Publicado em 20 de agosto de 2020 às 21:23
A deputada federal Soraya Manato (PSL-ES) confirmou que recebeu laudos e informações médicas da garota de 10 anos que engravidou após ser estuprada pelo tio, em São Mateus, Norte do Espírito Santo. A gravidez foi interrompida após procedimento realizado em Pernambuco.>
Segundo a parlamentar, as informações foram enviadas para seu celular, por um aplicativo de mensagens. Tive acesso ao laudo de um médico. Uma pessoa me enviou o laudo do médico e nele dizia que o bebe tinha 23 semanas e mais de 500 gramas, relatou.>
As informações referem-se a dados da garota no período em que ela foi atendida no Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), em Vitória, onde o procedimento para interromper a gravidez foi negado. >
Soraya também explica que recebeu as informações de laudo de um médico do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), em Pernambuco, onde foi realizado o aborto. Tive informações de Recife de que o bebê, após a interrupção, tinha 24 semanas e 640 gramas, relatou.>
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A parlamentar garante, no entanto, que não repassou as informações para outras pessoas, e nem divulgou os dados pessoais da menina na Câmara Federal ou em redes sociais.>
Recebi dentro da minha casa, no meu celular, não tinha ligado para ninguém. Sou uma parlamentar, sou médica, tenho ética. A pessoa se sentiu na necessidade de me enviar, para que eu fizesse alguma coisa. Tive acesso aos dados, mas não divulguei nada. Só falei do peso e da idade gestacional com o objetivo de mostrar que não se tratava de um aborto e sim de um parto prematuro, assinalou.>
Nesta quinta-feira (20), para a colunista da Folha de São Paulo, Mônica Bergamo, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSol-SP) informou que pediu ao Conselho Federal de Medicina (CFM) que investigue a parlamentar Soraya Manato (PSL-ES) por ter tido acesso ao laudo médico da menina.>
Sâmia questiona se não haveria ligações de Soraya com a ativista Sara Giromini, que divulgou dados pessoais da menina. Abro meu celular para quem quiser, para a polícia conferir que não repassei nenhuma informação, disse Soraya.>
Em relação à Sara, a parlamentar capixaba afirma não ter nenhum contato ou relação com ela. Nem sei quem é. Aliás, esta Sara nunca foi de direita, é de esquerda infiltrada na direita para fazer este tipo de coisa. O que ela fez foi um absurdo, divulgar dados de uma criança em um caso tão grave como este, assinalou.>
Segundo Soraya, sua busca por informações sobre o caso veio após a recusa dos médicos do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam) em realizarem a interrupção da gravidez da menina. O Hucam é um hospital de grande porte, com urgência, emergência, UTI neonatal e é referência. Porque não poderia realizar o procedimento? Fiquei desconfiada, relata.>
As informações por ela obtidas, relata, foram utilizadas para mostrar que não era necessário aplicar medicações que levassem à morte do feto. Com este tempo gestacional o bebê é viável. Poderiam ter feito o parto sem matar o bebê. Estamos defendendo a vida da criança que poderia ter sido encaminhada para a adoção, ressaltou.>
O mesmo laudo, segundo a parlamentar, informava que a jovem não tinha nenhuma complicação de emergência. Não havia sinais de pré-eclampsia, ou eclâmpsia, ou hellp síndrome, e nem diabetes, conta.>
Soraya afirma que, embora seja contra o aborto, respeita a legislação brasileira, até mesmo as que autorizam o procedimento. Sou cristã, evangélica, contra o aborto,mas também respeito as leis do meu país, assinalou. >
O entendimento da deputada é diferente do médico que coordenou o procedimento de interrupção da gravidez da garota de 10 anos, Olímpio Barbosa de Moraes Filho, gestor executivo do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), da Universidade de Pernambuco. >
No caso de estupro, a norma técnica é até 22 semanas, mas não é proibitivo acima de 22 semanas. E consideramos também a gravidez de uma menina de 10 anos, que não deseja a gravidez de maneira nenhuma, afirmou em entrevista concedida na segunda-feira (17).>
O Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) está investigando os fatos relacionados ao atendimento médico oferecido à garota de 10 anos que foi estuprada e engravidou. >
O presidente do Conselho, Celso Murad, explicou que uma denúncia foi feita por uma deputada ao Conselho Federal de Medicina (CFM), que a encaminhou ao Estado. Recebemos a denúncia na tarde desta quinta-feira (20). As investigações são realizadas onde os fatos ocorreram, explica Murad. >
O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) também instaurou um procedimento para investigar possíveis vazamentos de informações sobre a menina de 10 anos. Todas as informações relativas ao caso são sigilosas.>
Eles também recorreram à Justiça contra a extremista Sara Giromini, que divulgou dados pessoais da criança. A ação pede que ela seja condenada a pagar R$ 1,3 milhão a título de dano moral o dinheiro, em caso de condenação, será revertido ao Fundo de Direitos da Criança e do Adolescente de São Mateus.>
Outra investigação partiu do Ministério Público Federal ( MPF-ES), que enviou um ofício à superintendente do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), Rita Checon, e ao reitor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Paulo Sérgio de Paula Vargas. >
O Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam) também abriu uma investigação interna para checar se dados sigilosos da garota foram divulgados a partir da unidade hospitalar.>
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