Publicado em 6 de setembro de 2020 às 20:53
"É como dizem, quem não é visto não é lembrado, não é?", diz, em tom de brincadeira, Lucas Neto (Cidadania). Pela primeira vez pleiteando uma cadeira na Câmara municipal de Guarapari, o pré-candidato enquadra sua participação em eventos virtuais da igreja como uma forma de manter o nome fresco na memória dos fiéis. >
Ele sempre foi ativo na comunidade católica e garante que sua presença nas novenas ocorreria mesmo sem campanha. Admite, porém, que intensificou a participação para não perder o contato com amigos e conhecidos da comunidade.>
No Norte do Estado, o professor de Sociologia e pré-candidato a vereador de Linhares Antônio César Machado (PV) encontrou na disciplina que leciona a oportunidade de levantar o debate político e apresentar suas bandeiras para eleitores. >
Utilizando plataformas como o Zoom, o professor, que também vai concorrer pela primeira vez, organiza grupos de estudo para ensinar e debater temas como cidadania e participação política. A iniciativa resultou em um evento acadêmico virtual para discutir a elaboração de políticas públicas voltadas para a realidade do município. A ideia, segundo ele, é "engajar os eleitores" e combater a imagem ruim dos políticos.>
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"Algumas estratégias são importantes, mantendo o respeito a lei. Sempre evitando impulsionamento e pedido de voto, aspectos que não são permitidos, tenho procurado levantar debate sobre alguns pontos específicos, porque minha disciplina é Sociologia. É uma forma que tenho de contato para buscar mais visibilidade", disse. >
O que esses dois pré-candidatos de partidos e municípios diferentes têm em comum, assim como os demais pré-candidatos neste pleito, é a necessidade de se conectar com eleitores sem a possibilidade do corpo a corpo, tão tradicional em ano de eleições municipais. >
Pela legislação eleitoral, ninguém pode pedir voto até o dia 26 de setembro, mas é comum que até o início "oficial" da campanha, os pré-candidatos organizem ações para interagir com eleitores e tornar seus rostos e nomes conhecidos. Em pleitos municipais, proximidade é ainda mais importante. >
Lucas Neto
Pré-candidato a vereador de GuarapariA mudança no perfil da campanha já ocorria em anos anteriores. As eleições de 2018 já foram marcadas por um peso decisivo da campanha nas redes sociais. O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), por exemplo, foi eleito com poucos segundos de propaganda em TV e um investimento forte na campanha virtual. >
Como apontou o pré-candidato de Guarapari, o comportamento do eleitor é diferente em campanhas municipais. A luta para angariar os votos é travada nas feiras, nas casas de líderes comunitários e em celebrações de igrejas. Sem poder "apertar a mão" de cada fiel ao final da missa, o pré-candidato dá aulas de liturgia e reza terços virtualmente com os companheiros de fé, que também são eleitores.>
Cada um vai "caçar com as armas que tem". No Instagram, as lives, que no início da pandemia foram uma febre, já se tornaram comuns. Muitos pré-candidatos têm usado o recurso para interagir com os seguidores e mostrar que têm o apoio de nomes importantes da política local e nacional. >
Miguel Intra (PT), que quer ser vereador na Capital, tenta explorar mais a ferramenta. Em sua conta criou diferentes "quadros" para incentivar o engajamento dos seguidores e atrair diferentes tipos de público. Em um deles, "Miguel Indica", o petista publica, aos sábados, indicações de trabalhos musicais capixabas e documentários e livros com viés ideológicos.>
Semanalmente, o pré-candidato investe em um quadro de perguntas e respostas, onde abre espaço para que os seguidores tirem dúvidas sobre seus posicionamentos políticos e a construção de sua pré-candidatura. "Os quadros foram pensados para dialogar com o público. Esse foi essencial porque a gente abre um papo com a sociedade, tomando um cafézinho na casa da pessoa", afirmou.>
Alguns pré-candidatos apostam em sites para atrair apoiadores e até recrutar "cabos eleitorais" voluntários. Outros criam movimentos para dialogar com grupos específicos e teve até lançamento de pré-candidatura em drive-thru: O deputado estadual Lorenzo Pazolini (Republicanos), que é pré-candidato a prefeito em Vitória, organizou um evento em que as pessoas passavam pelo local e, de dentro de seus carros, deixavam sugestões e ideias para compor seu plano de governo. Os planos de governo, também, tem sido construídos e apresentados ao público sem uma reunião presencial sequer.>
O WhatsApp, presente no dia a dia dos eleitores, vira palco para os postulantes aos cargos em disputa neste ano. Políticos criaram listas de transmissão para que eleitores recebam mensagens diárias, muitas vezes sem ligação com a pré-campanha, apenas para "serem lembrados". Outros criaram diversos grupos na plataforma para dialogar com bairros diferentes. >
As iniciativas têm se multiplicado e exigido criatividade, principalmente dos novatos, para se destacar. A tendência é que os nomes confirmados para a corrida após as convenções, que acontecem até o dia 16, busquem mais inovação, uma vez que a disputa deve se acirrar ainda mais a partir do dia 27 quando a campanha, de fato, começar.>
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