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Caixas-d'água tinham "erros gritantes" de fabricação, aponta Crea-ES

Caixas-d'água tinham "erros gritantes" de fabricação, aponta Crea-ES

Empresa responsável pela produção das torres pode ser punida civil e criminalmente, de acordo com o conselho. Análise parcial identificou irregularidades na espessura e na qualidade do aço utilizado

Publicado em 30 de janeiro de 2021 às 14:30- Atualizado há 3 anos

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Trabalho de retirada da caixa d'água do Residencial São Roque I, em Padre Gabriel, Cariacica
Caixa d'água do Residencial São Roque I, em Padre Gabriel, Cariacica desabou em cima do prédio . (Fernando Madeira)

"Erros gritantes" na fabricação das caixas d'água podem ter provocado o desabamento dos dois reservatórios dos residenciais São Roque I e II, no bairro Padre Gabriel, em Cariacica, em 30 de dezembro do ano passado. A análise é do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES), divulgada neste sábado (30), um mês após o acidente. De acordo com a instituição, a empresa Camarço Reservatório, responsável pela produção das torres, pode ser punida nas esferas cível e criminal. 

"A construção dos imóveis é de excelente qualidade. No entanto, o grande problema que houve aqui está diretamente ligado ao projeto executivo das caixas d'água, feito pela empresa de São Paulo", afirmou o presidente do Crea-ES, Jorge Silva. "Há erro de fabricação e falhas técnicas, não respeitando as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)."

Aspas de citação

Há problemas de espessura, de material, da qualidade do aço que foi utilizado. São erros gritantes

Jorge Silva
Presidente do Crea-ES
Aspas de citação

Durante entrevista concedida no residencial neste sábado, o presidente do Crea-ES disse que variantes meteorológicas, como rajadas de vento, também podem ter contribuído para as quedas.

Jorge Silva afirmou ainda que a empresa vai ser punida pelo conselho, e pode ter que responder na Justiça pelo desabamento. 

"A empresa pode ser punida civil e criminalmente. E, durante esta semana, ela vai ser punida pelo Crea, com auto de infração pelas infrações cometidas. Não se pode admitir que uma empresa de São Paulo, que está atuando no Espírito Santo há mais de dois anos, não tem um visto aqui. As anotações de responsabilidade técnica dela só foram feitas e entregues agora. Então, tem vários erros. Inicialmente, ela deve sofrer cinco autuações", disse Silva. 

O presidente do Crea-ES listou as autuações que serão emitidas para a Camarço Reservatório. Entre elas, negligência no prazo do envio de documentos, uso indevido de materiais, e falhas graves nos projetos executivo e estrutural.

Primeiro, por questão de negligência, com relação a mandar os documentos no prazo determinado. Segundo, porque as anotações de responsabilidade técnica foram de regularização e não previamente emitidas. Terceiro com relação aos usos indevidos de materiais que poderiam ser feitos pela ABNT. Quarto, porque não tem registro no CREA do Espírito Santo; e quinto porque, de fato, nós concluímos que o projeto executivo e de fabricação possui falhas grave, que poderiam, podem ou causaram esse grande acidente. Isso aí só vamos concluir nos próximos 15 dias”, destacou.

Além disso, Jorge Silva afirmou que a empresa será proibida de atuar no Estado. "Ela vai ser proibida, de imediato, de atuar no Espírito Santo", completou.

A empresa Camarço Reservatório foi procurada pela reportagem para comentar a análise feita pelo Crea-ES e falar sobre as ações que estão sendo realizadas durante as investigações, mas ainda não retornou. 

RELATÓRIO FINAL EM 15 DIAS

Essas informações prestadas pelo Crea-ES ainda são parciais e foram abordadas durante uma vistoria técnica no condomínio neste sábado. O relatório final sobre a queda das caixas d'água será divulgado em 15 dias, de acordo com o conselho.  

empreendimento residencial foi inaugurado no dia 14 de dezembro, após quase três anos em obras, e custou mais de R$ 40 milhões. Na ocasião, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, esteve no Estado para a cerimônia.

Os proprietários dos apartamentos são pessoas de baixa renda que se enquadram na Faixa 1 do Programa Minha Casa Minha Vida, que é composta por famílias mais carentes, que possuem renda mensal de até R$ 1,8 mil. No total, 496 famílias moram nos residenciais São Roque I e II. 

Duas semanas depois da inauguração, no dia 30, duas caixas d'água de cerca de 15 metros de altura desabaram, sendo que uma delas atingiu o teto e o quinto andar de um dos edifícios.

Do total de apartamentos, 40 unidades do bloco 6 do São Roque I e cinco do São Roque II foram interditadas devido ao acidente. Os moradores tiveram que deixar seus lares.

Até este sábado (30), 20 apartamentos do bloco 6 do Residencial São Roque I foram liberados e as famílias voltaram às suas casas. Foi sobre ele que uma das torres d'água caiu e ficou apoiada por dias, até que fosse feita a retirada.

A outra torre-d'água que desabou foi ao chão, destruindo parte da lateral do bloco 5 do São Roque II. A previsão da Cobra Engenharia, responsável pela construção do residencial, é de que a reconstrução das unidades atingidas seja concluída em 12 de fevereiro. Até lá, as 20 famílias devem permanecer fora de casa.

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