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'Sonho despedaçado': o desespero de quem ficou sem casa às vésperas do ano-novo

"Sonho despedaçado": o desespero de quem ficou sem casa às vésperas do ano-novo

Duas caixas-d'água de um empreendimento do Minha Casa Minha Vida ruíram nesta quarta (30) em Cariacica. Moradores relatam que o condomínio, um sonho de anos para 496 famílias de baixa renda, agora virou um pesadelo

Publicado em 30 de dezembro de 2020 às 21:29

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Caixas d'água do Condomínio São Roque I e II desabaram e moradores tiveram que deixar suas casas
A diarista Chirley Janey Souza Correia, 47, que teve seu apartamento destruído pela caixa-d'água no Condomínio São Roque I. (Carlos Alberto Silva)

Quase nada restou da casa da diarista Chirley Janey Souza Correia, 47 anos, após o desabamento das caixas-d'água do Residencial São Roque, na manhã desta quarta-feira (30) em Cariacica. O apartamento número 104, localizado no primeiro andar do bloco 6, para o qual ela se mudou no último Natal, está destruído.

Agora, as vésperas do ano-novo, ela viu seu sonho e a espera dos últimos três anos desmoronar em questão de minutos. O desespero passou a ser um sentimento comum entre os moradores.

Duas caixas-d'água que atendem aos edifícios do Residencial São Roque I e II, condomínio do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), no bairro Padre Gabriel, Cariacica, se romperam na manhã desta quarta-feira (30).

empreendimento foi inaugurado no dia 14 de dezembro, após quase três anos em obras, e custou mais de R$ 40 milhões. Ele atende pessoas de baixa renda que se enquadram na Faixa 1 do MCMV, que é composta por famílias mais carentes, que possuem renda mensal de até R$ 1,8 mil.

Ao todo, 496 famílias foram beneficiadas com os imóveis do local, segundo o governo federal. Porém, desde a sua entrega, elas vem enfrentando problemas, como a rede de internet que ainda não foi instalada e a falta d'água, problema que persistirá já que os dois reservatórios se romperam.

Ainda não há previsão para o reestabelecimento desses serviços básicos no residencial e, para piorar a situação, 40 famílias ficarão sem casa. São moradores dos blocos 6 do Residencial São Roque I  e 5 do São Roque II, que foram interditados. Eles tiveram que deixar seus lares ou, no caso de quem ainda iria mudar para lá, não poderá ir.

496 FAMÍLIAS
MORAM NOS RESIDENCIAIS SÃO ROQUE I E II

A diarista Chirley conta que se mudou no dia 23 de dezembro para o condomínio. Moram com ela o namorado e os dois filhos, um de 9 anos e outro de 3 anos e 8 meses, que tem síndrome de Down.

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Felizmente, quando as caixas desabaram não tinha ninguém em casa. Eu estava trabalhando em Vitória, quando o meu vizinho do bloco 2 avisou que a primeira torre havia caído. Quando ele desligou e voltou a ligar ele me avisou que a segunda tinha caído e afetado o meu apartamento. Ainda não caiu a ficha

Chirley Janey Souza Correia
Diarista
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Caixas d'água desabam de prédios do Minha Casa Minha Vida(Vitor Jubini)

A diarista lembra ainda que no momento em que soube do ocorrido, decidiu voltar para casa e ao chegar chegou viu a imagem da destruição.

"O meu ventilador eu comprei na quarta-feira (23) para vir para cá, a cama novinha está toda molhada, as portas do guarda-roupas destruídas. Até o sofá mudou de lugar. Além do buraco na parede. O Natal eu passei na mudança. Agora, no ano-novo, que íamos poder respirar e aproveitar um pouco do apartamento, aconteceu isso", desabafa.

A empregada doméstica Senamara Coveiro da Silva Leandro, 49 anos, também viu seu sonho ser despedaçado na manhã desta quarta. A moradora do bloco 5 do São Roque II chegou há sete dias no novo endereço. Antes morava de aluguel.

Caixas d'água do Condomínio São Roque I e II desabaram e moradores tiveram que deixar suas casas
Senamara coveiro da Silva Leandro, 49, doméstica, moradora do Condomínio São Roque I. (Carlos Alberto Silva)

A filha de Senamara mora no bloco 6 do São Roque I, que também foi interditado. Agora a mãe, que está desempregada, e a filha estão desalojadas. "Fiz a inscrição há três anos e fiquei aguardando para receber uma moradia. Agora na virada de ano vou ficar sem casa. Foi um sonho despedaçado. Mas Deus proverá."

 Sem gravar entrevista, a filha de Senamara contou que ela estava na casa da mãe na hora em que a torre que fica ao lado da casa dela desabou. Com o barulho, ela desceu para o térreo e pouco depois a caixa-d'água ao lado da casa de Senamara também veio ao chão.

Caixas d'água desabam em condomínio de Cariacica
Anilda Correia dos Santos: dois anos de espera. (Vitor Jubini)

A estudante de pedagogia Anilda Correia dos Santos, 45 anos, também passou um sufoco nesta manhã. Ela mora com os três filhos (duas meninas, uma de 19 anos e outra de 13 anos, e um menino de 5 anos) no segundo andar do bloco 5 do São Roque II.

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Consegui tirar roupa para as meninas, o carrinho do menor e o celular, mas o resto deixei lá. Eu estava arrumando a casa quando escutei um estouro. Vi que a caixa do bloco 6 tinha caído e desci com os meus filhos. A caixa próxima ao nosso apartamento parecia que ia cair também. Entrou água no quarto das meninas porque quando a caixa caiu a água subiu e a janela estava aberta

Anilda Correia dos Santos
Estudante de pedagocia
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Anilda conta ainda que desde que se mudou, no dia 18 de dezembro, o condomínio vem enfrentando diversos problemas por causa das caixas-d'água, entre eles vazamento e falta dela durante alguns dias. "Esperei dois anos na fila para conseguir ter o apartamento e agora estou nessa situação. Posso ficar na casa da minha mãe, mas serão mais quatro pessoas com ela", diz.

O QUE DIZ A EMPRESA

A Cobra Engenharia, responsável pela execução do empreendimento, afirmou que "está fornecendo os cuidados necessários para os moradores, incluindo fornecimento de água potável e alimentação e hospedagem. Está providenciando carros pipa para o condomínio e já trabalha na solução para o restabelecimento do fornecimento de água".

Segundo a construtora, uma empresa paulista foi a responsável por projetar, produzir e montar as torres d'água. "[A empresa] foi acionada desde o momento do acontecido estando a Cobra Engenharia no aguardo de posicionamento acerca das razões do incidente e providências por parte da responsável". O nome dessa empresa não foi divulgado.

A Cobra Engenharia lamentou o ocorrido e afirmou que "vem trabalhando incansavelmente na solução dos problemas e buscando as causas do infortúnio e se compromete a acompanhar e cobrar ações para a resolução, o mais breve possível, para a volta da normalidade dos moradores" e que "vem colaborando com as autoridades na busca da resolução dos problemas com a maior brevidade possível".

O QUE DIZ A CAIXA E O GOVERNO

A Caixa informou que enviou equipe técnica ao local e acionou a construtora Cobra Engenharia para prestar atendimento às famílias e implementar as medidas emergenciais necessárias. Segundo o banco, é de responsabilidade da construtora o atendimento emergencial às famílias, bem como as providências necessárias ao restabelecimento do abastecimento de água e demais reparos nas edificações.

"Informamos ainda que o banco, na condição de representante do Fundo de Arrendamento Residencial – FAR, realizará perícia técnica para identificar as causas do problema e as responsabilidades, bem como continuará acompanhando a situação do empreendimento até a sua solução plena, dando o suporte técnico necessário para resguardar o patrimônio e segurança das famílias", afirmou a Caixa.

O Ministério do Desenvolvimento Regional informou que "as equipes técnicas do MDR e da Caixa estão trabalhando em conjunto com a construtora responsável pela obra, para o atendimento emergencial às famílias, a rápida apuração das causas do desabamento, bem como a apresentação de soluções que serão empregadas para o restabelecimento da infraestrutura".

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