Trem de carga da Vale transportando minério na ferrovia Vitória x Minas, em Serra, ES.
Trem de carga da Vale transportando minério na ferrovia Vitória x Minas, em Serra, ES. Crédito: Vitor Jubini

ES busca nos trilhos de novas ferrovias a direção para crescer

Após aprovar a renovação da Vitória a Minas e garantir ramal entre Anchieta e Cariacica, Estado quer mais linhas de ferro cortando o território capixaba

Vitória
Publicado em 03/12/2020 às 02h00

Situado em uma região que o coloca em localização propícia para o escoamento de mercadorias de todo o país, o Espírito Santo lida ainda com alguns gargalos de infraestrutura logística que carecem de uma resolução breve, de modo que o desenvolvimento tenha um ritmo mais constante.

A aposta da vez está nas estradas de ferro, que podem traçar para o Estado uma nova fase, com expansão da indústria, criação de empregos e renda, e, também, maior fluxo de turistas.

Um dos avanços mais imediatos nesse sentido é a renovação antecipada da concessão da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) pela mineradora Vale.

Com esse acordo, o Estado deve receber investimentos da ordem de R$ 4,5 bilhões para melhoria da infraestrutura da atual malha férrea e de localidades próximas. Até Minas, a mineradora deve investir R$ 8,5 bilhões nessa linha de ferro.

R$ 4,5 bilhões

É o valor que a Vale vai investir na modernização da Estrada de Ferro Vitória a Minas no Estado

As mudanças devem facilitar, por exemplo, o escoamento de cargas pelo porto que será construído pela Imetame, em Aracruz, uma vez que o ramal ferroviário segue até Barra do Riacho, onde o complexo portuário será instalado.

O acordo trará ainda como contrapartida a construção da primeira etapa da Ferrovia Vitória-Rio (EF 118) e a elaboração do projeto executivo de toda estrutura até a capital do Rio de Janeiro. A princípio, a obra já acordada, vai interligar os portos de Tubarão e Vitória ao de Ubu, da Samarco, em Anchieta.

A obra, segundo o ministro da InfraestruturaTarcísio de Freitas, deve começar em 2022 com a finalização, pela Vale, do modelo de construção e com a liberação das licenças ambientais. A partir disso, a ferrovia deve ser leiloada para ser concedida à iniciativa privada.

Na primeira fase da EF 118, o trecho entre Cariacica e Anchieta a ser construído será de 72 km. Com a liberação do projeto, será preciso realizar ainda os licenciamentos ambientais, as desapropriações e, finalmente, a contratação de mão de obra.

Ainda assim, a previsão é de que o empreendimento comece a operar em até dois anos, segundo o ministro. O investimento será de, aproximadamente, R$ 2,5 bilhões.

A ferrovia poderá beneficiar empresas que trabalham com madeira, celulose, cerâmica, petróleo e gás, granito, café, frutas em geral, entre outros produtos, conforme destacou o secretário de Estado de Desenvolvimento, Marcos Kneip Navarro.

Nessa etapa, com a entrada do ramal em operação, a maior beneficiada será a Samarco, que ficou sem operar desde 2015 com o rompimento da Barragem em Mariana, Minas Gerais. Sem ter como enviar minério para o Espírito Santo, com o fechamento das minas, a empresa levou cinco anos para se preparar para o retorno.

“A ferrovia poderá transportar também o minério de ferro, por exemplo, e tirar a dependência da Samarco ao mineroduto. Para se ter ideia, se o ramal existisse na época da tragédia, a empresa não teria parado. O minério poderia ter sido levado pela ferrovia, para ser processado. As licenças no Espírito Santo nunca foram cassadas.”

A conexão também reforça a logística para outro projeto que a Vale tem em estudo. Com a ferrovia, a companhia poderia levar as pelotas de Tubarão – onde está o seu maior complexo pelotizador – para Anchieta, viabilizando a instalação da fábrica de HBI, que é um produto à base de minério de ferro com maior valor agregado.

Também há outros corredores ferroviários em estudo, que têm o Espírito Santo como rota central e podem contribuir para que o Estado se destaque como um grande polo do comércio exterior.

O contrato a ser assinado pela Vale também deve estabelecer a construção da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico) entre Mara Rosa (GO) e Água Boa (MT) – um investimento de mais R$ 2,7 bilhões.

A Fico seria um dos primeiros trechos da chamada Ferrovia Transoceânica, um projeto que busca conectar o Oceano Atlântico, no litoral brasileiro, ao Oceano Pacífico, na costa peruana.

Luis Claudio Santana Montenegro vai assumir a coordenação dos conselhos temáticos da Findes
Luis Claudio Santana Montenegro vai assumir a coordenação dos conselhos temáticos da Findes. Crédito: Edson Chagas/Arquivo

Luis Claudio Montenegro

Executivo da Findes para a área de defesa de interesses

"A Transoceânica viria desde o Pacífico, até chegar ao litoral brasileiro. Nesse percurso, um dos trechos seria a Fico. Nada impediria que uma conexão fosse feita até o Espírito Santo. É o melhor lugar para se chegar, vindo pelo litoral”, observou o executivo da Findes para a área de defesa de interesses"

Investimentos na Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) – que se conecta à Estrada de Ferro Vitória a Minas – também são considerados estratégicos para melhorar a conexão dos portos do Espírito Santo com os demais Estados do Corredor Centro-Leste: Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Minas Gerais.

“A malha férrea passa pela região da Serra do Tigre, que apresenta um traçado bastante inclinado, e limita as operações. Por causa dessa inclinação, gasta-se mais combustível para percorrer a área, e o transporte rodoviário fica mais caro, o que é desinteressante para o mercado”, frisou o executivo da Findes.

Nesse sentido, há uma pressão pela implantação do Contorno da Serra do Tigre, um novo trecho ferroviário, com extensão estimada de 450 km entre Patrocínio (MG) e Sete Lagoas (MG), que acabaria com esse gargalo e atrairia mais cargas para o Espírito Santo. A proposta é de que o contorno seja executado com recursos de outorga da renovação da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA).

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