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'Investir não é só para rico. A partir de R$ 35 já é possível', diz sócia da XP

"Investir não é só para rico. A partir de R$ 35 já é possível", diz sócia da XP

A especialista em investimentos e sócia da XP Inc. Ana Laura Magalhães esteve em Vitória e deu dicas para quem quer fazer o dinheiro render mais e de forma segura. Veja entrevista

Publicado em 7 de fevereiro de 2020 às 20:54

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Ana Laura Magalhães, especialista em finanças e investimentos e sócia da XP Inc. (Geraldo Campos Jr)

A taxa Selic caiu mais uma vez nesta semana, indo para 4,25% ao ano, novamente o menor índice da história. A poupança viveu um 2019 trágico, com um rendimento menor que a inflação. E a Bolsa de Valores brasileira vem batendo sucessivos recordes e deve chegar em breve aos 120 mil pontos. Tudo isso tem feito com  que cada vez mais brasileiros comecem a aplicar de melhor forma suas economias, mas o receio de ser um investidor ainda existe.

Essa é a avaliação da especialista em finanças e investimentos Ana Laura Magalhães, que é sócia da XP Inc. e esteve Vitória nesta semana para uma palestra promovida pela Golden Investimentos. Ela conversou com A Gazeta e deixou claro que não existe essa história de que investir é coisa para rico, uma vez que a partir de R$ 35 já há opções de aplicações.

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Um receio que o brasileiro tem é de que 'não tenho dinheiro para investir' e que 'investimento não é para mim'. Isso não existe. Investir não é só para rico. A partir de R$ 35 você consegue hoje  ter um investimento na aplicação mais segura do Brasil, que é o Tesouro Direto

Ana Laura Magalhães
Sócia da XP Inc.
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Ana Laura é fundadora do canal Explica Ana, com quase 15 mil inscritos no YouTube e 145 mil no Instagram, onde ela busca explicar de forma simples e sem "economiquês" o mundo dos investimentos.

Na entrevista, ela deu dicas de como fugir da baixa rentabilidade de investimentos atrelados à Selic mas não descartou essa possibilidade. Ana Laura ainda elaborou um passo a passo para quem começar a investir mas conhece pouco sobre isso. Veja o bate-papo e confira os cinco passos para começar a investir no final da matéria:

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    O investimento com a Selic não deixa de ser opção. Por mais que a Selic esteja baixa, a renda fixa é importante para se ter uma reserva de emergência. O brasileiro precisa entender que a renda fixa não vai existir na sua carteira como uma possibilidade de retorno absoluto, exceto algumas [opções] voltadas para crédito privado. Mas quando se quer reserva de emergência, não tem como fugir da Selic: se você quer retirar o seu dinheiro rápido e ter segurança, não tem porque você ficar na poupança. Nos últimos três anos, o Tesouro Selic rendeu 32% a mais que a poupança, simplesmente pela forma como eles são remunerados. Então, para quem nunca teve nenhum tipo de investimento, quer começar agora e está com o dinheiro na poupança, fazer essa troca de poupança para Tesouro Selic é tão simples, tão barato e tão melhor para o seu rendimento que não tem porque continuar com esse dinheiro na poupança, e hoje a gente tem R$ 800 bilhões na poupança. Então, é muito dinheiro que o brasileiro deixou de ganhar só deixando de alterar de um investimento que ele acha que é seguro para um que de fato é mais seguro. Agora, para o brasileiro que já entendeu que não tem como conseguir rendimentos interessantes para uma preservação de patrimônio de longo prazo na renda fixa, aí está na hora de aproveitar esse cenário de juros na redução mínima e diversificar o portfólio de investimentos. E você não precisa sair do conservador e ir direto para o arriscado, nem sair daquele investimento de segurança e ir para uma aplicação onde pode perder tudo. Tem é que ser feito um passo a passo, uma trajetória. O legal é começar a sair da renda fixa, às vezes começar uma renda fixa de crédito privado, que pode ter um pouco mais de risco envolvido mas vai ter uma rentabilidade interessante; depois, partir para alguns fundos de investimentos multimercados, que além da renda fixa tenha alguma inserção de dólar, de commodity e outras moedas; e só depois ir para um investimento onde você pode de fato ter uma volatilidade muito alta, como ações, fundos imobiliários. É uma trajetória.

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    A primeira coisa é ter uma conta em uma corretora, porque quando o brasileiro pensa em investimentos ele logo pensa em banco. Mas nem sempre o banco é o melhor lugar para ela conseguir uma aplicação interessante. E as corretoras vieram para democratizar as aplicações financeiras. Um receio que o brasileiro tem é de que "não tenho dinheiro para investir" e que "investimento não é para mim". Isso não existe. Investir não é só para rico. A partir de R$ 35 você consegue hoje ter um investimento na aplicação mais segura do Brasil, que é o Tesouro Direto. E as corretoras vieram para oferecer aplicações acessíveis e descomplicadas. E muitas são totalmente gratuitas para o investidor final. Depois de ter uma corretora você precisa se fazer três perguntas. A primeira é saber o quanto você quer investir, entendendo o quanto vai querer aplicar, se vai querer fazer aportes mensais ou toda vez que sobra seu salário. A segunda é quanto tempo você vai deixar esse dinheiro aplicado, porque o planejamento em cima desse saldo vai ser muito diferente de acordo com o seu objetivo. Se você quer juntar dinheiro para fazer uma viagem daqui a dois anos é diferente de juntar dinheiro para o seu plano de aposentadoria daqui a 30 anos. Então entender quando você vai resgatar esse capital é muito importante também na escolha do produto financeiro que você vai ter. E, por fim, o último passo é entender seu perfil de investidor. São três perfis: conservador, moderado e agressivo. A maioria se julga conservadora porque não entende, mas não é bom ir direto para o agressivo também. Eu acho que, por senso comum, a maioria dos brasileiros são moderados, que é aquele investidor que não quer perder dinheiro mas gostaria de ganhar mais, deixando uma parcela do capital disposto a ganhar mais e caso dê errado não comprometa a carteira de investimentos.

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Ana Laura Magalhães, especialista em finanças e investimentos e sócia da XP Inc. (Geraldo Campos Jr)
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    Primeiro porque a gente não é acostumado a investir. A gente não aprende na escola, nem na educação básica nem na faculdade. A primeira característica que atrasa um pouco essa evolução do pensamento de investimento do brasileiro é a cultura. Depois tem a tradição, já que os nossos pais viveram em períodos complicados e não tiveram essa tradição para repassar, a gente não aprendeu de família. E tem ainda o receio do desconhecido: todo mundo gosta de ganhar dinheiro mas ninguém sabe como fazer isso. As pessoas são muito levadas a falsas promessas de rentabilidade rápidas e altas, que acabam sendo falcatruas. Então o ponto principal para a gente curar esses três fatores é educação financeira. Antigamente ninguém falava de política, [ninguém sabia] quem tomava as decisões, quem era ministro... E hoje em dia você consegue falar sobre isso, [as pessoas] sabem quem foi o Lula, quem foi aquele ministro, o que foi a Lava Jato. Ficou comum e as pessoas precisaram aprender, se politizar e se tornarem cultas em relação àquilo que impactava a vida delas no dia a dia. E com investimentos é a mesma coisa, estamos vivendo um processo de aprendizado incipiente.

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    Continua. Com a taxa de juros tão baixa acompanhada de uma redução da inflação, acontece naturalmente um deslocamento de dinheiro das pessoas que estavam acostumadas a altas rentabilidades com a Selic alta. Então, a Bolsa ainda é o melhor investimento? Sim. As previsões são de que a Bolsa chegue a 120 mil pontos e acho que estamos muito perto de chegar. Mas Bolsa não é necessariamente só as ações que você conhece. 

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Na Bolsa, a gente também negocia fundos imobiliários, que também são investimentos excelentes com a queda dos juros; ETFs, que são investimentos super interessantes que trazem uma diversificação do portfólio; fundos; e small caps, que são ações de empresas menores, pouco negociadas e pouco líquidas. Em 2019, por exemplo, o melhor investimento da Bolsa foi em um fundo de small caps. Mas todo mundo quando entende que precisa sair da renda fixa e ir para ações olha para empresas que conhece e que escuta falar

Ana Laura Magalhães
Sócia da XP Inc.
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    A XP está vivendo um momento superinteressante após o IPO que aconteceu no ano passado. Estamos realmente numa fase de expansão. A empresa tem 20 anos de história embora tenho ficado mais em evidência recentemente. Mas a ideia é que ela ainda cresça muito principalmente para o lado de tecnologia. A maior área estratégica da empresa é essa, além de ter foco no mercado de capitais. O que é isso? Com a redução da Selic, não tem papel. Se todo mundo tirar o dinheiro da poupança hoje, que são R$ 800 bilhões, não têm onde investir, não tem produto. Então, a gente precisa expandir a área de mercado de capitais. Precisa ter novas emissões de renda fixa, novas emissões bancárias, novos créditos privados, IPOs, follow-ons, e é isso que a gente espera de um mercado em ascensão.

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    O ano de 2020 está deixando os analistas econômicos meticulosos sobretudo em relação as eleições dos Estados Unidos. Se for para falar de alguma coisa que estaria trazendo receio seria isso. As eleições nos EUA são importantes porque se continuar o governo republicano do [Donald] Trump a gente já sabe mais ou menos o que esperar daqui para a frente, embora ele seja um político cheio de surpresas. Se vier uma vertente democrata, - sendo que os democratas dos Estados Unidos ainda não tem nem uma figura presidenciável para apresentar para as eleições que já vão acontecer esse ano -, a gente não sabe que tipo de tomada de decisão vai acontecer para impactar países emergentes, guerra comercial, guerras lá no Oriente Médio, etc. É muita coisa para a gente prestar atenção. Então 2020 é um ano para a gente olhar para as eleições dos Estados Unidos, para também para as reformas tributária e administrativa aqui no Brasil além da agenda de privatizações.

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    A Organização Mundial da Saúde já declarou que é uma epidemia grave. Isso é muito ruim, mas o problema é como a gente lida com ele. A capital financeira da China é Xangai, e a bolsa de lá ficou fechada até o dia 4 de fevereiro. O primeiro vírus foi identificado no dia 29 de dezembro. Então, a China acabou fechando suas bolsas para dizimar os impactos. E isso acabou favorecendo a gente minimamente, porque algumas ações de empresas que são automaticamente impactas pelo consumo chinês como as grandes exportadoras, acabaram dando uma segurada aqui. A nossa bolsa no dia principal do surto do coronavírus caiu 3%. Não é muito se a gente olha para o "Joesley Day", que foi o dia que foi divulgado um áudio comprometedor do então presidente [Michel] Temer em 2017, foi um dia que a bolsa caiu de uma vez mais de 10%. Ou seja, não tem como a gente olhar para o coronavírus como algo que afeta os nossos investimentos diretamente. No longo prazo, dentro de uma carteira sequencial, pode ser que a gente tenha algum impacto.

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OS CINCO PASSOS PARA COMEÇAR A INVESTIR

  • 01

    Procure uma corretora de investimentos

    A primeira coisa é procurar e abrir uma conta em uma corretora de investimentos, explica Ana Laura: "O brasileiro quando pensa em investimentos costuma pensar de cara em banco. Mas é preciso entender que nem sempre o banco é o melhor lugar para conseguir uma aplicação interessante. Na maioria dos casos, não. E as corretoras vieram justamente para democratizar as aplicações financeiras, oferecendo produtos acessíveis e de forma descomplicada".

  • 02

    Defina o quanto você quer investir

    Depois de ir a uma corretora, uma das primeiras perguntas que te farão e que você precisa ter resposta é quanto você quer investir. "Você tem que saber o quanto você vai querer aplicar: se vai ser tudo de uma vez, se vai querer fazer aportes mensais ou toda vez que sobra seu salário."

  • 03

    Pense por quanto tempo você quer investir

    Outra decisão importante que você precisa já ter em mente é o tempo que você pretende deixar esse dinheiro aplicado. "O planejamento em cima desse saldo vai ser muito diferente de acordo com o tempo e o seu objetivo. Se você quer juntar dinheiro para fazer uma viagem daqui a dois anos é diferente de juntar dinheiro para o seu plano de aposentadoria daqui a 30 anos. Então, entender quando você vai resgatar esse capital é muito importante também na escolha do produto financeiro que você vai ter", diz a especialista.

  • 04

    Descubra qual o seu perfil de investidor

    Depois disso, junto com a sua corretora, você precisa entender qual o seu perfil de investidor. São três perfis: conservador, moderado e agressivo. "A maioria se julga conservadora porque não entende, mas não é bom ir direto para o agressivo também. Eu acho que, por senso comum, a maioria dos brasileiros são moderados, que é aquele investidor que não quer perder dinheiro mas gostaria de ganhar mais", comenta Ana Laura.

  • 05

    Escolha em que investir

    Depois de todas essas definições, é preciso escolher os produtos financeiros em que você irá colocar seu dinheiro. O ideal é ter uma carteira de investimentos diversificada. Para quem quer ter um investimento seguro e voltado para uma reserva de emergência, aplicações atreladas à Selic não deixam de ser uma opção. Outras boas opções, segundo Ana Laura, são aplicações de renda fixa de crédito privado e alguns fundos de investimentos multimercados. 

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