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Avaliação e ensino integral são apostas para ES melhorar o Ideb em 2021

Avaliação e ensino integral são apostas para ES melhorar o Ideb em 2021

Especialistas reconhecem que a crise da Covid-19 afeta a Educação, e sugerem medidas para reduzir os impactos negativos

Publicado em 16 de setembro de 2020 às 18:57

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O Espírito Santo terá uma série de desafios para manter o crescimento nas avaliações de desempenho educacionais. (Freepik)

A cada resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), com aplicação bienal de provas, o Espírito Santo demonstra avanços na qualidade do ensino. Ainda assim, o Estado não tem conseguido alcançar as metas estabelecidas para o ensino médio desde 2009. Portanto, há muitos obstáculos a serem superados. Com a pandemia da Covid-19, o cenário mostra-se ainda mais desafiador. Avaliações diagnósticas, ensino integral e implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) são apostas de especialistas para reduzir o impacto da crise sanitária no processo de aprendizagem. 

Na avaliação mais recente, referente a 2019,  a meta do Espírito Santo era 4,7, porém o Ideb observado foi de 4,6. No país, apenas Goiás e Pernambuco superaram o índice estabelecido para a etapa do ensino médio. De todo modo, nenhum Estado apresenta desempenho na rede estadual com proficiência em Língua Portuguesa e Matemática nos patamares considerados ideais que são, nesta ordem, 300 e 350. Neste componente do Ideb, o Espírito Santo foi o que apresentou melhor resultado no Brasil, com notas 286,95 e 289,14, nas duas áreas respectivamente. 

Caio Sato, coordenador do núcleo de inteligência do Todos pela Educação, reconhece as melhorias obtidas pela rede estadual capixaba, porém ressalta que não é possível perder de vista o parâmetro de qualidade definido pelas metas e a necessidade de se avançar na proficiência nas disciplinas avaliadas. "Alguns Estados acabam se destacando, mas num patamar muito baixo", observa. 

Para ele, o Espírito Santo subiu alguns degraus quando passou a investir mais fortemente em educação de tempo integral, projeto que, em sua opinião, deveria ser ampliado em 2021.  Mesmo com os avanços registrados até o momento, o Estado ainda enfrenta problemas na qualidade da oferta e, como no restante do país, anteriores ao ensino médio. Caio Sato aponta que os anos finais do ensino fundamental revelaram, no Ideb 2019, praticamente uma estagnação, o que vai afetar diretamente a etapa seguinte.

"É uma etapa que marca a transição entre anos iniciais e o ensino médio. É, de certa forma, decisiva para fazer essa trajetória adequada entre o começo da escolaridade básica e o seu final. É necessário investir em bons programas de recuperação de conteúdo, dado os resultados da proficiência até aqui, para que o aluno chegue ao ensino médio em condições de aprender e, assim, possa concluir a educação básica na idade certa", pontua. 

A gerente de Desenvolvimento e Pesquisa do Itaú Social, Patricia Guedes, observa que os anos finais do ensino fundamental têm sido o grande gargalo da educação básica atualmente e, não por acaso, registram uma escalada nos indicadores de reprovação e evasão escolar. "É uma etapa em que as crianças se tornam adolescentes, que merece políticas específicas e, por isso, é preciso entender as suas particularidades. Como é a formação inicial e continuada dos professores especialistas? Há propostas pedagógicas interessantes que estimulem o protagonismo do jovem, que trabalhem por projetos? ", questiona Patricia, já indicando os aspectos que merecem atenção para a melhoria do ensino nessa fase. 

PREJUÍZOS

Os desafios que a educação no país enfrenta ganharam um novo viés com a pandemia da Covid-19. Os prejuízos para a aprendizagem e o risco de aumento da evasão escolar, que compõem o resultado do Ideb, precisam ser mitigados, ressalta Caio Sato. 

"São duas dimensões que vão ser colocadas muito à prova na pandemia. Estudantes que tiveram dificuldade de acessar à tecnologia, no ensino remoto, vão precisar de bons programas de avaliação diagnóstica e recuperação de conteúdo", exemplifica. Também serão necessárias ações, reforça Caio Sato, para resgatar os alunos que deixarem a escola. 

Outro desafio, na avaliação do especialista, é em relação ao financiamento público. Há uma tendência de queda de investimentos em Educação nos próximos anos, mas a área, ressalta, precisa estar na agenda prioritária. E, com a proximidade das eleições municipais, Caio Sato considera que a população deveria exigir maior compromisso dos agentes políticos ao setor. 

Patricia Guedes, gerente do Itaú Social, acrescenta que a recente aprovação do Fundeb que, agora, passa por regulamentação para sua implementação, é indispensável na garantia de recursos à Educação e, ainda, estabelece regras para monitoramento da eficiência dos gastos. 

BASE CURRICULAR

Na área pedagógica, há que se investir, segundo Caio Sato, na implementação efetiva da base curricular e no novo ensino médio, fortalecendo escolas de tempo integral e o ensino profissionalizante. "Os resultados gerais do Ideb mostram que, somente com essa abordagem sistêmica, será possível avançar mais."

A diretora de Educação da Fundação Lemann, Camila Pereira, ratifica que a BNCC é um instrumento importante para atenuar os prejuízos no pós-pandemia.  "Para minimizar os impactos na aprendizagem e corrigir defasagens, a Base Nacional Comum será uma ferramenta de apoio muito importante para gestores e professores, ajudando a dar clareza sobre as prioridades de aprendizado e a organizar a volta às aulas."

Camila sustenta que o longo período sem as atividades presenciais nas escolas terá um reflexo bastante significativo para a educação do país. Para ela, o debate sobre a reabertura das escolas não está recebendo a devida atenção no Brasil e, quanto mais tempo demorar a voltar, pior ficará o cenário.

Sedu, professor
Nas escolas da rede estadual será adotado o currículo continuado no biênio 2020/2021. (Sedu/Divulgação)

"A pandemia deve impactar a aprendizagem em todas as etapas da educação básica. Corremos o risco de perder avanços importantes dos últimos anos. Estudos mostram que seis meses de escolas fechadas podem corresponder ao equivalente a um ano ou mais de déficit de escolaridadade. Some-se a isso os desafios emocionais que alunos estão vivendo por estarem longe de seus professores e seus amigos. Claro que precisamos de segurança para poder reabrir. Mas vários setores fizeram discussões intensas e aprofundadas sobre as condições de segurança ideais para a reabertura e já estão voltando ao normal. Enquanto isso, nossos alunos seguem perdendo dias letivos preciosos e oportunidades de convívio, desenvolvimento e aprendizagem", pondera.

E, para quando as atividades presenciais forem retomadas, a gerente Patricia Guedes orienta  que as redes já façam o planejamento do conjunto de estratégias de acolhimento, de busca ativa de alunos que evadiram, de valorização do professor e das famílias que têm se empenhado para que, mesmo com todas as dificuldades, o aprendizado seja garantido. 

"É fundamental a compreensão de que, em uma mesma escola, na mesma sala de aula, os alunos vão voltar com experiências muito diferentes da pandemia. As avaliações têm que ser cada vez mais formativas para ajudar na recuperação, no nivelamento e ajudem a reduzir as desigualdades de aprendizagem, sem excluir ninguém, sem deixar ninguém para trás", atesta a especialista do Itaú Social.

RESULTADOS ANTERIORES

Professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e doutora em Educação, Cleonara Schwartz recomenda que, independentemente de pandemia, o resultado de Ideb seja sempre usado pelos gestores das escolas para avaliar em que pontos é possível avançar, em que áreas é preciso maior dedicação para melhorar o processo de ensino-aprendizagem.

"É necessário levar para o interior das escolas, de cada turno, em cada grupo de profissionais. Isso é importante porque começam a aparecer as especificidades e a análise desses dados ajuda a replanejar as ações", argumenta Cleonara, em entrevista para a CBN Vitória nesta quarta-feira (16). 

No contexto da pandemia, a educadora acrescenta que o Estado acertou ao adotar o currículo continuado em 2020/2021, que deverá favorecer os estudantes porque, entre outras regras previstas, não haverá reprovação no final deste ano. 

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"Essa é uma medida assertiva, importante. Concluir o ano sem haver retenção para que, em 2021, possam ser replanejados os conhecimentos a serem trabalhados. A cultura de que a reprovação faz estudar mais é um mito. Ao contrário, quando a escola consegue dar mais oportunidade para o aluno, ele vai ter mais engajamento, o processo de ensino-aprendizagem vai ser melhor desenvolvido e, aquilo que não foi possível ser aprendido durante a pandemia, certamente terá mais êxito sem a pandemia", conclui Cleonara. 

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