Publicado em 24 de dezembro de 2020 às 10:21
A oito dias de assumir a Prefeitura de Vitória, o prefeito eleito, Lorenzo Pazolini (Republicanos), vê "gravidade" na situação fiscal e orçamentária do município. Um dos motivos é que a cidade pode ficar sem receber transferências de recursos do Estado e da União, por não ter aprovado a reforma da Previdência municipal. Além disso, afirma que, na reta final da atual gestão, têm sido firmados contratos milionários, que podem onerar a administração, e sobre os quais não foi avisado. >
Outra questão apontada é que em 2021 o município terá uma baixa capacidade de investimentos com recursos próprios, pois serão cerca de R$ 100 milhões, em um orçamento de R$ 2 bilhões. Para fazer frente à situação, confirmou como uma de suas primeiras medidas na prefeitura um corte nos gastos com custeio (são despesas correntes, do dia a dia), mas ainda não diz o tamanho do corte.>
As declarações foram dadas na quarta-feira (23), durante o anúncio de novos nomes para o secretariado, entre eles, o segundo nome de sua equipe econômica: o empresário Aridelmo Teixeira (Novo), que será secretário da Fazenda. Na semana passada, Pazolini anunciou o economista Regis Mattos como secretário de Gestão e Planejamento. Os dois são nomes ligados ao ex-governador Paulo Hartung (sem partido).>
O prefeito eleito destacou que nos últimos dias o Tribunal de Contas do Estado (TCES) emitiu um alerta a sete municípios que não aprovaram a reforma da Previdência municipal, entre eles, Vitória. Por esta razão, no ano que vem a cidade não teria mais a certidão de regularidade previdenciária, o que a prejudica a receber recursos via repasses voluntários, como convênios, da União e do Estado. Essa é a regra geral, que foi estabelecida pelo governo federal.>
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"Aridelmo nos auxiliará em um momento difícil, em que a cidade atravessa um quadro preocupante. Vitória estará numa situação de impossibilidade de receber qualquer transferência voluntária, fica bloqueado. Seja pela União ou Estado. Então o primeiro desafio é regularizar a situação do município, já que a reforma da Previdência municipal não foi feita. Por isso eu disse da gravidade da situação fiscal e orçamentária", afirmou o prefeito eleito.>
Segundo o futuro secretário, sem essa certidão o Estado pode ficar sem receber o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que é transferido pelo governo federal, e também qualquer convênio, empréstimo ou aval.>
A Capital tem um Regime Próprio de Previdência Social para servidores (RPPS) e precisará fazer adequações em suas normas, conforme determina a reforma da Previdência aprovada no Congresso Nacional. Uma das principais mudanças está relacionada ao aumento da alíquota de contribuição dos trabalhadores para 14%. O projeto de lei de reforma da Previdência foi encaminhado pelo prefeito à Câmara de Vitória, que rejeitou a proposta.>
Embora a regra do governo federal estabeleça que o prazo para as adequações obrigatórias termina em 31 de dezembro de 2020, e que se não for feito no referido prazo o município fica inadimplente com a União até conseguir se adequar, o município de Vitória está com o Certificado de Regularidade Previdenciária ativo, expedido em 3 de novembro de 2020 e com validade até 2 de maio de 2021, de acordo com o Sistema de Informações dos Regimes Públicos de Previdência Social (CADPREV).>
"A renovação após maio de 2021 depende da aprovação da reforma previdenciária, que só pode ser reapresentada à Câmara de Vitória a partir do dia 1º de janeiro de 2021", informou, por nota, a Prefeitura de Vitória.>
Em 2020, Vitória recuperou a nota A em gestão fiscal do Tesouro Nacional, conforme relatório divulgado pela pasta, vinculada ao Ministério da Economia. A classificação é o selo máximo do Tesouro. No ano passado, a Capital capixaba obteve a nota B.>
Após algumas semanas de uma aparente transição amigável em Vitória, de poucas críticas à atual gestão e com uma reunião presencial entre Pazolini e o atual prefeito, Luciano Rezende (Cidadania), nesta quarta-feira o prefeito eleito relatou preocupação com uma série de novos contratos que estão sendo assinados pela atual gestão "no apagar das luzes". >
"Nas últimas três semanas, houve uma série de renovações, publicações, contratos, que necessitarão de uma apuração com lupa por nossa equipe. A equipe de transição identificou um volume excessivo. Alguns deles dizem respeito a adesão a ata de registro de preço e outros até a dispensa de licitação", destacou Pazolini.>
Segundo ele, há contratos para a área de educação e de tecnologia da informação, por exemplo. >
"O que nos chama a atenção é por ser o final da gestão, no apagar das luzes, que não parece haver nenhuma situação emergencial, além da saúde. A assinatura desses contratos, pela forma como se deu, sem diálogo com a equipe de transição, nos chamou bastante a atenção. Havia, de nossa parte, uma disponibilidade para o diálogo e foi pactuado entre as duas equipes de transição que não haveria nenhum tipo de surpresa", complementou.>
Uma das primeiras providências para a gestão fiscal em 2021 já foi tomada, que foi a aprovação de uma emenda ao Orçamento, na Câmara Municipal, que aumentou a reserva de contingência para o prefeito, deixando o valor em R$ 17 milhões. A reserva de contingência é uma espécie de "folga"que o Poder Executivo costuma deixar no orçamento para poder usar em caso de emergência financeira. >
O dinheiro serve como uma "poupança" para amortizar possíveis riscos ao orçamento, como uma mudança repentina na economia, por exemplo. Para isso, sete secretarias perderam parte de seus recursos: a de Meio Ambiente, a Central de Serviços, Transportes, Esportes, Planejamento, Companhia de Desenvolvimento e Fazenda. >
A realocação feita também exigirá que a gestão faça alguns cortes, a começar pelo custeio, que são as despesas do funcionamento da administração, como energia, água e materiais de consumo. >
Segundo o prefeito eleito, os cortes serão anunciados nos primeiros dias de governo, possivelmente por decretos de contingenciamento. Também há a possibilidade de cortes na despesa com pessoal, em cargos comissionados, por exemplo. "Só não queremos afetar as áreas sociais. Nos primeiros dias, vamos apresentar de onde vamos tirar e economizar para ter essa reserva de contingência", destacou Pazolini.>
Pazolini anuncia secretários para a Prefeitura de Vitória
A Prefeitura de Vitória foi procurada, e esclareceu, por nota, que "apesar de ter passado por uma situação crítica pós-Fundap, que resultou em uma perda na ordem de quase R$ 1 bilhão de reais entre os anos de 2014 e 2017, manteve seu equilíbrio fiscal, guardando a adequada relação entre a receita e a despesa pública, com todos os pagamentos em dia e cumprindo todos os seus compromissos".>
Citou como exemplo o resultado positivo alcançado ao final do ano de 2019, em que o fechamento apontou saldo financeiro de cerca de R$ 141,2 milhões de reais, além de ter obtido a nota "A" dada pelo Tesouro Nacional.>
"Tal resultado inclusive foi fundamental para que a capital atravessasse os desafios do ano da pandemia, mantendo regularmente a qualidade dos serviços prestados à população", pontua a nota.>
A administração de Luciano Rezende também destacou que para o ano de 2021 a previsão é que sejam deixados para aplicação na próxima gestão um valor superior a R$ 100 milhões de reais, que poderão ser utilizados na forma que a gestão definir.>
Sobre o baixo índice disponível para investimentos, apontado pela equipe de Pazolini, a prefeitura ressaltou que o orçamento de R$ 2 bilhões é composto por todas as receitas do município, sendo que cerca de R$ 1 bilhão aproximadamente a metade do orçamento é composto de valores com vinculação específica, ou seja, que são destinados obrigatoriamente por lei, inclusive para custear os serviços de saúde e educação.>
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