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Brasil x China: Ferrovia do Atlântico ao Pacífico é sonho, mas ES deve estar atento

Os governos dos dois países assinaram, na segunda-feira (07), um memorando de entendimento para a construção de um complexo ferroviário entre os portos de Ilhéus, na Bahia, de Chancay, no Peru

Vitória
Publicado em 09/07/2025 às 03h00
Vports
Vports revitaliza estrutura ferroviária e de galpões no complexo portuário . Crédito: Carlos Alberto Silva

Os governos de Brasil e China assinaram, na segunda-feira (07), um memorando de entendimento para a construção de um complexo ferroviário entre os portos de Ilhéus, na Bahia, de Chancay, no Peru. Ligando, portanto, o Atlântico ao Pacífico. O objetivo é reduzir os custos do comércio entre os dois países. Projeções do governo peruano indicam que a nova rota pode reduzir de 40 para 28 dias o tempo médio de transporte de cargas do Brasil para a Ásia. A China já é, há algum tempo, o maior parceiro comercial do Brasil - grande compradora de alimentos e minério e grande vendedora de todos os tipos industrializados, como carros elétricos. 

A ideia é conectar uma série de trechos rodoviários (existentes, em obras, planejados e estudados) entre Mato Grosso e Ilhéus - destacadamente Fico (Ferrovia de Integração Centro-Oeste) e Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), e construir uma via completamente nova entre Mato Grosso e Chancay - cruzando os Andes e a floresta Amazônica. Trata-se, apesar de ainda não haver estimativas de custo e cronograma, de algo de proporções gigantescas e que observa o longo prazo. Difícil saber se sairá do papel, mesmo tendo a China na parceria. Os valores envolvidos, os desafios de engenharia e os desafios ambientais são enormes. Apesar disso tudo, é muito importante que o Espírito Santo, que deseja se consolidar como plataforma logística para o Brasil, abra bem o olho. Alguns pontos merecem atenção.

No site da Infra S.A. - empresa pública federal de planejamento e estruturação de projetos para o setor de transportes e que está na elaboração da transoceânica junto com o Instituto de Planejamento e Pesquisa Econômica da China State Railway Group - ainda consta o esboço de uma ferrovia (a Transcontinental) entre o Peru e o Porto de Açu (a ideia não é nova), que é um dos maiores portos do país em operação. Fica no Norte do Rio de Janeiro, a cerca de 30 quilômetros da divisa com o Espírito Santo e do Porto Central, em Presidente Kennedy, que está começando a sair do papel. Entre Mato Grosso e o Peru o plano é o mesmo, o que muda é de Mato Grosso para o litoral brasileiro. No novo projeto a conexão é com a Fiol, que irá (ainda não está pronta) até Ilhéus, que abriga, ao contrário de Açu, um terminal, digamos, bastante precário.

Em 2023, de acordo com a Codeba (Codesa da Bahia), o Porto de Ilhéus movimentou 556,5 mil toneladas. O maior desde 2008. Para efeito de comparação, o criticado Porto de Vitória, em 2024, movimentou 8,4 milhões de toneladas, ou seja, quinze vezes mais que o terminal baiano.

Claro que muita coisa está acontecendo e estamos falando de um projeto de longo prazo, mas, olhando para o mapa ferroviário e portuário do Brasil, o Espírito Santo precisa brigar para não ficar isolado entre a malha ferroviária e os portos do eixo Rio/São Paulo e o complexo que está se desenhando a partir do litoral da Bahia.

A Ferrovia Centro Atlântica (FCA), cuja renovação antecipada com a atual concessionária, a VLI Logística, está sendo negociada neste momento pelo governo federal, precisa ser mais eficiente para ter capacidade de trazer mais cargas do Brasil Central para os portos capixabas. Mas, na avaliação de vários especialistas e empresários ouvidos pela coluna, está longe de bastar. "É importante melhorar a FCA, sem dúvida, mas a carga do Brasil Central vai continuar chegando aqui pela Vitória-Minas (as estruturas se conectam na Região Metropolitana de Belo Horizonte), que é da Vale. A Vale não é uma empresa de logística, mas de mineração, está preocupada com o seu negócio. A Vale é uma indústria extremamente importante para o Espírito Santo, mas, do lado da movimentação de outras cargas, pode atrapalhar o projeto do Estado enquanto plataforma logística. É uma equação complexa, basta olhar para a história", disse um empresário.  

Uma outra ferrovia, a EF 118, o Arco Ferroviário Sudeste, ligando Vitória ao Rio de Janeiro, é uma alternativa de conexão ferroviária para o Espírito Santo fora da Vitória-Minas. É estratégica, está no planejamento de curto prazo do governo federal (o leilão está previsto para 2026), faz a conexão de dez portos, mas vai rumo ao Sul e não ao Centro do país.

É interessante passar a olhar para os projetos privados, que começaram a andar (uns mais e outros menos) a partir do Marco das Ferrovias, de 2021. No Estado, o mais adiantado deles, ainda no campo da papelada da burocracia, é bom dizer, é o da EF 352, batizada de Ferrovia Ministro Alysson Paolinelli (ministro da Agricultura do governo Ernesto Geisel, considerado um dos responsáveis pela modernização do agronegócio brasileiro). Sairá do Porto Central e irá até Anápolis (GO), onde vai se conectar na Ferrovia Norte-Sul, que por sua vez, se conectará à estrutura que está sendo pensada por China e Brasil... Há investidores interessados no projeto que é tocado pela Macro Investimentos. Nada é simples, nem a transoceânica, mas há coisas acontecendo.

Importante sempre lembrar que alguns dos principais projetos portuários do país - Porto da Imetame, Porto Central, ampliação de Portocel e Vports em Barra do Riacho -, estão no Espírito Santo. Imetame tem inauguração prevista para meados de 2026. Portanto, sobram argumentos para o Estado, afinal, dentro do campo da racionalidade, não há porto sem ferrovia e nem ferrovia sem porto.

Mas, como nem tudo se dá dentro da racionalidade, é importante o Espírito Santo estar muito atento.

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