria gastar com aluguel", relata.

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É desesperador ver as casas abandonadas e a gente aqui, sem casa, tendo que gastar com aluguel, deixando de comprar um pacote de arroz para inteirar no aluguel

Jéssica Cristina, de 27 anos
Auxiliar de limpeza - Hospital São Camilo 
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ATRASOS E PROBLEMAS NO "MINHA CASA MINHA VIDA" SÃO COMUNS NO ES

O atraso nas obras e os problemas nas construções populares realizadas no Minha Casa Minha Vida caminham juntos no Estado. No final de dezembro de 2020, duas caixas d’água de um condomínio inaugurado duas semanas antes desabaram em cima dos prédios, em Cariacica. Parte dos moradores teve que passar a virada do ano fora de casa.

Em São Mateus, no Norte do Estado, outras centenas de famílias esperam há 10 anos pela conclusão de 463 casas, em um conjunto habitacional no bairro Aroeira.  As obras se iniciaram em 2010 e, em 2017, o atraso e o abandono da construção foram noticiados por A Gazeta. Até hoje os imóveis não foram entregues. 

Em Linhares, também no Norte, as obras do Conjunto Rio Doce e do Residencial Mata do Cacau, no bairro Aviso, foram iniciadas em 2010, mas a primeira entrega ocorreu apenas em 2018. O empreendimento chegou a ser atingido por cheias do Rio Doce, que  destruiu parte da construção. 

Em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado, o sonho da casa própria até virou realidade, mas os problemas estruturais no Residencial Boa Esperança, no bairro Marbrasa, onde os imóveis foram construídos, transformaram o sonho em dor de cabeça. Na época, os moradores sofreram com infiltrações e queda do revestimento nos apartamentos. 

O QUE DIZEM OS ENVOLVIDOS

Prefeitura de Aracruz disse que uma reunião foi realizada em 20 de janeiro de 2021 entre a prefeitura e representantes da Caixa Econômica Federal para saber como está o andamento do processo da contratação de uma nova empresa para finalizar as obras do Residencial Barra do Riacho.

O texto enviado à reportagem diz que a demora na conclusão das obras ocorreu pela desistência do contrato da Construtora AB, no segundo semestre de 2020, responsável pelos serviços, o que atrasou todo o cronograma da entrega.

Caixa  também argumentou que as obras foram paralisadas pela construtora responsável, a AB Empreendimentos Comercial Ltda, e que foi iniciado processo de substituição da empresa, "à luz das regras do programa Minha Casa Minha Vida, estando em fase de seleção e análise de propostas, com perspectiva de retomada das obras para o primeiro semestre de 2021".

O banco responsável pelo programa esclareceu ainda que a data de entrega dos empreendimentos do Minha Casa Minha Vida é definida somente após conclusão das obras, legalização do empreendimento e aceite das concessionárias, de forma a garantir a habitabilidade.

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