Publicado em 27 de outubro de 2020 às 17:29
Ambientes com pouca circulação de ar, alta rotatividade de pessoas e muitas superfícies em metal. Essas características já colocam os ônibus na lista dos locais onde há mais chances de ser infectado pelo novo coronavírus. O risco, no entanto, é potencializado pela insistência de alguns passageiros em não respeitar a regra que obriga o uso de máscara, alertam os médicos. >
Não é à toa que o uso da máscara é obrigatório. Ele tem um papel importante contra a doença ao evitar que pessoas saudáveis entrem em contato com as gotículas dos contaminados, assim como a disseminação do vírus por doentes aos falar ou tossir. Ela é a principal barreira para impedir que o SarsCov-2 se espalhe em lugares fechados, como é o caso dos ônibus.>
No entanto, os especialistas observam que alguns passageiros acabam retirando a peça ao entrar nos coletivos por incômodo, para falar ao celular e até por acreditarem que já estão imunes por já terem sido infectados, embora não haja evidências científicas sobre o tempo a imunização dos anticorpos duram no organismo.>
A infectologista Rubia Miossi pontua que os capixabas demonstram estar atentos sobre a necessidade de usar o álcool em gel durante as viagens nos coletivos ao contrário da tendência nacional de relaxamento , mas nem todos usam a proteção no rosto e acabam colocando a própria vida e a dos outros passageiros em perigo. >
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"Em um ônibus lotado, a máscara pode ser insuficiente caso várias passageiros ali tenham o vírus. Quinze minutos em contato com o vírus é o tempo médio para que haja um risco alto de contaminação. Mas, se todos estiverem com a máscara, todos ficarão seguros. A conduta de uma única pessoa pode afetar o bem estar do coletivo inteiro", declara a infectologista, acrescentando que os ônibus são um dos principais vetores da doença na Grande Vitória.>
O infectologista Lauro Ferreira Pinto lembra que ainda enfrentamos um momento instável da pandemia. No Espírito Santo, por exemplo, o número de casos voltou a aumentar nas últimas semanas, trazendo uma discussão sobre a segunda onda da doença. Devido à importância das máscaras nesse contexto, ele diz que só será possível dispensar o uso dessa item de proteção quando os casos "despencarem".>
"Por isso, agora mais do que nunca, a preocupação com a máscara prevalece. A sociedade quer voltar ao normal. A sociedade está cansada. Mas a doença está aí fora. Até que os casos tenham despencado, esse cuidado tem que permanecer", defende Ferreira.>
Os dados obtidos na quarta fase do inquérito sorológico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), realizada em junho deste ano, indicam que boa parte dos contaminados pela Covid-19 no Estado pode ter sido infectada enquanto utilizava o coletivo.>
De acordo com a pesquisa, cerca de 29,1% dos capixabas que testaram positivo passaram mais de 30 minutos dentro do transporte público, onde quase nunca é possível respeitar a distância mínima de um metro, recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Do total de contaminados, 21,9% também entravam nos veículos pelo menos quatro dias por semana.>
O vírus dentro dos coletivos ganha força, principalmente, por causa das pessoas que apresentam sintomas e ignoram a doença. Mas, é importante lembrar que ela pode ser transmitida mesmo que a febre e a falta de ar apareçam, por isso o uso das máscaras por todos é fundamental", pontua Miossi. >
Outro dado que reforça a necessidade do uso de máscaras é o tempo de permanência do vírus no interior dos veículos. Um estudo feito por pesquisadores norte-americanos revelou que o novo coronavírus pode sobreviver por até 4 horas em objetos de cobre, como moedas, e 9 horas no metal, como os corrimões dos ônibus e as portas. Já em materiais de plástico ou inox, como chaves e cartões de passagem, o vírus pode permanecer até por 3 dias se a área não for higienizada corretamente.>
"Tornou-se difícil limpar os ônibus durante as viagens. Lógico que eles devem ser higienizados ao menos nos terminais, só que o ideal seria desinfectar as poltronas a cada passageiro. Sabemos que isso é impossível. À medida em que as pessoas tocarem na janela ou no corrimão, portanto, é preciso que tomem cuidado por conta própria e usem álcool, ressalta Ferreira.>
Segundo os especialistas, os passageiros também precisam se atentar para o uso correto da máscara. Para que ela ofereça a proteção adequada, é preciso que cubra totalmente o nariz, a boca e o queixo e que não fique folgada no rosto, especialmente nas laterais. Eles ainda recomendam que ao menos duas máscaras reservas sejam levadas dentro da bolsa.>
"Entendo que nem todos podem abrir mão do transporte público, mas têm pessoas que tiram a máscara para fumar, coçar e limpar o rosto. Acabaram de encostar a mão no corrimão e põem ela na boca. Isso é inapropriado. Também não é bom tocar na parte da frente da máscara, pois pode estar infectada", defende Ferreira.>
Já para quem não descuida das medidas de segurança e acaba sentando ao lado de alguém sem máscara, o recomendável é sair de perto o mais rápido possível. "Não adianta chamar a atenção da outra pessoa, porque isso pode gerar confusão dentro do coletivo. Então o mais adequado é deixar o ambiente, mudar de poltrona", orienta Rúbia Miossi.>
A falta de máscara fez com que duas passageiras trocassem agressões físicas dentro de um Transcol, na sexta-feira (16), em Vila Velha. A briga começou quando uma delas se negou a ficar no ônibus a proteção no rosto, embora seu uso seja obrigatório desde maio deste ano.>
Mesmo após ser abordada pelo motorista, que pediu para que a mulher colocasse a proteção, ela resistiu. Outra passageira ficou indignada com a situação e a discussão teve início, o que resultou em xingamentos, socos e na ida de passageiros para prestar depoimento na delegacia.>
Usuários do Sistema Transcol reclamam que tem sido frequente a circulação dos ônibus com lotação acima da capacidade ideal e com pessoas sem máscaras. De acordo com eles, os ônibus estão transitando sem um número máximo de pessoas e distanciamento social de 1,5 metro nos terminais não é fiscalizado.>
(*) Maria Fernanda Conti é aluna do 23° Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, sob supervisão das editoras Joyce Meriguetti e Érica Vaz.>
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