Fugas, mortes... há algo estranho acontecendo no Complexo Penitenciário de Xuri

Episódios recentes, como a fuga de 21 presos na última sexta-feira (2), exigem apuração rigorosa e transparência

Publicado em 09/12/2021 às 02h02
Xuri
Fumaça registrada no Complexo de Xuri, em Vila Velha, em março deste ano. Crédito: Leitor de A Gazeta

fuga de 21 presos durante o banho de sol na Penitenciária Estadual de Vila Velha I, no Complexo Penitenciário de Xuri, teve  organização e planejamento daqueles que se costuma ver em séries e filmes. As suspeitas apontam que o objetivo da ação seria libertar um preso específico, o "financiador" da escapada, e a liberação dos demais teria sido calculadamente estratégica, para provocar tumulto e confundir quem estivesse na missão de recapturá-los. No enredo, havia até um carro à espera do preso responsável pelo plano.

Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), que responde pelo sistema prisional capixaba, limitou-se a se manifestar sobre a abertura de processos administrativos disciplinares (PAD) contra cinco inspetores penitenciários e um chefe de equipe, sendo que nenhum deles foi afastado do cargo. Em nota, enfatizou que "procedimentos de segurança são realizados diariamente para impedir atividades ilícitas nas unidades. As apurações do caso também irão apontar se houve falha no cumprimento dos protocolos de segurança ou alguma ação por má fé". 

A fuga foi registrada na sexta-feira (2), quando a Sejus havia informado um número distinto de presos que escaparam: 18. No sábado (3) pela manhã, o número foi atualizado para os atuais 21. Seis foram recapturados. Um demonstrativo de que a recontagem dos presos possivelmente não tenha sido feita com facilidade. Uma discrepância que tanto pode mostrar um descontrole da administração prisional quanto um mero deslize matemático. Certo é que gera desconfiança. 

Sobretudo porque o Complexo Penitenciário de Xuri já tinha sido cenário, em novembro, de uma outra fuga e de duas mortes. Adailton de Almeida Beraldo, preso preventivamente por homicídio, fugiu do Centro de Detenção Provisória, localizado no complexo, durante uma visita no parlatório, onde não há contato entre interno e visitante, separados por uma parede de vidro. As circunstâncias precisam ser devidamente apuradas, porque o mínimo que se supõe é que exista algum tipo de monitoramento durante essas visitas.

E, também em novembro, dois presos foram encontrados mortos em diferentes prisões do complexo. No dia 22, um detento caiu e bateu a cabeça; já no dia 30, outro interno veio a óbito, sem que mais informações tenham sido divulgadas. A desconfiança de que a situação esteja fora de controle acaba sendo alimentada quando não há mais transparência sobre as circunstâncias desses episódios. Principalmente no que diz respeito à ocupação do complexo. 

A informação do Monitor da Violência divulgada pelo site G1 em maio era de que, de acordo com os dados referentes a fevereiro de 2021, havia 22.909 encarcerados no Espírito Santo para 13.858 vagas, 65% acima do que o sistema carcerário capixaba suporta. Mesmo que não se trate especificamente dos números de Xuri, os episódios mais recententes mostram que algo no mínimo estranho acontece dentro dos portões. 

Em março passado, uma fumaça preta avistada no presídio chamou atenção de quem passava pela BR 101. A lembrança das fugas e rebeliões que dominaram o sistema penitenciário capixaba nos anos 80 e 90 veio imediatamente à mente das pessoas que viveram a época.  Tempos marcados pela ausência do Estado nos presídios que precisam se manter no passado. No fim, a Sejus garantiu que se tratou da queima de alguns materiais descartados do presídio. Não se pode ignorar os sinais, e os que vêm atualmente de Xuri causam justa preocupação.

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