Publicado em 9 de julho de 2020 às 20:41
Por meio de um único aplicativo, o Caixa Tem, é possível receber e fazer operações com o auxílio emergencial de R$ 600, o benefício da redução de salário (BEm) e também o FGTS emergencial. Porém, muitos usuários têm relatado que o dinheiro tem "sumido" das suas contas. >
O Caixa Tem já vem deixando muita gente irritada pela longa fila de espera até poder finalmente abrir o aplicativo. Em alguns dias, é preciso aguardar mais de uma hora apenas para conferir o saldo ou pagar um boleto, por exemplo. Para evitar a fila, muita gente tem optado por usar outras instituições financeiras para movimentar o dinheiro que ficaria guardado na poupança digital da Caixa. >
Além disso, nos primeiros dias de pagamento do auxílio emergencial e do FGTS, por exemplo, a Caixa não autoriza saques ou transferências do valo: só pode usar para pagar boletos e para compras feitas pelo cartão digital através do aplicativo. Isso abriu uma brecha para que as pessoas encontrassem uma forma de "transferir o dinheiro" do Caixa Tem para outro banco ou fintech e, com isso, pudessem sacá-lo.>
O problema é que nos últimos dias, diversos usuários das fintechs (startups que trabalham para inovar e otimizar serviços do sistema financeiro como PicPay e Nubank) relataram problemas como "sumiço" do dinheiro do auxílio emergencial: o dinheiro não aparece nem no banco digital nem no Caixa Tem. >
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O advogado e diretor de Relações Institucionais do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Igor Britto, aponta que o sistema brasileiro de pagamentos deveria ser eficiente para rastrear a movimentação e identificar o paradeiro desse recurso. >
Igor Britto
Advogado e diretor de Relações Institucionais do IdecJá a advogada especialista em defesa do consumidor Denize Izaita Pinto, afirma que em alguns casos cabe processo cível e penal contra as empresas. Na hipótese de que a empresa esteja se apropriando do dinheiro do consumidor, ela responderia processo tanto por danos materiais - reparação do valor que foi perdido ou extraviado -, quanto por apropriação indébita.>
"Nesse caso consumidor deve procurar os órgão de defesa federais e também, caso a empresa não resolva a situação, fazer um Boletim de Ocorrência em uma delegacia de defraudações, por se tratar de crime", comenta.>
Os depósitos em bancos digitais como Nubank e PicPay são realizados através transferências e de boletos, já que estas instituições não possuem agências bancárias. Muitas pessoas conseguiram retirar o dinheiro do auxílio emergencial do Caixa Tem emitindo boletos para suas contas nessas empresas.>
Porém, uma falha no sistema da Caixa fez com que um valor superior aos R$ 600 fosse debitado do Caixa Tem. Dessa forma, muitas pessoas receberam acima do permitido. Diante dessa situação a estatal entrou em contato com as instituições financeiras e pediu a devolução dos valores. >
Tanto o PicPay quanto o Nubank concordaram em realizar o estorno dos valores à Caixa. O Nubank já havia começado a devolver o dinheiro dpara a Caixa Econômica quando no meio do caminho notou que o que existia era boletos duplicados. Ou seja, não havia pagamento em dobro nem irregularidade. Foi então que o Nubank suspendeu as transferências para a Caixa. >
A transferência de dinheiro de um banco ou fintech para outra, por exemplo, não é uma operação automática. Primeiro, o valor é descontado da conta de origem, depois ele fica numa fila aguardando para ser processado e liquidado, e só depois entra como crédito na conta de destino. >
Isso pode demorar até 48h, como é o caso do PicPay, por exemplo. O dinheiro some, mas reaparece. E se não for creditado na outra conta, será estornado.>
No caso da não compensação dos boletos com finalidade de depósito, outra queixa realizada, também falta compreensão do prazo. Segundo as fintechs, não é que as operações não ocorreram. É que isso pode demorar até três dias para ser compensado e virar saldo na conta do usuário. >
Nem todo banco digital é banco de verdade. Mas o que isso quer dizer? Algumas dessas empresas são apenas instituições de pagamentos e funcionam como carteiras digitais, e por isso não possuem garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), por exemplo. Ele é uma espécie de mecanismo de proteção para que os pequenos investidores não sofram perdas financeiras com a falência das instituições financeiras onde depositaram seus rendimentos.>
Mesmo que as instituições financeiras no Brasil performem entre as mais seguras do mundo, nada impede que problemas ocorram com elas. Todos os bancos e fintechs sofrem fraudes diariamente, porém isso não é muito divulgado para não comprometer a imagem das empresas nem a segurança do setor financeiro como um todo.>
Se você faz parte do grupo de pessoas que viu o dinheiro do PicPay ou da NuConta simplesmente sumirem e ainda não teve o problema solucionado, existem três alternativas:
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1. Acionar a ouvidoria da própria instituição financeira, o SAC - entrar em contato com ela e pegar um número de protocolo.
2. Reclamação no Banco Central (BC) - você pode abrir uma reclamação (clicando aqui) ou pelo telefone 145. Como o órgão fiscaliza as instituições financeiras, dificilmente o problema não será resolvido. Mas, é preciso lembrar que o BC atua de maneira coletiva.
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3. Canais de defesa do consumidor
O PicPay informou que mais de 2,9 milhões de usuários concluíram a transferência do auxílio emergencial para o app com sucesso e que, por instabilidade do sistema do Caixa Tem, um pequeno percentual das transações entre o aplicativos e o PicPay não é concluído. "Nesses casos, o usuário deve fazer nova tentativa. Se a Caixa tiver debitado o valor utilizado para a transferência, o estorno deverá ser realizado pelo próprio banco", afirmou. >
O Nubank comunicou em suas redes sociais que atendeu ao pedido da Caixa, mas que ao perceber as críticas dos clientes, suspendeu os estornos, devolveu os valores e aguarda explicações do banco.>
Já Caixa nega problemas. Segundo o banco, "acerca de relatos de intercorrências em pagamentos e transferências do Caixa Tem para fintechs, não foram identificadas falhas nos sistemas internos do banco". A estatal disse ainda que, apenas na última quarta-feira (8), já foram realizados com sucesso mais de 1,6 milhão de transações com o cartão de débito virtual, e processados cerca de 6 milhões de boletos sem nenhum incidente no sistema de cobrança da Caixa. >
(Com informações de Geraldo Campos Jr.)>
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